Quando o tempo deixa de passar devagar e passa a imensurável, as questões existenciais esvanecem-se e o pensamento do indivíduo transforma-se ou torna-se mais propenso à concentração nos detalhes, observação e análise dos pormenores.
Era comum entrar e sair do mercado ou simplesmente estacionar à porta para cambiar dólares por maços gordos de kwanzas, bilhetes de 1000 normalmente, idênticos aos outros na imagem emparelhada de Eduardo e Agostinho, diferentes somente na côr, estes de um amarelo-pardo encardido. Outras vezes a comprar tabaco, invariávelmente em volumes tendo em conta o preço irrisório de cada unidade ou somente para encontrar frutas e legumes, a preço bem mais caro que no Tchissindo, mas logo ali à porta.
Certos dias havia, sabe-se lá como, coxas de frango e carapaus meio congelados, também peixe de rio sêco, cabeças de caprinos e galináceos. Mas a confiança, essa continuava depositada nos chouriços em lata da Sicasal, nas salsichas da Nobre e enlatados de atum das conserveiras lusitanas do costume.
Imagem captada em 2004 na cidade do Kuíto (antiga Silva Porto), Província do Bié, Angola.