sexta-feira, 26 de março de 2010

Károly Kadet (1923-2010)

Nasceu a 14 de Janeiro de 1923 no Reino da Hungria, um país recentemente independente porém isolado devido à desanexação forçada da Áustria como consequência da derrota na primeira Guerra Mundial.
A Grande Hungria foi tornada pequena e o povo não se conformava, como nunca se conformou até hoje. Károly nasceu exactamente nessa época conturbada, numa sociedade insatisfeita e deprimida, onde a ansiedade pela revolta era uma constante.
O Anjo Gabriel, o principal dos anjos e aquele que protege os húngaros, sentiu maior e excepcional compaixão por este ser em idade jovem, pois foi incapaz amparar tantos outros, todos os obrigados a defender a pátria, uma maioria a tombar por ela.
O desenrolar da segunda Grande Guerra fez da Hungria aliada da Alemanha e a mocidade foi levada para as frentes de batalha, às invasões da Jugoslávia e também da Rússia.
Após sucessivas derrotas, já perto do final da guerra centenas de combatentes húngaros acabaram incorporados no que restava das forças alemãs, a Wermacht, por colapso do seu próprio exército, o Magyar Honvédség.
Károly e outros camaradas acabaram capturados pelos americanos em solo austríaco. Valeu-lhe essa sorte, pois foi em França que permaneceu uma longa temporada como prisioneiro e não na Sibéria, escapou portanto ao pior. Durante a sua ausência, isto é nesse entretanto, a Hungria foi transformada em república e logo numa república popular.
Károly Kadet estudou economia e nessa qualidade dedicou toda a sua vida de trabalho ao serviço do banco nacional, o Magyar Nemzeti Bank. Num sistema socialista era precisamente o banco nacional que fomentava em exclusivo o desenvolvimento industrial e agrícola, ou seja uma só instituição retinha poupanças e proporcionalmente emprestava em circuito fechado e controlado pelo Estado.
A propósito dessa actividade e função do banco central, Károly Kadet escreveu o livro “Financiamento de investimentos industriais” (Iparvállalati beruházások finanszírozása és működtetése), muito antes da liberalização dos sistemas bancários e ainda fora dessa lógica.
Já estava reformado do banco quando assistiu ao fim da república popular e à instituição da República da Hungria (Magyar Köztársaság), ao fim do socialismo e subsequente inauguração de um regime multipartidário, vulgo democrático.
Károly casou e teve duas filhas, conheceu os quatro netos e já em viúvo os três bisnetos.
Árpad Zsolt chegou portanto a privar com o bisavô e não por mero acaso.
No início de 2006 foi uma honra conhecer pessoalmente Károly Kadet. Mesmo sem verbalizar o mesmo idioma, a admiração surgiu no imediato primeiro momento e foi uma constante até ao dia de hoje.
A convivência regular, por via de laços familiares entretanto criados, levou a naturais influências; Se por um lado Károly visitou Portugal nesse mesmo ano a convite e propósito de amizade, por outro foi anda oportuna a partilha de algo da sua experiência e sabedoria com quem se mostrou interessado sempre. Com essa demonstração veio uma definição esclarecida e muito personalizada sobre a tangibilidade de certos activos, principalmente no tocante a metais nobres, a distinção entre coleccionismo e o aforro garantido.
Conforme já havia experimentado anteriormente, com sublime inteligência, Karóly adiantou-se ao presente, resolvendo no fim o que sabia ser importante deixando para trás o acessório, antes que fosse demasiado tarde. A idade tem mistérios que somente desvenda quem ela atinge.
O Senhor Károly Kadet partiu sereno e sem sofrimento, por iniciativa própria, no dia 13 de Março de 2010.