quarta-feira, 30 de maio de 2007

Bertold Brecht

Bertolt Brecht (Augsburg 1898 - Berlim 1956) Dramaturgo, poeta e encenador.
Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes
são os imprescindíveis

segunda-feira, 28 de maio de 2007

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Oceanário de Lisboa

O Oceanário de Lisboa é daquelas coisas que tem sentido de existir. É pena que os preços aplicados não facilitem o acesso a todas as famílias, também é pena que o Aquário Vasco da Gama no Dafundo tenha sido atirado para o esquecimento por consequência (O “Aquário” é um museu administrado pela Marinha Portuguesa desde 1901, com milhares de peças expostas e mais de cem anos de história, onde realmente se aprende algo sobre o mar e espécies vivas, enquanto que o “Oceanário” é um espaço de exibição de animais vivos, tal qual um “jardim zoológico”, marinho e de alta tecnologia é certo).
O edifício do “Oceanário” tem um desenho extraordinário, que aliás não contrasta com esse espaço fabuloso que é o Parque das Nações, resultado inteligente da Expo 98, onde o orgulho e a vaidade nacional atingiram os píncaros...
A “zona da expo” é isto mesmo: Uma torre “especial de corrida”, desenhada por um estrangeiro de renome, uma estação ferroviária com características, dizem, extraordinárias (ventosa como tudo, mas que tem pinta, lá isso tem), uma espécie de coliseu coberto feito de materiais vindos lá da Escandinávia e com aspecto de “Tólan naufragado” (porém muito parecido com o Puskas Stadium de Budapest) , uma zona de restauração com dignidade e limpeza, jardins do tipo tropical e insular, uma avenida de postes carregados de bandeiras, lagos e fontanários, um teleférico e uma vista soberba sobre o Tejo sem esquecer aquela magnífica ponte de 17,2 km de comprimento, afinal ainda a maior da Europa.
Não tem mal nenhum nisso, há que ser vaidoso, que na Exposição do Mundo Português também o foram os nossos antepassados, resultou então naquela belíssima Praça do Império, Monumento aos descobrimentos (Padrão definitivo em pedra somente nos anos 60), Museu de arte popular e Aeroporto da Portela.
Ainda sobre o “Oceanário”, ali se encontram animais voadores e nadadores, pássaros, peixes e mamíferos que gostam sobretudo de banhos. Os depósitos de água gigantes são realmente uma obra de arte, onde se juntaram amigavelmente exemplares do tipo selachimorpha (tubarões) com outros da ordem bathoidea (raias ou jamantas) e tantos outros que ora grandes ou pequenos, raros e comuns, excepto a infeliz sardinha que só serve de alimento ao casal de lontras-marinhas (fadista e futebolista, caso sério para sábios do tipo Vasco Santana, seguramente perante uma bi-lontra, dupla de animais anfíbios) e suas crias.

terça-feira, 22 de maio de 2007

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Segesvár

Vlad II foi um Cavaleiro da Ordem do Dragão, ordenado pelo Sacro Imperador Romano-Germânico, Sigismund da Casa de Luxemburgo, (Soberano da Germânia, Hungria e Boémia) no ano de 1431. A Ordem do Dragão foi uma instituição católica criada para impedir a invasão dos Turcos otomanos na Europa oriental. Na língua romena, o sufixo "ea" indica um filho. Portanto, Vlad III, sendo filho de Vlad Dracul, passou a ser chamado "Draculea", ou seja "Filho do Dragão".
Vlad III, foi Voivoda (príncipe) da Valáquia em 1448, de 1456 a 1462 e em 1472 e nasceu em Segesvár (Sighişoara em romeno, Schäßburg em alemão) no ano de 1431. A sua casa ainda está de pé nos dias de hoje, localizada numa zona próspera de habitações dos mercadores Saxões e Magyares, e pelas casas dos nobres.
Fora da Roménia, o Voivoda tornou-se conhecido por contos que exageram suas atrocidades contra inimigos, sendo que muitos dos actos que lhe estão atribuídos são de veracidade duvidosa. Alguns sustentam que essas lendas teriam inspirado o escritor Bram Stoker a criar seu famoso personagem, o Conde do romance Drácula. Sendo verdade que tratava os seus súbditos com preversidade e os seus inimigos com extrema crueldade, o Voivoda tinha o hábito de empalar os inimigos, atravessando-os com uma estaca de madeira. O número de mortos chegaria às dezenas de milhar. Por causa disso, Vlad III ganhou ainda outro nome: Vlad Ţepeş (Tsepesh), "O Empalador". Outra lenda a seu respeito teria surgido depois da invasão (recuperação territorial) da Valáquia pela Hungria, em 1447. Nessa ocasião, Vlad II e seu filho mais velho, Mircea, foram assassinados. Em 1456, Vlad III retornou à região e retomou controle das terras, assumindo novamente o trono da Valáquia. Esse retorno tardio de Vlad III teria confundido os moradores da região, que pensaram ser Vlad II retornando anos depois de sua morte. Isso teria ajudado a criar a lenda de sua imortalidade.
Em 1462, Vlad III perdeu o trono para seu irmão Radu, que havia se aliado aos turcos. Preso na Hungria até 1474, Vlad III morreu dois anos depois, ainda tentando recuperar o trono da Valáquia. A Valáquia era um território integrado na Transilvânia (Erdélyi para os Húngaros). Desde a ocupação Húngara do século X, este território sofreu invasões, nomeadamente por parte dos Mongóis e dos Turcos (século XV). Posteriormente recuperado definitivamente pelos poderosos exércitos do Império Austro-Húngaro. A história da soberania, independência e dependência da Valáquia aos Húngaros, Otomanos e Austro-Húngaros é tudo menos honrosa. Os dignatários deste trono geriram a sua permanência com base em alianças oportunistas com o inimigo/amigo mais forte, ou seja um historial de traição, subjugação e exílios constantes. É digno de nota que os menos tolerantes a este “jogo” sempre foram os Húngaros (relevo para as batalhas travadas pelos soberanos Mathyas Hunyadi e János Hunyadi da ordem dos cristã “Cavaleiros brancos”) que ripostavam com grande violência e rancor à falta de lealdade persistente dos ducados transilvanos e da Valáquia pelas suas negociações de conveniência com Otomanos (recordar que a Hungria representava a fé católica e os Turcos a fé islâmica).
A postura que a monarquia Húngara sempre adoptou quanto à alienação territorial (quer por invasões de potências estrangeiras quer por movimentos independentistas), durante os seus mil anos de existência até ao primeiro quartel do século XX, foi invariavelmente determinada e intolerante, que resultou no que hoje está à vista, todos os seus vizinhos (excepto a Áustria e a Ucrânia), são países que outrora foram províncias da Hungria (Eslováquia, Eslovénia, Croácia, o norte da Sérvia e a Transilvânia, uma enorme parcela da Roménia). Isto tem uma explicação: A unidade nacional nunca existiu porque a Hungria era composta por diversas Nações dentro de um só Estado (principalmente povos eslavos e germânicos). Se a Monarquia impunha a supremacia do povo Magyar sobre os outros povos pelos meios da força, tornou-se óbvio e compreensível que esses povos nunca se tornaram apoiantes vigorosos dos Magyares quer nas guerras contra os Turcos, quer nas revoltas de independência da Hungria contra os Habsburgos da Áustria e muito menos na primeira guerra mundial (pois que na segunda guerra esses povos já eram os inimigos da Hungria).
A actualidade é aquela que se pode sentir, a Hungria tem um isolamento social e cultural, sem meios de força (condicionados pelas duas guerras mundiais onde se aliou aos eixos derrotados) fechou-se dentro do seu território com o mesmo sentido de superioridade e orgulho nacionalista de sempre, é rodeada por países (cinco deles co-membros da União Europeia) com quem não mantém relações saudáveis (recíprocas) diferentes das comerciais. Se o “Pacto de Varsóvia” não resultou numa aproximação amigável entre estes povos, dificilmente a “União Europeia” o conseguirá (se isso importa para essa instituição).
A paisagem da Transilvânia não é muito diferente da paisagem encontrada na Hungria. Predominantemente verde e de muita planície, a floresta pouco densa eleva-se suavemente nos Cárpatos, um sistema montanhoso de pouco esforço a transpor, não fosse a qualidade deplorável da estradas da Roménia, que inexoravelmente contrasta com a magnífica qualidade da rede de auto-estradas que a Hungria estabeleceu desde a sua capital até às fronteiras dos países vizinhos.
As cidades, bem como as vilas e aldeias da Transilvânia, mantêm um sistema de toponímia bilingue (Húngaro e Romeno), sendo que as pequenas povoações têm uma estrutura urbana muito similar às da Hungria, embora em muito pior estado e com autênticas aberrações arquitectónicas recentes (exemplo das casas de famílias ciganas).
O Magyar não é a língua oficial, mas uma larga percentagem da população mantém o idioma (que passa de pais para filhos) num estado corrente.
Segesvár fica a cerca de 175 quilómetros de Bucareste e a mais de 500 de Budapeste. O seu centro histórico é património classificado pela UNESCO. A torre do relógio construída em 1556, com os seus 64 metros de altura é a edificação mais emblemática desta pequena cidade que ainda preserva uma muralha de protecção ao casario de época medieval e também um espírito comercial moderado (que a clientela não abunda em paragens tão longínquas) sobre um Príncipe que nunca foi Conde nem Vampiro mas a farsa é afinal a razão de atracção turística.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Sopron

Nos tempos em que o Império Romano conquistou a Pannonia (região banhada pelo rio Danúbio, correspondente à parte ocidental da Hungria actual), cujas principais cidades eram Vindobona e Aquincum (Vienna e Buda respectivamente), a cidade Scarbantia existia no local onde hoje encontramos Sopron.
Na verdade, quando as tribos magyar ocuparam o território desde o seu longo percurso migratório (a nação húngara, ou magyar, tem origem na região dos Urales, onde hoje encontramos a zona fronteiriça da Rússia com o Cazaquistão, limite continental da Europa com a Ásia), a cidade de Scarbantia era apenas um conjunto de ruínas com alguns séculos, que a rota romana do âmbar já tinha desaparecido (rota comercial entre a costa do mar báltico e Aquileia, passando pelo centro da europa evitando os Alpes) e as constantes invasões bárbaras foram determinantes para o abandono do local.
Os húngaros decidiram no século XI restabelecer as muralhas romanas e fundar ali um castelo. Em meados do século XII a cidade então denominada de Suprun revelava uma importância estratégica fundamental em termos de definição territorial.
Em 1273, o Rei Otakar II da Boémia ocupou o castelo mantendo como reféns algumas crianças da nobreza local, o que não intimidou os habitantes da cidade prontamente abrindo os portões aos exércitos do Rei Ladislau IV da Hungria que restabeleceu a soberania, galardoando por fim a fidelidade do povo com a elevação da cidade ao estatuto de “cidade real livre” (os diferentes estatutos significavam diferentes regimes do sistema económico, fiscal e administrativo).
Em 1529 a cidade de Sopron foi saqueada pelos exércitos turcos (período das invasões otomanas) mas não consumaram a sua ocupação, razão que levou a um crescimento demográfico excepcional pois tornou-se uma cidade refúgio para as populações das regiões ocupadas.
Em 1676 um incêndio destruiu parcialmente o centro e deu lugar nas décadas seguintes à edificação de belos edifícios ao estilo barroco que hoje se podem apreciar.
No momento da decomposição do Império Austro-húngaro, os tratados de St. Germain (1919) e Trianon (1920) transferiaram para a posse administrativa da Austria quatro municípios húngaros, sendo um dos quais Sopron (composto na altura pela mesma cidade e oito povoações). Todavia, um referendo local efectuado em 14 de Dezembro de 1921 resultou na vontade do povo (65% dos votos) em pertencer ao estado Húngaro. Desde essa data a cidade passou a ser chamada de “A Hűség Városa” ou “Civitas Fidelissima” (cidade mais leal). Os restantes municípios permaneceram sob administração austríaca e formam actualmente o Estado federal com o nome Burgenland (assim se explica porque o compositor Franz Liszt nasceu Húngaro na vila Doborjan, mas o local do seu nascimento é na Áustria, vila de Raiding).
As ligações culturais e comerciais entre este município húngaro e o Estado federal austríaco vizinho são bastante estreitas pelo que se destaca a produção conjunta de vinhos brancos (kékfrancos) e vinhos tintos (Traminer ou Gewürztaminer em alemão), tendo em conta condições e clima similares, bem como a existência de uma clara manutenção institucional de um sistema bi-lingue nesta cidade de 56.394 habitantes que se identifica também na língua alemã por Ödenburg.
Para visitar Sopron desde Budapeste o melhor acesso é pela auto-estrada M1 em direcção a Viena, atalhando pela estrada nacional nº85 desde Győr (capital da província Győr-Moson-Sopron) que posteriormente entronca com a nº84 em Nagycenk. Nesse percurso merecerá a pena visitar em Nagycenk a estação ferroviária (museu de material rolante a céu aberto), o palácio-museu do século XVII pertencente à família Széchenyi e junto à estrada nacional nº84 é possível observar parte do lago Fertő (Neusiedlersee em alemão), parte integrante do parque nacional Fertő-Hanság, declarado pela UNESCO em 1979 como reserva da biosfera.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Pisa

Desde o colapso do Império Romano até à unificação monárquica a 17 de Março de 1861, a Itália experimentou migrações e invasões de povos de diversas origens bem como permaneceu em conflito constante entre diversas repúblicas, estados independentes e cidades-estado da península. A influência externa sobre alguns estados também foi relevante tanto no desenvolvimento como na manutenção de conflitos entre vizinhos (o caso de Nápoles, Sicília e Sardenha sob domínio do Império Austro-Húngaro).
Pisa, tal como Génova, Veneza e Amalfi foi uma república marítima, tendo conquistado os territórios de Sardenha, Córsega (aliada a Génova, controlando o mar Tirreno) no século XI e posteriormente as ilhas Baleares. O esplendor desta república aconteceu nos séculos XII e XIII até à derrota da sua frota naval pelos próprios Genoveses na batalha de Meloria no ano de 1284, de onde saiu debilitada no seu poder económico e controlo do Mediterrâneo ocidental, tendo perdido a independência já nos primórdios do século XV a favor de Florença, capital da Toscânia, mais precisamente no ano de 1406.
Há 20 séculos atrás, durante o Império Romano, Pisa encontrava-se a apenas 4 km de distância do mar, no estuário do rio Arno. O “Porto das maravilhas” em Pisa, foi o maior porto romano, igualmente importante como o porto de Ostia, perto de Roma. Actualmente esta cidade encontra-se a 17 km do litoral, facto explicado pela lenta mudança do curso do rio e a expansão da terra sobre o mar (escavações arqueológicas em terra vão encontrando dezenas de embarcações romanas perdidas outrora no fundo do mar, algumas delas intactas e com a carga que transportavam).
Os terrenos, pantanosos e instáveis explicam porque existem tantas construções inclinadas nesta comuna italiana, algumas das quais “afundaram” com o passar dos séculos, outras já “nasceram” desse modo.
A “Praça dos milagres”, património da humanidade classificado pela UNESCO em 1987 é composta pela catedral medieval de Sta. Maria Assunta, no estilo românico do século XI, segundo projecto do arquitecto Buscheto, pelo baptistério dedicado a S. João Baptista, da segunda metade do século XII também ao estilo românico (inspirado num modelo idêntico em Florença), pelo cemitério Camposanto monumentali de claustro ao estilo gótico (iniciado em 1278 mas finalizado somente em 1464) e pela famosa torre pendente.
Todas estas edificações apresentam problemas de estabilidade que se podem verificar no local mesmo que não se seja um entendido de assuntos de construção.
A torre de Pisa ou torre pendente é uma torre sineira inteiramente construída em mármore branco supostamente segundo projecto da autoria de Gherardo di Gherardo. A construção foi iniciada sob responsabilidade de Bonanno Pisano no dia 9 de Agosto de 1173 mas foi interrompida ao terceiro piso de altura, em 1178 no momento em que se verificou uma ligeira inclinação.
Um século mais tarde, em 1275 Giovanni di Simone e Giovanni Pisano retomaram a construção da torre procedendo a algumas alterações de contrapeso e correcção de ângulo, porém infrutíferas pois o peso da estrutura foi aumentando proporcionalmente. Estando muito próxima da conclusão, a crise económica resultante da derrota na batalha naval de Meloria frente aos Genoveses adiou a construção do último piso para o ano de 1372 sob direcção de Tommasso di Andrea Pisano.
O último dos sete sinos (escala musical inteira) foi colocado somente em 1655, agravando com mais 3,5 toneladas as 14.453 toneladas do conjunto.
Em 1838, o arquitecto Alessandro della Gherardesca mandou construir uns novos acessos junto à base, mas os trabalhos de escavação demasiado próximos recolheram inundações que agravaram o ângulo do edifício.
Já no século XX, Benito Mussolini decidiu que a torre deveria ser corrigida integralmente à posição de verticalidade, mas os trabalhos de cimentação das fundações e escavações compensatórias não só não resultaram como pelo contrário agravaram o eminente colapso da estrutura, pelo que em 27 de Fevereiro de 1964 o governo de Itália solicitou colaboração internacional a matemáticos, engenheiros e historiadores de modo a debater os métodos de estabilização a adoptar (os encontros sobre este tema foram realizados numa das ilhas dos Açores, Portugal).
Desde essa data até ao ano de 2001 os trabalhos de reconstrução e estabilização (ancoragens, cabos esticadores, contrapesos em chumbo, extracção de solos, etc.) foram contínuos até ao momento da conclusão, garantida a permanência dos 5º de inclinação pelo prazo de 300 anos.