domingo, 29 de julho de 2007

Mar húngaro

Sexta-feira 16:00. A auto-estrada M1 (Budapest – Viena) está deserta. Exactamente à mesma hora a auto-estrada M7 (Budapest – Zagreb) tem um tráfego intenso, porém são poucos os que viajam para a Croácia. Aproximadamente ao quilómetro 100 alguns saem em Siófok, depois Zamárdi, Lelle, Boglár... Fonyód ao quilómetro 150, para um final de semana que arrefece em água a 24º C o que o ar de Budapest a 35-40ºC já impossibilta de suportar.

Com 77 quilómetros de comprimento e uma largura variável de 4 a 14 quilómetros, O lago Balaton é o “Mar húngaro” à falta de costa marítima, o maior da Europa.

Alimentado principalmente pelo rio Zala e escoado emergencialmente pelo canal Sió, a profundidade média é de 3,2 metros.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Silva Porto (6)

O camião Volvo FM12 era bem mais confortável do que o Land Rover 110. A vista panorâmica que o primeiro facultava compensava largamente os solavancos do engreno das velocidades e a lentidão que no segundo poupava, para além de que viajar com a janela aberta somente era possível no camião sem prejuízo de respirar tanto pó que se lavantava pelo utilização das estradas.

Percorrendo umas três dezenas de quilómetros para sul, desde o Kuíto, encontramos Kukema, um lugar de casas construídas de adobe cuja população é marioritáriamente infantil.

O Soba terá içado a bandeira MPLA à falta da nacional, por obrigação ou desconhecimento das diferenças existentes entre ambas.

Mais à frente, junto ao rio com o mesmo nome, passando cautelosamente sobre a ponte metálica (cujas bermas e encontros ainda se encontram armadilhados, a crer nos marcos ali plantados com a imagem de uma caveira branca sob fundo vermelho e pelas palavras “perigo minas” e “danger mines” e uma bandeirinha da União Europeia), é o lugar dos fornecedores de inertes para a construção, areia e brita. Ali, os materiais são proporcionados pela natureza de um modo em que o esforço humano é árduo e quase invencível. Um “exército” de dezenas de crianças, sem pai e sem mãe, lutam pela sobrevivência, armados de ferrolho, de sol a sol agredindo continuamente a rocha de modo a obter blocos de pedra que posteriormente subdividem a martelo em outros pedaços mais pequenos.

Enquanto outros, à pá, manualmente carregavam os 12m3 de capacidade da caixa de transporte do Volvo, restava esperar... umas 6 a 8 horas sentado no mesmo lugar, de costas voltadas ao labor poeirento, acompanhado de dois maços de cigarros Dakota contemplando o infinito e meditando sobre as razões do universo.

Imagens captadas em 2004 no Cuíto (ou Kuito), antiga Silva Porto, província do Bié.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Szegedi Városháza

Na praça Szechényi encontrámos a Câmara Municipal, edifício estilo neo-barroco de 1883. Da torre, um posto de observação adornado por quatro relógios e um sino, avista-se o rio Tisza (a cidade de Szeged sofreu uma quase total devastação por efeitos do transbordo do rio nas cheias de 1879). Confirmar as palvras do Imperador Francisco José de que "Szeged será mais esplêndida do que alguma vez foi" não foi opinião relutante para os húngaros, porque uma cidade renovada se tinha erguido... ao estilo vienense.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Trakai

Depois de Kernavė, no século XIII, Trakai passou a ser a capital da Lituânia antes da transferência para Vilnius em 1323.
Em 1569 o Grão-Ducado da lituânia juntou-se ao reino da Polónia, numa associação primáriamente económica e posteriormente política (dependente). Vilnius deixou de ter qualquer importância enquanto o poder polaco se centrava em Kraków.
O castelo de Trakai passou a ser utilizado como estabelecimento prisional (para presos políticos de aristocracia polaca) e posteriormente recondicionado para servir de residência de verão do Rei Sigismund I.
Actualmente contando com apenas 5500 habitantes, descendentes principalmente da comunidade Karaim (grupo étnico proveniente da Crimeia, convidados pelo Grão-Duque Vytautas para guarda da fortaleza e povoamento da região, desde meados do século XIV), Trakai estende-se por entre mais de 200 lagos e ilhas.

Che Guevara, a realidade e o mito

Ernesto Guevara de la Serna nasceu a 14 de Junho (ou Maio) de 1928 na cidade industrial de Rosário, província de Santa Fé, Argentina.
Em 1932, seus pais Ernesto Lynch e Celia de la Serna y Llosa decidiram mudar-se para Altagracía, um lugar perto da cidade de Córdoba onde permaneceram até 1941.
A adolescência de Ernesto foi bastante atormentada por constantes ataques de asma que lhe perturbaram a educação e as actividades desportivas em que se envolveu com alguma seriedade.
Já a viver na cidade de Córdoba, a partir dos treze anos de idade, teve a facilidade de ler Júlio Verne, Pablo Neruda, Freud, Marx, Baudelaire, Engels, Dumas e Lenin entre os cerca de três mil livros que a família possuía em casa.
Em 1947, Ernesto ingressou na Faculdade de medicina da Universidade de Buenos Aires.
Sem ter finalizado os estudos, em 1952 realiza um passeio de oito meses pela América do Sul com o seu melhor amigo, Alberto Granados, percorrendo milhares de quilómetros num motociclo Norton 500. Essa viagem alegadamente transforma a percepção de Ernesto quanto à realidade política de seu país e vizinhos, constatando que as desigualdades e a injustiça social resultantes em pobreza extrema generalizada eram um flagelo da América latina, principalmente causado pelas ditaduras presentes.
Após conclusão dos estudos universitários, tendo sido convocado para o serviço militar na Argentina de Perón, simulou o agravamento da sua doença asmática de modo a ser dispensado como inapto.
Já com intentos de se envolver em política, em 1953 viajou para a Bolívia e depois seguiu para Guatemala com seu novo amigo Ricardo Rojo. Foi lá que Ernesto conheceu sua futura esposa, a peruana Hilda Gadea Acosta e Ñico Lopez, que futuramente o apresentaria a Raúl Castro no México. Em Guatemala, Dezembro de 1953, o presidente esquerdista popular Jacob Arbenz Guzmán procedia a uma ousada reforma agrária, numa tentativa de eliminar os latifúndios e diminuir as desigualdades sociais. O governo americano em desacordo e cuidando dos interesses económicos das suas empresas estabelecidas no território, através da CIA coordenou diversas acções de oposição, apoiando grupos paramilitares e provocando instabilidade suficiente que resultou num golpe de estado precedido por uma ditadura militar pró-americana. Assistindo a tudo isso, Ernesto Guevara toma uma posição definida na sua consciência, a luta contra o imperialismo americano e o espírito revolucionário passa a dominar a sua personalidade.
Inconformado com a ditadura guatemalteca, Guevara mudou-se para o México em 1954. Na capital deu aulas numa universidade e trabalhou no Hospital geral da Ciudad de México, onde reencontrou Ñico Lopez, que o levou ao encontro de Raúl Castro.
Raúl Castro encontrava-se no México como refugiado da fracassada tentativa de revolução de 1953 em Cuba. Raúl apresentou Ernesto a seu irmão mais velho Fidel que, do mesmo modo, se tornaram amigos.
Fidel Castro organizou e liderou o M26 (Martí 26 de Julio), um movimento guerrilheiro que tinha como objectivo tomar o poder em Cuba. Ernesto Guevara fez parte dos 82 homens que partiram para Cuba em 1956 sob o comando de Fidel Castro. Refugiaram-se na serra Maestra e após muitas acções de guerrilha organizaram um exército rebelde que derrubou o governo de Fulgêncio Baptista em 1959.
Depois da vitória, em 1959, Ernesto Guevara tornou-se cidadão cubano e o segundo homem mais poderoso de Cuba, Embaixador, Presidente do Banco Nacional e Ministro da Indústria.
Convicto das ideologias Marxistas-leninistas, terá apoiado a adesão do governo de Fidel Castro ao bloco soviético e fomentado o clima de confronto deste novo governo com os Estados Unidos.
Porque ser revolucionário é defender teorias que depois não são possíveis de praticar quando há que administrar os poderes e gerir a economia de um país (As teorias de Marx e Engels são muito coerentes enquanto teorias), Ernesto Guevara abandona o poder em Cuba no intento de repercurtir e estender a revolução de que fez parte a todos os países da América latina e África.
Em 1964 tentou uma revolta na Argentina, porém seu grupo foi antecipadamente descoberto, a maioria dos apoiantes capturados e mortos.
Em 1965 voltou a ser mal-sucedido no Congo Belga, que após a retirada dos colonos europeus, e a desmobilização das tropas da ONU no território (que seguravam o governo de Joseph Kasavubu contra as rebeliões lideradas por Moise Tshombe, pró-americano e pró-belga), um golpe liderado por Mobutu Joseph Desiré (Mobutu Sese Seko Koko Ngbendu wa za Banga) nesse mesmo ano tornou o Zaire (nome do país a partir de 1971) numa ditadura personalista, capitalista e anti-cristã.
Disfarçado de economista uruguaio, Ernesto Guevara entrou na Bolívia (sem a barba e a boina de estilo) em novembro de 1966.
Sem compreender a dimensão da realidade, sem perceber que a sua ideologia libertadora havia até ao momento resultado em demasiada violência e morte (dos actos de guerrilha, das punições justiceiras arbitrárias e execuções sumárias, próprias de revoluções ou tentativas de revolução) atrás de si e em parte por sua causa, planeou uma acção megalómana de revolução e unificação continental, preparando voluntários bolivianos, cubanos, argentinos e peruanos desde um campo de guerrilheiros no deserto do sudeste da Bolívia.
Ernesto Guevara foi capturado em 8 de outubro de 1967 em La Higuera, perto de Vallegrande e executado a tiro no dia seguinte pelos Rangers do exército Boliviano (estes treinados nos Estados Unidos) na mesma aldeia, dentro de uma escola.
Sua morte, no dia 9 de outubro de 1967, aos 39 anos, interrompeu o sonho de estender a Revolução Cubana à América Latina, porém transformou El Che num mito, símbolo de resistência, seja ela qual fôr. O modo como morreu, assassinado, fez de Guevara um mártir, um herói incondicional, independentemente da conformidade de seu passado.
Tal como aconteceu com Sven Olof Palme, Anwar Al Sadat, John Kennedy, Humberto Delgado ou Francisco Sá Carneiro o término abrupto das suas carreiras “apagou” imediatamente as suas eventuais falhas ou insucessos, glorificando e redesenhando a imagem das suas personalidades para um estatuto heróico.
Ernesto Guevara, se não tivesse sido assassinado, diferente de Fidel Castro, seria provavelmente considerado hoje em dia como um terrorista de ameaça global e nunca como um guerrilheiro revolucionário.
A imagem mais famosa de Che Guevara é o desenho do seu busto em alto contraste a preto e branco ou a preto e vermelho, da autoria do artista irlandês Jim Fitzpatrick (um estilo vulgarizado posteriormente por Andy Warhol), baseado na foto original (invertida) de Alberto Korda, captada em Março de 1960 num funeral em Cuba (o fotógrafo prescindiu de reservar direitos de autor).
Da fotografia para o desenho, perdeu-se a concepção humana do indivíduo, a fragilidade de um olhar preocupado e incompreendido.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Santa Comba (2)

O rio Keve corre ali a poucos quilómetros de Waco Kungo.

Parte da ponte construída pelos portugueses ainda lá está, dois vãos de tabuleiro (de vigas pré-esforçadas mais ligeiras) e os pilares que ainda se mantêm (embora um deles já bastante deformado). O vão central foi o primeiro a ser destruído (substituído entretanto por um tabuleiro formado por vigas de maior porte do que as originais, de autoria cubana). Depois foi destruído o vão sul e respectivo encontro, posteriormente remodelado com a construção de uma estrutura metálica de origem polaca (essa também acabou por ser destruída não muito tempo depois).

As margens do rio e os encontros da ponte estão ainda minados, o que faz da envolvente um perigo desconhecido.

As crianças aguardam ali serenamente dentro de suas embarcações (troncos de árvore esvaziados) duvidosamente estáveis, pela aparição de clientes solicitando travessia (afirmam que há jacarés, é perigoso atravessar a nado).

Alternativamente existe a jangada, uma plataforma de flutuadores metálicos que conta com um sistema hidráulico e um motor diesel para comando dos movimentos.

Imagens captadas em 2004 em Waku Kungo (ou Waco Cungo, ou similar), antiga Santa Comba (Cela), província de Kwanza-sul.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Marseille

Desde este local Henri Charrière partiu para o degredo da Guiana francesa, reclamando a inocência da borboleta tatuada no peito.
Ali tão perto, no insular Château d’If havia sido encarcerado o Conde de Montecristo, segundo o romance de Alexandre Dumas.
Dos militares revolucionários de Marseille, nasce o Hino nacional da França.
Ao sabor de Pastis e aroma de Bouillabaisse, temos o velho porto de Marselha.
Entre Le Corbusier, Notre Dame de La Garde e o bairro de Cours Julien, encontramos uma fusão cultural descendente de armênios, espanhóis, italianos, gregos, árabes, judeus, russos, argelinos e tunisinos (estes últimos principalmente desde o século XIX).
Fundada em 800 a.c. pelos gregos, Μασσαλία (Massalía) foi invadida por celtas
e posteriormente conquistada pelos romanos em 49 a.c., que lhe deram o nome de Massilía, hoje Marseille de Aix-en-Provence, no litoral do Mar Mediterrâneo.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Exposition Universelle et Internationale de Bruxelles

A primeira feira mundial realizada após a Segunda Guerra Mundial aconteceu em Bruxelas no ano de 1958. Em plena “Guerra-fria”, os governos da Europa ocidental simplesmente aproveitaram a oportunidade para demonstrarem em dupla perspectiva os sucessos de pós-guerra, em termos de desenvovimento económico e capacidade reconstrutiva ou meramente apresentação da sua ordeira renovação política.
Tanto os Estados Unidos da América como a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas utilizaram a Exposição Universal e Internacional de Bruxelas como palco exibicionista da sua tensa competição. O “Unfinished Business”, tema da exposição americana, focou principalmente os aspectos sociais da sociedade americana embora fossem expostos alguns produtos científicos.
Porém a União Soviética aproveitou a ocasião de um modo soberbo e conveniente, num brilhante trabalho de propaganda sobre seus avanços tecnológicos: Entre 17 de Abril e 19 de Outubro de 1958, foi possível visitar o stand que apresentava um modelo à escala do famoso satélite Sputnik e saber dos planos futuros na exploração espacial, entender os estudos soviéticos sobre utilização da energia atómica para fins pacíficos (contrastando com os propósitos americanos na destruição da humanidade).
Na Feira Mundial de Bruxelas foram revelados inventos e progressos diversos - com destaque a meios informáticos (ainda muito básicos), químicos, automatismos industriais - conforme garantido pelo discurso de abertura do rei Baudouin I, apelando à paz mundial no desenvolvimento económico.
A Bélgica, na qualidade de anfitriã, impressionou os 42 milhões de visitantes com o Atomium e também com a sua produção de chocolate que atingiu as cinco teoneladas por dia durante a Expo 58.
Situado em Heysel, a sete quilómetros de Bruxelas, o Atomium é uma estrutura metálica representativa de um átomo de Ferro ampliado 165 mil milhões de vezes. Tem 103 metros de altura, 8 esferas com 18 metros de diâmetro interligadas por tubos de 35 metros de comprimento com escadas no se interior. A esfera mais elevada serve de miradouro sobre a cidade, sendo que as restantes são utilizadas como galeria de exposições sobre a década de 50. Todavia existem 3 esferas que não têm acesso ao público por razões de segurança, dado que os seus tubos de acesso tornam as escadas demasiado verticais.
Tal como a torre Eiffel, também o Atomium foi projectado para posterior desmonte (seis meses) mas acabou por permanecer, tornando-se um local turístico afamado, perto do estádio Baudouin I e do Bruparck - parque da Mini-Europa (um parque de maquetes a céu aberto, algumas com movimento e iluminações, exibindo alguns dos locais e edifícios mais famosos da Europa. Sobre Portugal está exposta uma maquete da zona ribeira do Porto e também a torre de Belém).
O Atomium, projecto do arquitecto André Waterkeyn, necessitou de obras de reparação entre 2004 e 2005, nomeadamente a substituição total das folhas de alumínio do revestimento exterior da estrutura.
Para além do Atomium, as paragens “obrigatórias” dos turistas que visitam Bruxelas são também a Grand Place (Grote Markt), uma praça classificada em 1998 como património mundial UNESCO, lindíssima de diversos edifícios construídos entre os séculos XV e XVIII, por tal encontram-se quatro estilos arquitectónicos diferentes (gótico, barroco, neo-gótico e clássico) onde se destacam o Hôtel de Ville (sede do município) e a Maison du Roi (conhecida também pelo nome Broodhuis, que em flamengo significa “casa de pão”, por anteriormente ali ter existido uma padaria), hoje o museu da cidade. Também, não muito distante, na rua Stoofstraat encontra-se o Manneken Pis, uma estatua de bronze do século VIII de uma criança a urinar água potável (símbolo da cidade). Digno de visita a Catedral de Saint-Michel e a Igreja de Notre-dame com a sua esplendorosa torre de 122 metros de altura e uma escultura de Miguel Ângelo no interior.
Bruxelles-capitale, com apenas 161 km2 e menos de um milhão de habitantes é uma das três regiões federais do reino da Bélgica, a par da província da Valónia e da Flandres.
Bruxelas foi fundada pelo Imperador alemão Otto II no século X, que a cedeu ao Duque de Lorena. No século XII o território era pertença dos Duques de Brabant e posteriormente dos Duques de Bourgogne. Em 1477, Marie de Bourgogne, Duquesa de Bourgogne casou com o Imperador Maximilian I (Habsbourg), tornando o ducado anteriormente vassalo da França, numa possessão austríaca. Em 1695 o rei francês Louis XIV tomou Bruxelas, mas pelo tratado de Utrecht assinado poucos anos depois, volta ao domínio austríaco.
Após longo percurso de guerras e disputas de sucessão hereditária e por fim independência, somente em 1831 o primeiro rei, Leopold I, nomeia Bruxelas como capital da Bélgica.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Trabant P601 Hycomat

O Trabant Hycomat foi uma versão de Trabant equipada com um sistema de caixa de velocidades semi-automática. Na verdade a caixa de velocidades é igual ao dos restantes modelos, com a diferença no Hycomat de existir uma mola e um cabo na alavanca de câmbio que lhe faz o toque da embraiagem na mão ao invés do esforço no pé (ou seja, quando se empurra a alavanca, a mesma acciona a "soltura" do disco de embraiagem). Todavia, o pedal de embraigem está lá junto aos outros pedais (fixado com uma "gancheta", é possível soltá-lo e tornar o automóvel "manual" desactivando assim a embraiagem de mão). A alavanca de velocidades (junto ao volante, tal como os antigos Peugeot) é um pouco mais comprida do que nas versões "manual", o que dificulta os movimentos e roça no joelho direito do condutor(principalmente quando se "engata" a marcha-à-ré). O tablier também é um pouco diferente, mais básico e mais pequeno (Esta versão foi imaginada para uso de condutores portadores de deficiências motoras parciais, logo era lógica a redução das dimensões do tablier). O Hycomat tem também de diferente os discos de embraiagem e um sistema tipo "switcher" que retira a pressão hidráulica do sistema central da embraiagem no momento em que se abre o "capot" (de modo a evitar que o veículo atropele o "mecânico" se acidentalmente alguma mudança estiver engatada e ele se recorde de acelerar o motor com as mãos no cabo ou junto do carburador enquanto trabalha) e também, tal como nos automóveis de caixa automática modernos, a ignição não funciona quando alguma mudança está engatada.
A caixa do Hycomat é semi-automática porque todas as mudanças (4) têm que ser colocadas com o movimento da mão, diferente das caixas automáticas actuais que têm a D (driving), R (reward), P (parking) e N (neutral), já para não falar de sistemas Step, Sport e opções de controlo manual integradas (a Land Rover brilha nessas tecnologias onde ainda existem as "baixas" e as "altas" por causa dos binários).
Para se conhecer a história do Trabant, não há nada melhor do que consultar a página www.trabirent.com, que apresenta uma breve descrição do automóvel e da sua origem (em inglês).
O modelo apresentado nas fotos é um Trabant P601 Hycomat de 1989, motor a 2 tempos de 600cc e 26 cavalos de potência. Matriculado na Hungria (país que conta actualmente com a maior quantidade de Trabants em circulação) com os seus cerca de 105.000 km já percorridos, está impecável por dentro e por fora e já actualizado com catalisador.
Digno de curiosidade... o catalisador é mais caro do que o preço médio que um Trabant P601 pode valer, razão pela qual, não saindo aprovados na inspecção periódica (na rubrica de emissão poluente), a maior parte "encosta" ao abandono ou é vendido a "sucateiros" que os desmontam e revendem algumas peças.
Somente os "apaixonados" pelo P601, tal como James Stuart, consideram sensato "investir" montantes superiores a dez vezes o valor comercial do automóvel de modo a mantê-los em rodagem.
O sucessor do P601, o modelo 1.1 fora a partir de 1989 e até 1991 (momento do encerramento da fábrica de Zwickau, na antiga República Democrática Alemã) equipado com um motor a 4 tempos (do antigo VW Polo) o que garante alguma "longevidade" ao Trabant pelas estradas da Europa central.

terça-feira, 10 de julho de 2007

A bandeira da Hungria (1)

A forma actual da bandeira da Hungria, tricolor horizontal nas cores vermelha, branco e verde foi introduzida no momento da revolta de 1848 (revolução separatista da Hungria no seio do Império Austro-Húngaro, concluindo provavelmente na instituição de uma república, se não tivesse falhado).
A lógica do “tricolor” foi baseada na bandeira da França e nos ideais da revolução francesa da época. Porém a escolha das cores teve que ver directamente com a história do país, ou seja com as tonalidades das bandeiras anteriormente existentes, apenas o significado atribuído seria diferente (vermelho-liberdade; branco-igualdade; verde-fraternidade).
As cores da bandeira estão presentes no Brasão de armas, que por sua vez tem incluído a bandeira da dinastia de Árpad (riscas brancas e vermelhas) e a cruz patriarcal (de origem bizantina introduzida pelo Rei Béla III no século XII) sob campos verdes. O Brasão apresenta também a imagem da Coroa do Rei Istvan (com a cruz inclinada).
Desde 1867 (compromisso político com os Habsburgos) até 1945 a tricolor foi utilizada na versão e proporções iguais às actuais (1:2) com o Brasão de armas ao centro (existiam adicionalmente dois Arcanjos laterais ao Brasão que foram retirados com o fim do Império Austro-Húngaro em 1918).
Entre 1946 e 1949 a tricolor manteve o Brasão de armas ao centro mas sem a coroa.
Em 1949 foi substituído o Brasão por uma imagem do tipo estalinista composta por uma espiga cruzada com martelo e uma estrela vermelha.
A bandeira da revolução anti-soviética de 1956 foi a tricolor com um “rasgão” ao centro (não existindo outras bandeiras que não exibissem a imagem comunista ao centro, o recorte à tesoura levou ao aparecimento de bandeiras com um “buraco” ao centro, hoje símbolo da revolução). Como é sabido o exército vermelho de Nikita Khrushchev esmagou a revolução, mas János Kádár (O então nomeado Primeiro Ministro da Hungria, que exerceu funções desde 1956 até 1988) foi suficientemente prudente no retirar da simbologia tão comunista da bandeira.
Desde 1957 até ao presente, a bandeira da Hungria é oficialmente a tricolor simples (o Brasão de armas somente pode ser utilizado em actos oficiais ou exposta em edifícios governamentais, sob expressas reservas devidamente legisladas).
Actualmente existem outras virtudes atribuídas às cores, não oficializadas, que o romantismo e a vontade popular designam: A cor vermelha significa força e sangue, o branco simboliza fidelidade e liberdade e o verde representa esperança e as vastas planícies da Hungria.
Por lei, desde 1957 que as proporções da bandeira da Hungria são de 1:2 excepto na utilização naval que é de 2:3. Num decreto governamental de 2000 todas as bandeiras da Hungria devem ser exibidas numa proporção de 1:2.

Nova Lisboa (2)

O Coronel António Vicente Ferreira foi, entre 1926 e 1928, Alto comissário e Governador-geral da então denominada Colónia de Angola (até 1914 Colónia Portuguesa da África Ocidental, a partir de de 1951 Província Ultramarina de Angola) sucedendo no cargo ao Coronel Francisco da Cunha Rêgo Chaves, não muito após as nomeações do General Jose Mendes Ribeiro Norton de Matos.
Vicente Ferreira consolidou e impulsionou as obras dos seus antecessores numa perspectiva prioritária de desenvolvimento económico agro-pecuário da colónia, tendo sido responsável pela construção em Nova Lisboa do Laboratório Central de Patologia Veterinária de Angola, um dos mais importantes centros de investigação veterinária de África.
A cidade Nova Lisboa chamava-se Huambo (tal como actualmente), fundada por Norton de Matos a 12 de Agosto de 1912. Foi o próprio Coronel Vicente Ferreira que a baptizou de Nova Lisboa, ao decretar no tempo da sua governação, a transferência da capital de Luanda para Huambo (Boletim Oficial a 21 de Setembro de 1927), o que nunca veio a acontecer efectivamente.
Vicente Ferreira era um fascinado pelas características geográficas perfeitas, quer a nível orográfico, climático, geológico ou agrícola da localização do Huambo em plena savana do Planalto Central.
O laboratório e o seu excelente serviço de vacinação foram destruídos durante a guerra civil (após a independência do território). A estátua do Coronel Vicente Ferreira foi removida do pedestal (ver artigo publicado anteriormente neste Blogue, “Nova Lisboa (1)”).
Fotografia da estátua de Vicente Ferreira na década de 60 (autor não reconhecido)

sábado, 7 de julho de 2007

Serenissima Repubblica di Venezia

Após o colapso do Império Romano no ano 476, parte da península Itálica veio a ser ocupada pelo Império Bizantino, outra parte pelos Lombardos (povo germânico, de origem escandinava). O Exarcado de Ravenna tornou-se uma região transfronteiriça de disputa territorial frequente entre bizantinos, ostrogodos e lombardos.
Entre o século VI e o século VIII, ocorreu uma divisão sempre mais nítida entre a região interna de Veneza, sob domínio lombardo e a região litoral dependente dos bizantinos e de Ravenna.
Porém, em 751 os lombardos conquistam Ravenna, tornando a influência sobre Veneza menos bizantina e posteriormente a mesma mais independente.
Por volta do ano 1000 o governo de Veneza expulsou piratas e bárbaros que ocupavam a costa da Ístria e manteve a região sob seu domínio.
Na verdade a força de Veneza nasceu do desenvolvimento de relações comerciais com o Império Bizantino, tornando-se aliada destes contra árabes e normandos.
A riqueza conquistada através do comércio marítimo e terrestre com todo o mundo então conhecido tornou Veneza a mais poderosa das quatro prósperas Repúblicas Marítimas (Amalfi, Pisa, Génova e Veneza) da península itálica, que tinham o domínio comercial das rotas do mar Mediterrâneo entre os séculos X e XIII num quadro de grande autonomia política.
Invertendo-se a situação anterior, a prosperidade da Serenissima Repubblica di Venezia (que existiu como Estado no nordeste de Itália entre o século IX e o século XVIII) levou ao domínio sobre as regiões confinantes da Lombardia, Ístria e também da Dalmácia, entre outros territórios do Adriático. Posteriormente, após a Quarta Cruzada (1202-1204), Veneza tomou posse das ilhas e localidades comercialmente mais importantes do Império Bizantino, principalmente os portos de Corfu e de Creta, as ilhas de Rodes, Cefalônia e Zante, as feitorias de Negroponto e Dirraquium, garantindo um comércio dominante na Síria e no Egipto.
Nos finais do século XIV, Veneza era a principal potência comercial do Mediterrâneo e um dos Estados mais ricos da Europa.
Tudo se altera a partir da invasão de Constantinopla pelo Império Otomano e o início dos Descobrimentos portugueses, ou seja por um lado os turcos como poderoso inimigo da livre circulação comercial na região, por outro os portugueses apresentando uma alternativa viável de acesso ao Oriente por via marítima oceânica.
Como se isso não bastasse, no século XVIII a Sereníssima República foi invadida por Napoleão Bonaparte que a cede aos austríacos em troca da possessão da Bélgica. O Império Austro-Húngaro dividiu em províncias autónomas as possessões ultramarinas e os territórios pertencentes à República de Veneza.
Em 1859, os Habsburgos são expulsos da Lombardia pelo rei de Piemonte e posteriormente com a guerra entre a Prússia e a Áustria (o fim da Confederação germânica), o então formado reino de Itália alia-se oportunamente à Prússia de Bismarck, obtendo assim a posse de Veneza.
Actualmente Veneza é uma comuna italiana com cerca de 260 mil habitantes numa área de 412 km2.
A beleza dos edifícios aliados a um ambiente único de canais e pontes, a famosa praça de S. Marcos, os vaporettos, as gôndolas, as igrejas e catedrais, fazem desta cidade uma das maravilhas do mundo, onde nasceram os Papas Gregório XII, Eugénio IV, Paulo II, Alexandre VIII, Clemente XIII e Pio X, romântica, artística, património mundial a preservar.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Stockholm

O grande navio de passageiros serpenteava numa rota em que ilhas, penínsulas e outras formas torneadas do litoral escandinavo limitavam a descoberta dos primeiros indícios de que que estávamos tão perto dessa tão única e esbelta cidade capital da Suécia.
Estocolmo não é facil de entender, que se estende por entre canais navegáveis em todas as direcções possíveis de observar, contudo nunca separadas as 14 ilhas e ilhotas do arquipélago Skärgården por quanto as suas 53 pontes não estão em falta nos locais onde se esperam encontrar, onde o lago Mälaren se encontra com o mar Báltico.
Fundada em meados do século XIII, Estocolmo apenas é capital do reino da Suécia desde 1634 (anteriormente existia uma única monarquia escandinava, a União de Kalmar, abrangendo a Noruega a Dinamarca e a Suécia).
Em Estocolmo tudo parece perfeito, tudo funciona com precisão e harmonia. Ali não se encontram torres nem edifícios espelhados desse modernismo despropositado comum em grandes cidades européias, mas uma coerência sóbria e inteligente, de cores neutras a condizer com a natureza que se aproveitou no meio urbano e contrasta com os imensos veleiros fundeados. Gamla Stan (a charmosa cidade velha) e o ambiente museológico do parque Skansen (na península Djurgården) são locais de passagem obrigatórios para mais profundas percepções etnológicas.
Para além da Academia Real de Ciências, da Academia Sueca (relacionadas com a atribuição dos prémios Nobel à excepção da nomeação pela paz, entregue em Oslo na Noruega), nesta capital de cerca de 760 mil habitantes, encontramos o majestoso Palácio Real onde reside oficialmente Carl XVI Gustaf (Carl Gustaf Folke Hubertus), um fabuloso Museu de Belas-Artes, outros riquíssimos museus tais como o de História Natural, o Vasa, o Nacional, Antiguidades... segundo afirma a publicidade turística 99 museus existem nesta cidade.
Os palácios Drottningholm e Skogskyrkogården são ambos classificados património cultural da humanidade UNESCO.
Visitar o mais famoso (e frequentado) museu de Estocolmo, o Vasa museet, é ter a oportunidade de conhecer o único navio de guerra do século XVII existente em todo o mundo, recuperado em 24 de Abril de 1961, após o naufrágio de 10 de Agosto de 1628 à saída do porto, na sua primeira viagem. Apesar de ter permanecido 333 anos submerso, 95% do casco original (ornamentado com centenas de esculturas talhadas) foi possível de restaurar.
No mesmo dia 10 de Agosto de 1628, partindo do porto de Estocolmo, fizeram-seao mar vários navios de guerra reais, mas o maior e o mais importante deles todos era o Vasa, não somente pelas suas dimensões e quantidade superior de peças de artilharia (64 canhões, a maioria de 24 libras) mas principalmente porque ostentava o nome da dinastia real, Vasa.
Mandado construir por Gustaf Adolf II, rei da Suécia, o Vasa demorou dois anos a ser terminado, nos estaleiros navais de Estocolmo sob a supervisão do armador holandês Henrik Hybertsson envolvendo uns 400 operários.
Possuía três mastros para suporte de dez velas, media 52 metros do topo do mastro à quilha e 69 metros da proa à popa, pesando 1200 toneladas.
A primeira missão provável deste navio da Marinha sueca seria combater na Polónia, onde reinava o primo Sigismund (outrora regente da coroa sueca, deposto por praticar a fé católica), agora inimigo de Gustaf Adolf II.
Mas o Vasa sofreu alterações de projecto durante fases já adiantadas da sua construção, que o o rei manifestou pessoalmente um especial desejo para a instalação de uma quantidade de canhões superior ao normal. As dimensões inicialmente escolhidas para o navio deixaram de ser apropriadas e os construtores decidiram-se a adaptações menos previsíveis ou sequer comprovadas matemáticamente as consequências.
O Vasa acabou construído com uma superestrutura superior, dois convés fechados para canhões. No fundo do navio foram colocadas 120 toneladas de pedra que servia como lastro para o manter estável na água e compensar eventuais desequilíbrios devido ao peso excessivo junto às amuradas do convés.
Após a salva de tiros da largada, à saída do porto, uma simples rajada de vento adornou demasiado o navio para um dos lados. A água entrou pelas janelas abertas das canhoneiras e afundou o imponente Vasa junto com algumas dezenas dos seus 150 tripulantes.

Nova Lisboa (1)

O mercado de Huambo não apresentava algo que de novo, não fosse maior a curiosidade, as mesmas batatas “rena” vendidas aos montinhos, as mesmas conservas de atum Bom petisco, as salsichas tipo Frankfurt da Nobre, as grandes latas de chouriços da Sicasal imersos em óleo (uma categoria de chouriços, diga-se de passagem), as latinhas de leite condensado brasileiro, as saladas de fruta tailandesas e outros enlatados chineses, esparguetes e massas de diversas origens, óleos marados, milho, fuba, açúcar e sal a granel. Também ananases e bananas, artigos de menos sucesso porque encontrar disso é mais fácil na beira da estrada, não faz falta procurar no mercado.
Junto à entrada, dentro de alguidares vende-se pão e uns bolos tipo queque de sabor a nada (o açucar distribuído em Angola é muito fraco) rijos de origem, que as senhoras garantiram serem frescos.
O largo frente ao mercado não está mal, embora ninguém soubesse dizer que ilustre figura terá desaparecido do pedestal que ali jazia inútil. Contíguo, um edifício de cinco pisos em razoável estado de conservação, idêntico a todos os outros que por ali se encontram de arquitectura simples e rectilínea, quase cópia de um maior no lado oposto da praça.
Imagens captadas em 2004 no Huambo (antiga Nova Lisboa), província do Huambo.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Guggenheim de Bilbao

Frank Gehry é o tal arquitecto que nos faz recordar o Parque Mayer na Lisboa da gestão municipal com menos relevo de sempre na história da capital. Para além do pouco relevo há também destruição e perdas incompreensíveis, nomeadamente o fim da Feira Popular, esse parque de atracções que ficará para sempre gravado na memória da criançada que afortunadamente teve o privilégio de ter conhecido e disfrutado. Era ali o melhor pão com chouriço da cidade e caldo verde “empurrado” à caneca de branco tirado da pipa no momento e foi também o Café dos pretos que se perdeu para sempre.
Durante os escassos meses dessa gestão municipal de falhados (expressão que pretende ser uma tradução da palavra anglo-saxónica “loosers”), o nome Frank Gehry andou na baila com tanta presistência como se a sua intervenção na nossa capital fosse tão imprescindível como o bacalhau à mesa nos Domingos.
Felizmente isso não aconteceu, e basta analisarmos o "curriculum" deste personagem para que se entenda o porquê.
Não sem antes referir que os profissionais da arquitectura observam um fenómeno de sucesso que não é proporcional ao lugar que os mesmos julgam ter numa sociedade. Exemplos disso são Siza Vieira em Portugal, sem desvalorizar a maioria da qualidade das suas intervenções e trabalho e Makovecz na Hungria, que após um longo percurso de reconhecimento nacional e internacional, terem recebido prémios e galardões disto e daquilo, apoderam-se de um sentimento ego-cêntrico de superioridade intelectual rumo ao “eundeusamento” e arrogam-se a partir de determinado momento das suas carreiras ao direito de produzir aquilo “que lhes dá na gana”, desenhos ridículos mas arrojados, outros megalómanos e sempre dispendiosos, a que sumáriamente os representantes públicos do povo aplaudem e veneram.
A verdade sobre o museu Guggenheim em Bilbao é a seguinte: O museu é um dos mais visitados de Espanha, não pela sua função de museu mas pelo desenho extravagante do edifício. Quem se lembra das obras expostas no seu interior? Por acaso algumas obras até têm interesse internacional (Andy Warhol), mas a lógica de um museu é como a da fruta, o interior deve ser mais importante do que a casca.
Construído entre 1992 e 1997, o museu pertencente à fundação Solomon Robert Guggenheim (de um conjunto de cinco, situados os restantes em Las Vegas, Veneza, Berlin e New York) é coberto externamente por chapas de titânio calandradas num género “orgânico” de vanguarda, típico aliás das obras de Frank Gehry. O extraordinário que se pode verificar no edifício é somente por fora, pois as salas de exposição são quase todas iguais às de outros museus, ou seja, inovou-se no exterior mas não na função básica do museu, que é conservar e expor obras de arte. E por ser o museu tão inovador uma crítica que ele recebe é justamente ser mais atraente do que as próprias obras expostas.
O seu elevado custo e o carácter quase experimental de muitas das inovações usadas na sua construção, resultaram com que os custos de manutenção e limpeza sejam também elevados.
Felizmente para os “alfacinhas” a hipotética intervenção de Frank Gehry em Lisboa já passou à história sem ter deixado mais do que a memória do seu nome.
Como diria o grande Santana (Vasco Santana, entenda-se) na sua voz trémula, anasalada e arrastada de sílabas: “Para trás... a partir de hoje não sou mais um peso para ninguém

terça-feira, 3 de julho de 2007

Silva Porto (5)

A construção de um cemitério no Kuíto é uma espécie de negócio infindável para uma determinada empresa chinesa a operar no Bié sob a tutela da Delegação Provincial de Obras Públicas e em estreita colaboração com a Comissão Provincial de Exumações.
Situado nuns montes lá para os lados da estrada que segue para o Kunge, o cemitério onde os operários chineses laboram sem descanso (sim porque ali os chineses não conhecem fins-de-semana) observa diversas fases de construção e ampliação à medida que os corpos são recolhidos às dezenas por meio de escavações em quintais, páteos, passeios e jardins públicos da cidade do Kuíto todas as semanas.
Não raro é que a carrinha toyota de caixa aberta passe com a caixa tosca de madeira a que chamam caixão e um "kit" de químicos desinfectantes junto às ferramentas apropriadas (luvas, máscaras, enxadas, pás...) para recolherem os corpos de militares ou civis que raramente são capazes de identificar, mas que foram enterrados por familiares ou colegas de luta debaixo de fogo cruzado. Quando isso não era possível, as vítimas tombadas tornavam-se o alimento de canídeos esfomeados que deambulavam num espalhar óbvio de doenças e que levou ao posterior abate na sua totalidade, razão pela qual não existe actualmente esse tipo de animal nesta cidade (e também porque os mesmos cães serviram de alimento às populações, junto com gatos e roedores, quando nada mais existia).
O odor de um corpo exumado é algo que perdura nas narinas durante vários dias, entranha-se na roupa e na pele de modo inigualável, mas inevitável quando muitas vezes os corpos são encontrados acidentalmente junto ao muro, no canteiro da frente ou no pomar das traseiras, se nos passa a idéia de revolver alguma terra por motivo de obras ou reparações simples na casa onde habitamos.
Também, as empresas que tratam da reconstrução dos edifícios públicos se deparam com este problema, embora de segunda importância quando nunca é seguro se a área foi realmente e devidamente desminada e quando no meio de entulhos e lixo sempre se encontram granadas, munições e outros engenhos explosivos perigosos para quem disso pouco entende.
Imagens captadas em 2004 no Cuíto (ou Kuito), antiga Silva Porto, província do Bié.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Torre Eiffel

Após a participação na concepção da estrutura metálica da Estátua da liberdade que a França ofereceu aos Estados Unidos da América (por altura da comemoração do centenário de sua independência) em 1886, Alexandre Gustave Eiffel (1832-1923) dedicou-se a um projecto grandioso para a exposição universal de 1889 em Paris, também celebração dos cem anos da Revolução Francesa, uma torre metálica com 300 metros de altura. Nessa altura a sua carreira já apresentava um “curriculum” respeitável, tendo sido o projectista do viaduto de Garabit sobre o rio Truyère, em França (a ponte mais alta do mundo, em 1882), da ponte D. Maria Pia na cidade do Porto e da ponte dupla de Viana do Castelo (ambas em Portugal), também projectista da ponte de Triana em Sevilha, Espanha.
Mas Paris era e continua sendo aquela cidade onde qualquer profissional ou artista se consagra e se projecta internacionalmente de um modo menos efémero, a Cidade-luz.
Na verdade a idéia da torre metálica que encontramos hoje em Paris, havia sido proposta anteriormente por Gustave Eiffel ao município de Barcelona por motivo da então exposição universal prevista para 1888 nessa cidade, tendo sido rejeitada por diversas razões a ver com estética e custos.
O projecto da Torre Eiffel foi então aceite pela organização da Exposição mundial de 1889 (após resultado favorável no concurso público aberto em 1 de Maio de 1886 pelo ministro do comércio e indústria Édouard Lockroy) com o propósito de demonstrar o domínio da França (na época) em termos de tecnologias da construção de estruturas metálicas. Originalmente a torre seria uma estrutura temporária a ser desmontada no final da exposição.
Quando foi construída e até 1930 (com a inauguração do edifício Chrysler em New York) a Torre de Paris era a estrutura mais alta do mundo, pesando 7.300 toneladas (hoje pesa umas 10.100 graças aos restaurantes, serviços turísticos e aparelhagem de telecomunicações entretanto instalados) e composta por 18038 peças metálicas ligadas por meio de 2.500.000 rebites, implantada em Champ-de-Mars, no 7º Bairro junto ao rio Sena.
Imaginada por Maurice Koechlin e Émile Nouguier, respectivamente chefes do gabinete de estudos e do gabinete de métodos da Eiffel & Cie, a participação do arquitecto Stephen Sauvestre foi fundamental em termos da estética A construção durou 2 anos, 2 meses e 5 dias exactamente, entre 1887 e 1889, com a participação de 250 operários (somente faleceu um funcionário por acidente de trabalho, mas na instalação dos elevadores), tendo sido oficialmente inaugurada em 31 de Março de 1889 (apesar de aberta ao público somente a 6 de Maio do mesmo ano).
Em 1889 foi instalada uma pequena estação de observação meteorológica, em 1898 uma ligação telefónica hertziana (entre a torre e o Panthéon, a 4 quilómetros de distância), em 1903 um sistema militar de telégrafo sem fios (T.S.F.) que se tornou de utilização civil desde 1920 e a partir daí emissores de rádio e posteriormente de televisão.
Se na primeira década do século XX a população parisiense demonstrou um grande descontentamento pela permanência da estrutura na cidade e daí a consideração governamental para a sua demolição, foi no entanto a potente antena de T.S.F. então instalada no local que permitiu aceder a algumas comunicações militares alemãs durante a I Grande Guerra mundial, o que contribuiu para uma posterior decisão de permanência da torre visada na utilidade da mesma.
A manutenção desta torre inclui a aplicação de cerca de 50 toneladas de pintura a cada 5 anos de modo a protegê-la da corrosão, sendo frequente a mudança de côr (originalmente era amarela) por meio de um sistema de votação a que o público pode aceder (no primeiro piso) dentro de uma gama pré-determinada (as tonalidades possíveis e disponíveis estão directamente relacionadas com efeitos térmicos sobre o metal).
A Torre Eiffel, actualmente com 324 metros de altura (devido à instalação de uma antena de rádio), é o edifício mais visitado do mundo (estimativa ronda os 220 milhões de visitantes até hoje, com uma média actual de 6 milhões de visitas por ano) embora tal magnitude de atracção turística somente se tenha tornado expressiva a partir de 1960.