sábado, 22 de dezembro de 2007

A Roménia de Estaline

Ali bem no centro de Bucareste, junto ao Hotel Intercontinental há um restaurante muito bom, onde se comem os pratos tradicionais da Roménia, com especial destaque para o guisado de carne de urso, onde o piano empresta um ambiente contrastante com os troféus pregados nas paredes da cave e restante decoração condizente. As empregadas que servem à mesa apresentam-se a rigor com vestidos de alças abertas, daqueles que empurram os seios para fora dos decotes das blusas brancas mal abotoadas por cordões cruzados, o que significa que tendo algumas o privilégio da fartura, animam o ambiente motivadas por hábitos atrevidos de boa disposição.
O camarada Estaline, tal como a expressão da pintura preservada no Museu de História parece revelar, também devia frequentar lugares desse tal conforto, que a sua vida não era seguramente dedicada em exclusivo às artes de violência gratuita próprias de uma eficaz governação sem expectativas de sobressalto, típicas de uma personalidade intolerante, i.e. com coerência ideológica.
O Secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e do Comité Central desde 1922 até 1953, nasceu em Gori, na Geórgia, a 18 de Dezembro de 1878. Filho de um sapateiro e de uma costureira, Estaline foi editor do Jornal Pravda antes da revolução de 1917 (derrube do regime czarista) e sucedeu a Lenine no comando da URSS dois anos antes do seu falecimento.
Estaline foi responsável, no decurso da sua governação pelos maiores genocídios alguma vez cometidos fora de tempos de guerra, contra o seu próprio povo. No início dos anos 30 uma reorganização social baseada na privação de alimento a umas 7,5 milhões de pessoas, na maioria ucranianos, acções persecutórias massivas contra todos os opositores políticos, por assassinato. Nos anos 40 cerca de 3,5 milhões de pessoas foram deportadas para a Sibéria ou para os extremos asiáticos, principalmente ucranianos, polacos, alemães, checos, lituanos, letões, búlgaros, arménios, gregos, finlandeses, coreanos e também judeus.
Alimentando um “culto de personalidade”, o domínio de Estaline sobre o poder político de alguns “Estados operários” de maior relevo económico, o caso da República Democrática Alemã, Hungria, Checoslováquia e Roménia, era baseado num sistema político soviético, de poderosa estrutura militar e eficaz policiamento.
Enquanto Lenine afirmava coisas tais como: "A fome tem várias consequências positivas (...) a fome nos aproxima de nosso alvo final, o socialismo, etapa imediatamente posterior ao capitalismo. A fome destrói assim a fé não somente no Czar, mas também em Deus", referindo-se à fé religiosa configurada pela Igreja Ortodoxa, Estaline tinha uma exactamente oposta postura perante o mesmo tema, que a Igreja Ortodoxa se tornou fiel aliada, suportando o líder no controlo das massas, estimulando os crentes na defesa da pátria contra as invasões germânicas, instando o povo a se excluir de opinião ou conjuração política.
A Roménia conta por exemplo com cerca de 80% da sua população crente na fé Ortodoxa, enquanto católicos ou protestantes não ascendem a 5%. Será resultado de décadas de uma espécie de Teologia da libertação, onde o povo pobre e desprotegido de toda uma máquina de violência e repressão incontornável se encontrou com Deus.
Aos Domingos de manhã é fácil observar o que se passa na capital, os munícipes assistem às missas com muita devoção e as igrejas estão apinhadas. Retábulos, iluminuras, pinturas de toda a espécie, antigas ou modernas encontram-se à venda em diversas lojas de artigos religiosos.
A Igreja Ortodoxa romena foi de certo modo suportada pelo poder político socialista, em detrimento da liberdade em fé distinta. Assim se explica como a Transilvânia, tendo sido província húngara e assim de fé católica durante mais de 1000 anos, em menos de um século sob administração romena e condição política reservada ao comunismo, transformou as estatísticas, ou seja, a crença do povo.
Apesar de tudo, a Transilvânia é um lugar muito especial, em termos sociológicos. A população dos lugares de província mantém o idioma magyar a par do romeno, coisa que passa de pais para filhos naturalmente, tal como a arquitectura tradicional mantém as características dos antecedentes húngaros porque a população realmente não se desconectou das suas origens.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

domingo, 16 de dezembro de 2007

Rapaca

Na estrada que vai de Quibala até Dondo uma certa vez aconteceu abrandar a marcha do Land Rover pelo sinal de gestual de um “mais velho” e outro rapaz na berma. Disse o primeiro angolano: “Bô tarde, sinhôr bránco, cômprás rapáca?” Ao que respondeu: “Como? Ouve lá... tás malaique? Tás a imaginar um branco a comer ratos ou quê?”. O pobre animal jazia morto, sabe-se lá desde quando, espetado num pau tosco que incluído no preço serviria para o levar ao fogo da assadura.
Na semana anterior tinha acabado por entender o porquê de um grupo de homens e crianças atentos à berma de uma outra estrada lá para os lados do Calulo armados de dardos, arcos (para flecha) e uma espécie de tarolos de bater atentos às aberturas do capim enquantro outros lá no cimo de um monte pegavam fogo a arbustos. O vento de feição traria o lume até à estrada e as rapacas em pânico seriam abatidas ali mesmo onde findava a vegetação. A coisa devia ser comunitária, almoço a repartir por todos lá do kimbo ou então simplesmente para vender a troco de mandiocas para o funge.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

sábado, 8 de dezembro de 2007

Kékestető

O nome significa “tecto azulado” e encontra-se bem lá no meio das montanhas Matra, perto de Mátraháza na província de Heves, norte da Hungria.
Ao quilómetro 79 (desde Budapest) da auto-estrada M3, a saída indicada a verde é para Gyiöngÿos pela estrada nacional 3 e depois pela nº 24 até Matrafüred. A partir desta localidade a inclinação é constante, suave mas ascendente. À esquerda e à direita a paisagem é agrícola (viniviticultura) até que passa a floresta e cada vez mais densa.
O ponto mais alto da Hungria (Kékestető) está a 1014 metros de altitude e a razão do seu nome é evidente. É que a certo momento da subida a neblina transforma a paisagem enquanto a temperatura desce abruptamente e depois o céu azul aparece a par de ventos mais fortes.
A vista desde o marco altimétrico é a "face" superior das nuvens e um azul infinito.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A Bandeira da Hungria (3)

Az Árpád-házi királyok által használt árpád-sávos zászlo 1000-1301

Flag with the "Arpad Stripes" used by the kings of the Arpad Dynasty 1000-1301

Bandeira com as "riscas árpád" utilizada pelos reis da Casa de Árpád 1000-1301

A Fekete Sereg zászlaja (Mátyás király állandó zsoldos seregének része) 1458-1490

The flag of the Black Army (The Black Army was the centre of the mercenary force of King Mathias I.) 1458-1490

Bandeira do Exército negro (O Exército negro foi uma força mercenária ao serviço do Rei Mátyás I) 1458-1490

Bethlen Gábor fejedelem zászlaja (Erdély fejedelme) 1613-1629

The flag of Prince Gabriel Bethlen (Prince of Transylvania) 1613-1629

Bandeira do Príncipe Gábor Bethlen (Príncipe da Transilvânia) 1613-1629

A II. Rákóczi Ferenc kuruc lovasság zászlaja 1706 Erdély fejedelme 1704-1711, Magyarország vezérlő fejedelme 1705-1711
The flag of the rebellious cavalries of Rákóczi II. 1706 (Prince of Transylvania 1704-1711, Commanding Prince of Hungary 1705-1711)
Bandeira dos cavaleiros rebeldes de Rákóczi II 1706 (Príncipe da Transilvânia 1704-1711, Príncipe pretendente ao trono da Hungria 1705-1711)
1848-as honvéd zászló
Army flag from 1848
Bandeira do exército 1848

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

domingo, 2 de dezembro de 2007

Praha

Praga compete em beleza com Budapeste, numa disposição e enquadramento muito idênticos, apesar de distantes em termos de dimensão e também em idade (assim se notando bastantes diferenças arquitectónicas).
Praga é a “cidade das cem cúpulas”, Budapeste é a “pérola do Danúbio”. Dependendo de pontos de vista, como é óbvio, o centro da capital Checa está entre os mais belos lugares de património arquitectónico classificado. As diversas pontes em pedra sobre o rio Vltava, as torres de relógio (aquele fabuloso relógio astronómico na Staré Mesto) e o grande castelo em Hradcany, que domina a capital desde a margem oriental.
Praga é a capital da República Checa, anteriormente da Checoslováquia (até ao acordo pacífico de 1992 para a separação do país em dois Estados soberanos e independentes, respeitando afinal a lógica e as razões da história, que a Boémia e a Morávia nunca foram províncias húngaras como a Eslováquia havia sido).
A Checoslováquia fora fundada em 1918 na sequência do desmembramento territorial imposto ao Império Austro-húngaro com a derrota na I Guerra Mundial com base em pressupostos discutíveis de relatividade linguística e eventualmente cultural (Tratado de Saint-Germain-en-Laye, ratificado oficialmente no ano seguinte).
O Reino da Boémia esteve sob domínio austríaco (Habsburgo) mais tempo do que em situação independente, absolutista desde 1526 até 1848 com algumas interrupções (por exemplo com a invasão saxónica e sueca resultante da Guerra dos Trinta Anos) e a partir dessa data num regime quase do tipo federativo (similar ao adoptado pela Hungria mas com menos poderes relativamente ao poder de Viena) após revoltas nacionalistas.
E porque Praga tem a sua história coincidentemente ligada a datas terminadas em oito, importa referir também que em 1938 aconteceu a anexação pela Alemanha (Pacto de Munique) e em 1968 um movimento de revolta popular (conhecido como Primavera de Praga) contra o regime socialista e a ocupação soviética, reprimido com bastante energia em nome e pela força estabilizadora do Pacto de Varsóvia.