sexta-feira, 27 de julho de 2007

Silva Porto (6)

O camião Volvo FM12 era bem mais confortável do que o Land Rover 110. A vista panorâmica que o primeiro facultava compensava largamente os solavancos do engreno das velocidades e a lentidão que no segundo poupava, para além de que viajar com a janela aberta somente era possível no camião sem prejuízo de respirar tanto pó que se lavantava pelo utilização das estradas.

Percorrendo umas três dezenas de quilómetros para sul, desde o Kuíto, encontramos Kukema, um lugar de casas construídas de adobe cuja população é marioritáriamente infantil.

O Soba terá içado a bandeira MPLA à falta da nacional, por obrigação ou desconhecimento das diferenças existentes entre ambas.

Mais à frente, junto ao rio com o mesmo nome, passando cautelosamente sobre a ponte metálica (cujas bermas e encontros ainda se encontram armadilhados, a crer nos marcos ali plantados com a imagem de uma caveira branca sob fundo vermelho e pelas palavras “perigo minas” e “danger mines” e uma bandeirinha da União Europeia), é o lugar dos fornecedores de inertes para a construção, areia e brita. Ali, os materiais são proporcionados pela natureza de um modo em que o esforço humano é árduo e quase invencível. Um “exército” de dezenas de crianças, sem pai e sem mãe, lutam pela sobrevivência, armados de ferrolho, de sol a sol agredindo continuamente a rocha de modo a obter blocos de pedra que posteriormente subdividem a martelo em outros pedaços mais pequenos.

Enquanto outros, à pá, manualmente carregavam os 12m3 de capacidade da caixa de transporte do Volvo, restava esperar... umas 6 a 8 horas sentado no mesmo lugar, de costas voltadas ao labor poeirento, acompanhado de dois maços de cigarros Dakota contemplando o infinito e meditando sobre as razões do universo.

Imagens captadas em 2004 no Cuíto (ou Kuito), antiga Silva Porto, província do Bié.

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