quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Pécs

No tempo dos romanos esta cidade chamava-se Sopianæ, plural da palavra celta Sop que significava pântano ou paúl. Sopianae foi no século II capital da divisão Valeria na província romana de Pannonia. No século IV Sopianae tornou-se uma importante cidade cristã.

O fim do domínio romano na Pannonia aconteceu com as invasões bárbaras e hunas e posteriormente pelos ávaros e eslavos até que Carlos Magno anexou o território ao Santo Império Romano, controlado pela Diocese de Salzburg.

Registos escritos datados de 871, referem a existència de Quinque Ecclesiae (cinco igrejas), cidade que hoje se chama Pécs (o nome actual, utilizado seguramente desde o século XIII, tem origem sérvia ou croata e não húngara, deriva do nome romano tendo em conta que nas línguas eslavas a palavra Pécs significa cinco).

No final do século IX e início do século X, as tribos Magyar povoaram a bacia dos Cárpatos e fundaram a comunidade de Baranya, onde Pécs se integrou mantendo a sua importância de centro episcopal, onde se estabeleceram as ordens Beneditina e Dominicana nos séculos seguintes.

Em 1367 Rei Lajos I fundou a primeira universidade da Hungria em Pécs (a quarta universidade mais antiga do mundo), logo a seguir à fundação da universidade de Viena. Todas as sabedorias podiam ali ser ensinadas excepto a Teologia.

Após a batalha de Mohács, os exércitos otomanos sob comando do Sultão Suleiman (“O Magnífico”) invadiram e pilharam Pécs embora não tenham permanecido e efectivado a ocupação nesse momento.

Durante um muito breve período, enquanto o reino da Hungria se desmembrava em três partes (territórios sob domínio otomano a sul, territórios sob influência de Ferdinand de Habsburgo a ocidente e restantes sob János Zápolya, voivoda da Transilvânia, coroado em Székesfehérvár como sucessor do falecido rei Lajos II) a província de Baranya e a cidade de Pécs estiveram dependentes da disputa ocidental que culminou numa vitória austríaca sobre os exércitos de Zápolya na batalha de Tokaji em 1527.

Em 1529, os otomanos (encantados pelo facto de verificarem que os cristãos se ocuparam com disputas territoriais entre si ao invés de os combaterem como potência invasora) tomaram Pécs e estabeleceram alguns anos depois o seu controlo absoluto que durou até ao ano de 1686.

Os anos decorridos da ocupação turca deixaram marcas bastante reconhecíveis, exemplo da actual igreja católica instalada numa antiga mesquita (Gázi Kászim pasha) e de tantas outras mesquitas que se mantêm de pé (haviam sido igrejas cristãs anteriormente), escolas da fé islâmica, banhos e minaretes por toda a parte.

Cerca de duzentos anos depois (sempre sob domínio da Áustria), durante a revolução de 1848-1849, Pécs encontrou-se ocupada temporariamente por exécitos croatas e novamente, no final da I Guerra Mundial voltou a ser tomada, desta vez por sérvios, até às resoluções do Tratado de Trianon em 1921. Nesse mesmo momento a Universidade de Pozsony (Bratislava) foi transferida para Pécs.

O actual Presidente da República da Hungria László Sólyom nasceu em Pécs, bem como o reconhecido pintor Victor Vasarely.

A catedral do século XI, o palácio do bispado, a necrópole cristã, o Nemzeti Színház (teatro nacional), o jardim botânico da Universidade (Faculdade de Artes), e as ruas (pedonais) do centro histórico da cidade, são merecedoras de uma visita.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Hunyadi Mátyás

Filho de János Hunyadi e Erzsébet Szilágyi, Mátyás Hunyadi (Corvinus) tornou-se por eleição o Rei da Hungria em 1458, Rei da Boémia em 1469 e Conde da Áustria em 1486.
Isto aconteceu porque o Rei Zsigmond morreu em 1437 e como seu filho Ladislau V ainda era criança, János Hunyadi tornou-se regente do reino da Hungria em 1446.
O Imperador Frederick III da Germânia, Sacro Império Romano (casa de Habsburgo) não conseguiu validar a sua reclamação de direitos ao trono, porque apesar de ser criança, Ladislau V era sempre o Rei da Hungria e da Boémia, enquanto János Hunyadi apenas era o regente.
Mas a popularidade de János Hunyadi era demasiado grande, o sucesso nas batalhas travadas contra os turcos e a glória da resistência e invencibilidade no cerco de Belgrado levou o povo húngaro a aceitar a nomeação de seu filho Mátyás (para suceder a Ladislau V que morreu entretanto) com normalidade, aos 15 anos de idade, por proposta do Bispo de Esztergom.
Entretanto a coisa foi negociada, que na verdade o próprio Mátyas Hunyadi teve que comprar a coroa a Frederick III por 80.000 Florins de ouro para posteriormente ser coroado, tradicionalmente em Székesfehérvár no ano de 1464.
O Rei Mátyás Hunyadi foi um reformador da administração pública, militar e finanças. Estruturou um sistema de associações comerciais, valorizou o poder da justiça e reforçou o sistema da cobrança de impostos e taxas. O seu exército de soldados assalariados e a capacidade financeira anual de 650.000 Florins de ouro foram bastantes para reter as invasões turcas nos Balcãs.
A infância do jovem Rei foi rica numa educação humanista junto de János Vitéz (aquele que veio a ser o Bispo de Esztergom). Resultou disso um rei justo e um líder militar inteligente, um apreciador de arte e literatura. A corte real e os palácios de Buda e Visegrád foram importantes centros da cultura renascentista italiana, onde Mátyás contratou diversos mestres de arquitectura, escultura, pintura e escrita.
O Rei Mátyás morreu em Viena a 6 de Abril de 1490 (enterrado posteriormente na Basílica de Székesfehérvár), incapaz de estabelecer uma dinastia tendo em conta que as duas esposas, Katalin Podjebrád e Beatriz de Aragon não lhe deram filhos e o ilegítimo János Corvinus não foi reconhecido como seu sucessor.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Mohács

"Para que ninguém possa recordar-me como desculpa para a sua cobardia e assim ninguém possa culpar-me, irei junto com o tempo e com o omnipotente Deus para o lugar que outros se recusam a seguir sem mim” foram as palavras do jovem Rei Lajos II antes de seguir para a batalha contra os exércitos turcos do Império Otomano que aconteceu a 29 de Agosto de 1526 em Mohács.
Lajos II nasceu em 1506, filho de Vladislav II, Rei da Hungria e da Boémia e Anne de Foix, Condessa de Candale. Coroado por sucessão em 1516, Lajos II casou em 1522 com Maria Erzherzogin von Österreich, filha de Felipe I von Habsburg e Juana, reis de Castela.
A batalha de Mohács somente podia ter um resultado catastrófico, onde cerca de 25.000 soldados e 53 peças de artilharia foram incapazes de suster a agressão de cerca de 50.000 turcos e mais de 160 canhões.
Sem antes esperar pela chegada dos 5.000 reforços que marchavam desde a Croácia sob o comando do Conde Frangepán bem como pelos cerca de 10.000 de Szapolyai da Transilvânia, os exércitos húngaros liderados por Pál Tomori, Arcebispo de Kalocsa, decidirem avançar com cavalaria pesada contra a primeira linha turca. Apesar do aparente sucesso desta investida, a segunda formação liderada pelo próprio Rei não teve a mesma sorte. Em menos de 3 horas pereceram mais de 20.000 homens, 28 nobres aristocratas, 7 Bispos e o próprio Rei com apenas 20 anos de idade.

A morte do Rei Lajos II marcou o fim da dinastia dos Jagelló, mas a derrota na batalha de Mohács destinou o fim do poder húngaro na Europa Central, o desmembramento do reino em três partes (Transilvânia, territórios ocupados pelos otomanos e territórios sob o domínio austríaco).

Pesquisas arqueológicas dirigidas por Lászlo Papp nos anos 60 do século passado, trouxeram a descoberto 2 grandes sepulturas em vala comum. Em 1975 foi decidido construir um memorial e avançar com as pesquisas arqueológicas, onde foram encontradas outras 3 sepulturas com milhares de corpos enterrados.

A 29 de Agosto de 1976, no aniversário dos 450 anos da batalha de Mohács o memorial foi inaugurado com a presença de quase tantas pessoas como as que ali pereceram. As estacas erectas e as tombadas simbolizam as forças vencedoras e as derrotadas, com desenhos de entalhe onde são representados empalamentos, cabeças cortadas, crianças mortas pelas próprias mães em acto de desepero, a imagem do Rei herói e do Sultão Suleiman, sob um percurso em forma de uma cruz rodeada, porque os que defenderam o país, todos eles eram cristãos.

A quinta imagem apresentada (aérea) não é propriedade do autor.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Kimbos

Numa concepção européia são duas crianças junto às suas casas. Mas no seu mundo que é tão diferente do primeiro, são já adultos, porque a esperança média de vida será de uns 34 ou 35 anos de idade, como sempre foi desde o início do universo.
Os conjuntos de cubículos feitos de adobe são os Kimbos, onde famílias se juntam sob o comando de um Soba (homem mais velho, respeitado pelos demais, chefe e representante da comunidade de um Kimbo, normalmente conhecedor de algumas artes de magia ou adivinhação, sabedoria e poder de decisão e regulação de conflitos), posição que herdou de seus antepassados na maior parte dos casos.
Os cubículos são construções simples, ecológicas e biodegradáveis, sempre iguais entre elas (apesar de existirem duas técnicas posíveis, blocos de argamassa de terra empilhados ou o revestimento de uma estrutura de madeira com argamassa de terra), sempre iguais desde há milhares de anos.
A matéria prima é a que o solo entrega, basta escavar, juntar água e amassar. Os moldes de madeira e a compressão manual dão a forma aos blocos que depois secam ao sol.
Dentro de um cubículo é provável encontrar objectos como uma colher, uma panela (essencial para fazer o funge) talvez uma esponja ou um cobertor e pouco mais. Ali não se encontrará mobília nem electrodomésticos, não há electricidade nem água, não há roupa para mudar nem comida para guardar. Todavia isso não traz nenhum sentimento de infelicidade ou desapontamento aos seus habitantes porque sempre assim foi, sempre assim será, nunca conheceram coisa diferente nem sonham que venha a ser.
Imagens captadas em 2004 no Kunge, perto do Kuíto (antiga Silva Porto), província do Bié, Angola.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Kor Hely – Étterem & Pub

O restaurante Kor Hely fica na Boltív köz, transversal da Király utca, na cidade de Pécs. O ambiente é continuamente animado até à meia-noite (nas noites de Sábado), sempre a servir pratos tradicionais com despacho e acerto nos sabores da cozinha húngara.
Das cervejas locais, Szalon ou Pécsi sör, apareça quem saiba distinguir a melhor, acompanhada de amendoíns cujas cascas se devem atirar para o chão (num ambiente rústico, onde a palha préviamente espalhada pelo pavimento disfarça essa regalia).
A decoração é diversa, se por um lado parece nacionalista (um dos panos é completamente forrado por páginas de jornais antigos, outros com máscaras, bonecos e utensílios de profissões distintas, por outro lado aparecem cartazes publicitários sobre bebidas estrangeiras.
Garrafas vazias de vinho tinto da região (Villányi Portugieser) também servem de decoração enfileiradas no lambri junto às mesas.
Csülkös Sztrapacska e Mégis fürgyé à mesa é uma boa escolha (apesar de difícil porque habitualmente os restaurantes húngaros têm ementas escritas que mais parecem listas telefónicas), sendo a segunda não mais do que febras de porco fritas em banha com alho picado e paprika a acompanhar com uma cebola e uma fatia grossa de bacon frito (no mesmo momento) salgadíssimo com batata.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

A Gyulai vár (1)

Localizado na bacia hidrográfica do rio Fehér-Körös da Alföld (grande planície húngara), a cidade de Gyula aparece mencionada pela primeira vez em escritos de 1313, referindo origem de fundação ao século IX, ou seja com o povoamento das tribos Magyar.
O Rei Zsigmond (1387-1437) ofereceu as terras de Gyula a János Maróti, Vice-Rei de Macsó, em 1403. Este iniciou a construção de um castelo em blocos de tijolo maciço, com portas e janelas do tipo gótico (tardio) e colunas em espiral, que foi terminado somente pela autoridade de seu filho em 1455.
Em 1476 o Rei Mátyás tomou a posse do castelo que acabou por ceder ao seu filho János Corvinus em 1482.
Entre o final do século XV e o início do século XVI o castelo mudou muitas vezes de dono, até ao momento em que o Rei Ferdinánd I (1526-1564) o trocou pelo castelo de Boldogkő.
Apesar de reforçadas as defesas da fortificação, o castelo de Gyula sucumbiu à ocupação turca durante a campanha do Sultão Suleiman de 1566, permanecendo nesse domínio até à contra-ofensiva dos exércitos imperiais da Áustria em 1695, ou seja 129 anos depois.
Os danos provocados pelos turcos foram mínimos, a estrutura manteve-se inalterada e apta para continuar a servir os propósitos de defesa territorial, como ficou provado com o insucesso sentido pelos kuruc de Ráckóczi Ferenc II na sua tentativa de ocupação, durante o cerco de 1705, resistido pelos austríacos.
Em 1720 o Barão János György Harruckern recebeu o castelo de Gyula como recompensa de seus serviços leais à côrte de Viena.
Posteriormente passou ao domínio público, mantendo ainda hoje a sua forma original, exemplar raro (na Europa central) de um edifício medieval com um palácio e uma capela gótica intactos.
As imagens apresentadas não são propriedade do autor.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Mercedes-Benz 770K (W07/W150) Großer

Foram produzidas 119 unidades do modelo 770K (W07) Grosser entre 1930 e 1938. Este Mercedes-Benz atingia os 110 Km/h com um motor de 8 cilindros e 7655 c.c. na versão base.
A partir de 1938 aparece o modelo W150, após a instalação de um compressor.
O mesmo motor de 8 cilindros e 7655 c.c. levava os 770K a atingir a velocidade de 170 Km/h, com uma potência próxima dos 400 Cavalos.

A partir de 1941 o 770K passou a ser produzido em versão blindada, com uma carroçaria de 18mm. de espessura em aço revestido a magnésio, pneus maciços, vidros à prova de bala com 40mm. de espessura, circuito elecrto-magnético para bloqueio de portas, radiador em prata e níquel, etc. Nem a inclusão de diversos componentes e adornos em alumínio salvaram o 770K do peso excessivo que lhe baixava a velocidade máxima para 80 Km/h e a necessidade de transportar 300 Litros de gasolina no depósito de modo a manter uma autonomia decente.

Foram produzidas 88 unidades do modelo 770K (W150) Grosser entre 1938 e 1943.

Existem ainda alguns 770K Grosser em museu, outros em colecções particulares. Todos os proprietários reclamam ter pertencido anteriormente a Adolf Hitler, Hermann Goering ou Henrich Himmler. Provavelmente todos têm razão, porque apesar de o Fürher ter possuído duas destas viaturas para uso exclusivo, a verdade é que ele mesmo foi transportado por dezenas de outras diferentes, as que estavam disponíveis no momento e no local onde foram requesitados para deslocações ou desfiles. Por outro lado Goering, na sua paixão imensa pelas tecnologias motorizadas aliadas a uma personalidade excessivamente vaidosa, teve ao seu serviço exclusivo, em diferentes momentos, dezenas de viaturas idênticas.

Em Budapeste, dentro de uma simples fábrica desactivada de Angyalföld, distrito XIII, precisamente na esquina da Tahi utca com a Szent Laszlo utca, existe um 770K Grosser, pertencente a um coleccionador particular e anónimo.

O Rei Boris da Bulgaria, o Imperador Hiroito do Japão, o Rei Zog da Albania, o Rei Farouk do Egipto, o General Franco de Espanha, o Ministro Vidkun Quisling da Noruega, o Almirante Horthy da Hungria, o Kaiser da Alemanha Wilhelm II (no exílio), Benito Mussolini de Itália, Josef Stalin da União Soviética e o Presidente Óscar Carmona de Portugal foram todos proprietários de um Mercedes-Benz 770K. O Professor António Salazar também, embora nunca o tenha utilizado.

Após o atentado a Salazar no Domingo 4 de Julho de 1937, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado encomendou dois veículos blindados Mercedes-Benz 770K W07 Grosser, que chegaram a Lisboa em Abril de 1938.

O Prof. Salazar recusou-se a utilizar a unidade que lhe foi entregue, preferia continuar a utilizar o seu velho Buick (embora viesse a ser substituído por um Chrysler Imperial) porque discordou do elevado preço que o Estado português gastou sem a sua autorização e também porque entendia ser impróprio ser visto no mesmo tipo de veículo que os ditadores alemão e italiano, não somente porque denegria a sua imagem (os verdadeiros fascistas sofrem do problema da vaidade e do ego-centrismo, doença que nunca afectou António Salazar), como também os desprezava intelectualmente.

O Mercedes foi utilizado muito raramente para transportar visitas oficiais ao Palácio de S. Bento até ser vendido em hasta pública, pela direcção-geral da Fazenda. Com apenas 6.000 km em dezassete anos foi arrematado por seis mil escudos por um sucateiro que o revendeu impecável aos Bombeiros Voluntários do Beato e Olivais para ser transformado em ambulância (nunca veio a acontecer), acabando posteriormente no Museu do Caramulo.

Actualmente tem cerca de 13.000 quilómetros, por ter circulado desde 1956 com alguma frequência para conservação da mecânica. Nunca foi restaurado porque a pintura, os cromados e os estofos continuam como novos (os pneus são os de origem), sendo assim o mais perfeito e bem conservado Mercedes-Benz 770K Grosser do mundo.

Somente a imagem da fábrica é propriedade do autor.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Aquário Vasco da Gama (13)

O Aquário Vasco da Gama foi inaugurado a 20 de Maio de 1898 ali no Dafundo (concelho de Oeiras), graças ao óbvio interesse da casa real, numa cerimónia que pretendeu celebrar o 4º Centenário da partida de Vasco da Gama na viagem de descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia.

A exposição de exemplares vivos existente no edifício apresenta uma diversidade zoológica e botânica incomum, pertencente a diferentes oceanos e continentes, com especial incidência na fauna da costa portuguesa.

O museu conta também com uma grande colecção de animais conservados e naturalizados, mamíferos, peixes e aves embalsamados, para além da preciosa "Colecção Oceanográfica D. Carlos I", de grande valor histórico e científico.

A primeira imagem apresentada não é propriedade do autor

domingo, 3 de fevereiro de 2008

QWERTY

No British patent office encontra-se, pela graça da raínha Anna, o seguinte registo de patente garantida em 1714 ao engenheiro inglês Henry Mill: "An artificial machine or method for the impressing or transcribing of letters singly or progressively one after another, as in writing, whereby all writing whatever may be engrossed in paper or parchment so neat and exact as not to be distinguished from print."
Apesar da primeira máquina de transcrever e imprimir cartas ter sido imaginada por Henry Mill, o primeiro invento conhecido de máquina de escrever foi em 1837 o Cembalo scrivano do italiano Giuseppe Ravizza, patenteado em 1856.
Em 1865 foi inventado o Skriverkugle (hemisferio escrevente) do dinamarquês Rasmus Mailing-Hansen, patenteado em 1870.
Em 1866 uma máquina do tirolês Peter Mitterhofer baseada num protótipo de 1864 valeu na côrte de Viena um prémio de 200 Guilder do Imperador Franz Joseph, de modo a incentivar o desenvolvimento do projecto e eventual produção de um modelo perfeito.
É porém conhecida a existência de um typographer, uma espécie de aparelho de imprimir patenteado por William Burt no ano de 1829 em Detroit, Michigan, mas com um sistema tão ineficaz e absurdo que mais rápido se escreviam manualmente diversas cartas e cópias das mesmas do que somente uma na máquina.
Christopher Latham Sholes, editor chefe do Daily Milwaukee News patenteou a máquina Sholes & Glidden Type Writer
, fabricada a partir de 1873 pela fábrica de armas Remington & Sons, com o teclado QWERTY.
Depois de ter inventado uma máquina de imprimir números e antes do modelo para escrever que patenteou, Sholes testou dezenas de sistemas com diferentes localizações das letras do alfabeto, até que percebeu (após análise estatística da utilização de caracteres na língua inglesa) qual a configuração apropriada para uma distribuição equilibrada de quantidades de pressionamento por diferentes dedos das mãos e paralelamente reduzir a velocidade possível do funcionamento dos aparelhos, evitando que encravassem por sobreposição das hastes mecânicas.
As teclas dos primeiros protótipos apresentavam um travamento quando duas teclas próximas eram digitadas muito rápido. As hastes mecânicas ficavam presas umas nas outras e era preciso interromper o processo de digitação para libertar manualmente as hastes.
Na sequencia QWERTYUIOP da primeira linha, ASDFGHJKL da segunda e ZXCVBNM da terceira, as teclas estão posicionadas de acordo com a sua maior probabilidade de não serem digitadas sequencialmente na língua inglesa.
A partir de 1874 a máquina de escrever Remington foi produzida industrialmente.
Durante o século XX foi considerada um dos equipamentos indispensáveis de qualquer empresa moderna até à última década, onde repentinamente foi substituída pelo computador, utilizando a mesma lógica e sequência no teclado.
Com o desaparecimento da máquina de escrever e o aparecimento dos computadores, o teclado QWERTY não tem qualquer razão para ser mantido por questões técnicas a ver com contenção da velocidade (os computadores não encravam quando se escreve mais depressa).
A melhor sequencia de letras não é a QWERTY, portanto. Em 1932, depois de 20 anos de estudo, August Dvorak, também americano (de origem checa), criou um teclado (conhecido pelo seu nome) extremamente eficiente para língua inglesa: 3 000 palavras podem ser escritas com as letras da fileira principal (contra 50 no teclado QWERTY) e a mão direita é a mais usada. Uma pessoa digitando em inglês no teclado de Dvorak tem um esforço 20 vezes inferior do que digitando num teclado QWERTY.
Mas depois da configuração QWERTY passar a ser dominante (pela produção industrial) todas as tentativas de implementar outras sequências de digitação nunca foram bem sucedidas, mantendo-se um padrão que não privilegia ergonómicamente o digitador e não é o mais veloz, simplesmente porque nunca alguém esteve disposto a re-aprender a escrever em novos teclados.
O layout QWERTY é adoptado com alterações em algumas línguas (por exemplo, QWERTZ para a língua húngara) se bem que o mais comum é a inclusão de algumas teclas na configuração original sem alterar a base (por exemplo a inclusão do Ñ a seguir ao L no teclado espanhol ou o Ç a seguir ao L no teclado português).
Apenas o mundo francófono não é alinhado desta “globalização” ocidental nas configurações dos teclados, com o AZERTY, muito melhor e mais bem adaptado às línguas latinas apesar de sempre inferior ao posicionamento da sequência imaginada por Dvorak.
Apesar do AZERTY francês ser um pouco diferente do AZERTY belga, as diferenças básicas entre AZERTY e QWERTY são as trocas de posição entre A e Q, e Z com W, o M está depois do L e não depois do N, e a utilização dos números da linha superior obriga a premir simultâneamente a tecla SHIFT porque existem, para digitação directa, letras acentuadas e símbolos nessas teclas.