quarta-feira, 30 de abril de 2008
A Gyulai vár (2)
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Vénusz hercegnő
terça-feira, 22 de abril de 2008
Duna & Budapest
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Vejo-te nua
sábado, 19 de abril de 2008
Kecskemét
terça-feira, 15 de abril de 2008
Aveiro
Aveiro em Março é mais preciosa, onde toda a harmonia que a natureza entregou a S. Jacinto, de areias finas a salinas brancas, de enguias em caldeirada ou dôces de um amarelo cristalino e espesso, desde o século XV é relembrada ao povo que da arte somente sabe que a sente.
De Buga ou a pé, as quatro estações do ano podem sentir-se no mesmo dia e na mesma rua, enquanto a azulejaria tradicional portuguesa se conforma num envolvimento urbano único.
domingo, 13 de abril de 2008
Porto sentido
Para desanuviar as consumições domésticas, passava os serões no café Nasoni, ali à beira da Sé, uma enxovia de borrachos mas que à meia-hora servia tripas para fora ou então umas francesinhas de categoria, as melhores do Porto e Gaia.
Amigo jurado e companheiro mirolha de presenças no Dragão, Armando era um eterno embufado por razões idênticas a Arnaldo e nem sequer o facto de este ser môina e apresentar corpo em casa, não passava de um azeiteiro fácil de calcar por Alzira, companheira desde sempre, caga-tacos mas fiúza.
Arnaldo e Armando competiam no calote aos finos do Nasoni a par de se entreterem a mandar priscas e sameiras para as sardinheiras de Amândia, a taberneira, quarentona vistosa de um louro em toutiço pintado quase até à raiz, saia curta e meias com foguetes interrompidos a verniz.
Certa vez, por via do álcool ou de tanto ressentimento derivado de fartura às lôstras e pisaduras caseiras, estes dois touços acederam de inventar assaltos perfeitos, mudar de vida para melhor, julgavam. Amândia ouviu-lhes os planos, mas era mulher de confiança sem risco de chibar, que lhe interessava a capacidade dos clientes para inverter o fiado, não importava como.
Decidiram em grande, uma moradia da foz, junto à praça do Império, que Armando sabia, por acidente profissional ter alarme avariado e riquezas bastantes para subtrair.
O Fiat Uno preto de Armando estacionou na bouça das traseiras, saltaram o muro, calcaram as hidrângeas do jardim e introduziram-se pela janela pequenina aberta de um quarto de banho.
Tiveram tempo para inclusivé se confortarem com uma refeição por conta dos proprietários ausentes, um estrugido de cebola com ciclistas na sertã e guarnecido com penca cozida à falta de carne. Mas ainda havia na cozinha meia dúzia de tigelinhas e uns quantos magnórios do quintal, que serviram de sobremesa rematada por um cimbalino tirado em máquina eléctrica para o Arnaldo, e um pingo para o Armando.
Para além de uma volta de ouro e um aguça em prata, o melhor e mais fino que entrou nas sacas de serapilheira deste par de artistas foi um chuço de marca italiana, uns carapins ainda embalados, alguns casacos de cabedal sacados às cruzetas dos roupeiros, dois pares de coturnos de marca, e uma caixa pesada com sabe-se lá o quê dentro e que não deu para abrir por causa de um aloquete.
A fuga, se a vagareza do crime pode conter esta definição, foi atribulada, o doberman que impávido assistiu à entrada, estancava agora de olhar fixo frente à janela, espumando pelas beiças e preparando o ataque para o qual foi treinado.
Arnaldo e Armando começaram por tentar distrair o bicho com o arremesso de catotas, à distância obviamente, depois levando mais a sério o assunto, o animal recebeu uma saraivada de objectos diversos, um apanhador, um alguidar e uma bacia voaram seguidos de uma meia-dúzia de bijús sêcos e por fim um testo, enviesado, parecia um disco, certeiro nas vistas do animal que de imediato tombou, que se notava o focinho assim como que ourado e impedido de ferrar, obra de Arnaldo.
A dupla bufava de alívio e enquanto o canídeo se dispunha a espilrar a saliva entalada no gasganete e tendo a sua atenção desviada da janelita da entrada que agora serviria de saída, ambos se escapuliram tão fácilmente como entraram, excepto as sacas que trilharam e num esforço de repuxo que esbotenou o aro, rasgou uma delas, precisamente a que continha a volta de ouro que se perdeu escorregada para o bueiro do quintal.
Num ápice levado pelo mêdo e contornado de má sorte, Arnaldo e Armando encerraram o golpe perfeito com um abandono acelerado e desvairado, descendo a Avenida da Boavista pelas faixas centrais agora renovadas, contornando o Castelo do Queijo e estacionando por fim tão perto do local do crime mas sem se aperceberem.
As sacas ficaram na mala do Fiat Uno, excepto a caixa do aloquete, que foi aberta na esplanada do café da Praia da Luz, num amanhecer acompanhado de bolinhos de bacalhau e dois finos. A caixa não era de Pandora, mas uma espécie de chaveiro onde o acesso a imensos armazéns de Vila Nova de Gaia estava assim garantido, códigos de alarme e tudo.
Arnaldo e Armando sorriram de imaginar a fortuna e a sorte do seu achado, não tendo de imediato em conta de que caves de vinhos do Porto não se assaltam com sacas de serapilheira.