sábado, 30 de junho de 2007

Silva Porto (4)

No extremo norte da cidade do Kuíto, encontramos um pequeno largo um pouco antes da saída, pela estrada que (passando pelo ex-barragem do rio Kunge e pelas ruínas da fábrica de tijolos e telhas da cidade) segue para o Kunge.

Frente à Industrial do Bié, edifício que de momento tem somente propósitos de recreio infantil ou outros que se vão inventando, existe uma coluna (de estilo modernista) em betão forrado e rematado no topo a mármore, onde se percebem esculpidos alguns bem conhecidos símbolos nacionais portugueses, uma esfera armilar, um sextante, um astrolábio, uma cruz, ou seja é um Padrão.

Imagens captada em 2004 no Cuíto (ou Kuíto), antiga Silva Porto, província do Bié.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Al-Magrib

Marrocos é ali mesmo, desde o porto de Tarifa, no sul de Espanha vislumbram-se as silhuetas dos montes, o continente africano. Tão perto e no entanto tão longe de nós.

A cidade de Tanger é uma porta de entrada para esse mundo tão diferente do nosso, no entanto ali, tudo é ainda tão europeu, que faz falta avançar um pouco mais.

A azáfama das gentes, os petit e grand taxis circulam frenéticos num sabe-se lá porquê, ocupados por um dois, três, quatro... sete, oito... ou tantos clientes os que possam caber nesses automóveis cambados mas resistentes num sabe-se lá como.

As senhoras cobertas pelos lenços coloridos ou de jelabah conferem ao lugar o exotismo que o estrangeiro já prevê.

Que ali não abundam camelos nem burros como se diz e ouve dizer, faz falta avançar um pouco mais.

Os edifícios são predominantemente brancos e modernos, num estilo que resistiu ao francês mas acabou entrosado com uma espécie de espanhol, principalmente junto às praias, onde a pressão imobiliária é uma realidade.

Lá no alto a Medina, antiga e idêntica às de qualquer outra cidade deste reino, é de ruas estreitas e confusas, onde tudo se vende e os olhares espreitam através de frestas e cortinas. À sua volta a cidade nasceu, colonial e europeia.

Em Tanger há de tudo, mas de tudo o que já se conhece do outro lado do canal, faz falta avançar um pouco mais.

Seguindo pela costa até Asilah encontramos os vestígios de que ali chegou a ser Portugal, não por muito tempo é certo, apenas o suficiente para que se encontrem pesadas peças de artilharia em bronze, muralhas de uma vila fortificada, num estilo que é seguramente mais árabe do que europeu.

Pelo caminho e por todos os caminhos e estradas desse país adentro, sempre estão presentes os burros, os ovídeos e um ou outro dromedário (que sempre apelidamos de camelo), na sua maioria aguardando o turista suportador do seu cheiro em troca daquela fotos de pose heróica que tanto faz falta levar para contar.

E porque faz falta avançar um pouco mais, torna-se obrigatório transpor o Atlas, essa cadeia montanhosa de solo árido e descobrir após o que é o deserto. Ouarzazate é o ponto dessa chegada, o ponto dessa partida. Os seus edifícios já não são brancos mas da cor de tudo o que rodeia exceptuando o céu.

Os Kasbah (casas ou conjuntos de casas fortificadas por meio de grandes muralhas) são silhuetas constantes nesta paisagem sempre castanha-avermelhada, parecem castelos sem que o sejam, a razão afinal de existirem alguns lugares onde vive gente em região tão inóspita.

Também muito perto , junto à cordilheira Atlas, encontramos Marrakesh, uma grande cidade que faria falta se ali não estivesse, onde se desenvolve um comércio importante de tudo o que a região oferece e tem para mostrar. De uma só cor, a mesma de tudo o que nos rodeia excepto o céu, Marrakesh tem o encanto do verdadeiro Marrocos, são riquíssimos palácios e enormes mesquitas, avenidas largas ou ruas imaginadas para a circulação pedonal (estruturas de madeira com o propósito de criar sombras sobre os transeuntes), tudo é exemplar, que encontrando a hotelaria de razoável qualidade e mercados tão coloridos, já não faz falta avançar mais.

Pernoitar num Riad é perceber que por detrás daqueles véus e daqueles trajes comprometidos, há algo mais na alma destes árabes, desta gente tão diferente... que o ambiente recolhido em paredes, recantos, fontes e canteiros, anexos e anexos que se interligam num intenso labirinto de espaços de relaxe e erotismo colorido e provocante, a imaginação é tornada maior do que a realidade, ou a realidade é coisa só deles e ficaremos para sempre nessa dúvida.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Alentejo

A luz que te ilumina

Terra da cor dos olhos de quem olha

A paz que se adivinha

Na tua solidão

Que nenhuma mesquinha

Condição

Pode compreender e povoar

O mistério da tua imensidão

Onde o tempo caminha

Sem chegar...

Miguel Torga, 20 de Outubro de 1974.

É praia, é serra, são planícies sem fim. É cortiça, é azeite, é vinho, e muito espaço deixado aberto à natureza simples, alecrim e rosmaninho.

Es la playa, la sierra, son las llanuras sin fin; es el corcho, el aceite, el vino, es esa inmensidad abierta a la naturaleza sencilla, al romero y al cantueso.

It is beaches, hills and endless plains. It is cork, olive oil, wine – and a great deal of space left over for simple nature, rosemary and lavender.

Des plages, des montagnes, des plaines à perte de vue. Du liège, de l’huile d’olive, du vin – et un vaste espace ouvert à la simplicité de la nature, du romarin et de la marjolaine.

Es sind die Strände, die Berge und die endlosen Ebenen. Es ist der Kork, das Olivenöl, der Wein, der Rosmarin, und jede Menge der einfachen Natur offenen überlassenen Raums.

Spiagge, monti, pianure sconfinate. Sughero, olio d’oliva, vino. E molto spazio lasciato semplicemente a disposizione della Natura, dell’origano e del rosmarino.

O Alentejo representa 33% da área do território nacional embora em termos demográficos conta somente com 8% da população portuguesa.

Sagrada Família

Espanha deve ser o único país do Mundo onde é possível e coerente a idéia de construir uma catedral durante um período superior a um século e atravessando três.
A Catedral da Sagrada Família, localizada no coração da cidade de Barcelona, é afinal a obra mais famosa de Antoni Placid Gaudí i Cornet. Iniciada em 1883 e prevista ser inaugurada lá para o ano 2026.

O projecto (para alguns, ao estilo Arte Nova) começou quando Gaudí tinha 31 anos de idade, tendo sido interrompido durante alguns anos por causa da guerra civil espanhola (pausa entre 1936 e 1940).

Das três fachadas principais do edifício, compostas pelos alinhamentos de 18 torres (das 12 mais pequenas, somente oito estão concluídas) a fachada do Nascimento está terminada, a fachada da Paixão (iniciada em 1952) ainda está em construção, faltando começar a fachada da Glória.

Concebida para ser a maior catedral de sempre, no seu espaço interior serão colocados 5 orgãos e uma área para o canto coral possível de agrupar cerca de 2200 pessoas (coro). Será difícil então imaginar os milhares de lugares possíveis para a assistência nos actos religiosos.

Junto ao estaleiro, um desabafo de tristeza por parte de um dos encarregados da obra, de idade já avançada, tinha que ver com o facto de saber que, provavelmente e pela primeira vez na sua vida, não estaria presente no dia da inauguração.

A Sagrada Família é a única classificação de património mundial UNESCO atribuída sobre algo não concluído.

Segundo o gabinete técnico responsável pela obra, estão previstos restauros na fachada del Nacimiento, no momento em que se concluirá a fachada da Glória, porque entretanto passaram mais de 140 anos desde o início da construção.

A concretização de um sonho desta ordem de grandeza somente é possível porque a realidade significa o orgulho da Espanha.

Silva Porto (3)

Mal se abriu a porta do Boeing 747 da TAAG, o bafo de ar quente e insuportável (a temperatura de Luanda pela madrugada), avisou o prelúdio de um dia memorável.
O aeroporto de Luanda é coisa pequena, entra-se a pé desde a pista para o terminal. Ainda de fora, os mosquitos rodam como loucos em volta das lâmpadas que aos poucos se apagam ao clarear do dia. No controlo dos passaportes, os funcionários não se inibem de pedir dinheiro (à recusa justificada de não possuir dólares consigo de momento, o funcionário oferece-se para abandonar o posto e acompanhar o visitante a uma caixa automática existente dentro do terminal). De bata branca, os "inspectores sanitários" conseguem ser mais audazes, solicitam os boletins de vacinas aos passageiros mesmo antes do controlo de passaportes (um infeliz lembrou-se de colocar o seu boletim dentro da mala de porão, assim não o pode disponibilizar antes do controlo, no entanto foi acreditado com uns 50 dólares de justificatvo).
Umas horas mais tarde, ainda no período da manhã, uma pequena aeronave (curiosamente o mesmo modelo de aeronave utilizado por Sá Carneiro e Amaro da Costa que resultou no fatídico acidente em Camarate) fez o trajecto Luanda-Kuíto. Os subúrbios de Luanda vistos do céu são algo incrível pela quantidade de barracas numa extensão seguramente dez vezes superior à área ocupada por Luanda (Esta capital tem uma capacidade imobiliária para uns 750 mil habitantes, todavia a população estimada é de 4,5 milhões).
A aeronave aproximava-se à pista do Kuíto quando um dos pilotos decide avisar os passageiros para não se preocuparem, que estão habituados a esta operação. O sentido dessas palavras só tem explicação alguns segundos depois, quando os passageiros conseguem vislumbrar através das janelas que a pista parece um “passador” recheadinha de buracos que obrigam os pilotos a um verdadeiro trabalho artístico de aterrar (os pilotos tombavam a aeronave em alta velocidade ora para a direita, ora para a esquerda, mas evitaram todas as crateras).
Há quem chame aquilo de aeroporto, mas o edifício está uma lástima, janelas partidas, vedação incompleta, canídeos solitários no interior e uma camioneta de caixa aberta para transportar bagagens e eventuais passageiros para a cidade. No exterior jazem blindados no meio do capim, onde as crianças brincam aos combates à falta de baloiços.
Sentado em caixa aberta, mas num Land-rover, as primeiras impressões da cidade foram tomadas. Descendo aquela larga avenida (ladeada pelo bairro do Cambulucuto, casas de adobe iguais às dos kimbos, mas com telhados de zinco), entroncamos com a estrada de ligação Kuíto-Huambo, viramos à direita (passando junto ao o campo do Sporting do Bié (em terra batida) e a poucas centenas de metros temos a entrada sul do Kuíto.
A zona urbana do Kuíto começa na verdade desde a rotunda ajardinada, onde está em funcionamento uma bomba de combustível (das três em funcionamento na cidade, todas da Sonangol). A avenida que parte desde a rotunda tem um canteiro central que mantém umas sebes e algumas árvores que lá vão sendo mantidas com orgulho e zelo. As bermas dos passeios, feitas em guias de betão, são pintadas com tinta de água na cor branca (somente dura até às primeiras chuvas, como é óbvio). Os passeios por toda a cidade estão bastante degradados à excepção daqueles na zona dos palácios e assembleia municipal, que foram feitos de calçada portuguesa.
Imagens captadas em 2004 no Cuíto (ou Kuito), antiga Silva Porto, província do Bié.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Budapest

Budapest, a Pérola do Danúbio, é a capital de Magyarország, ou seja Hungria.
Sendo a sexta maior da União Europeia (em termos demográficos), conta com uma área metropolitana (considerando toda a Pest megye) de cerca de 3 milhões de habitantes, uma elevada concentração de população tendo em conta o total global de 10 milhões de húngaros existentes no território nacional.
Em 89 a.c. o Império Romano fundou a cidade Aquincum, na margem direita do Danúbio, passando a capital da província Pannonia desde o ano 106 a.c. até meados do século IV. Nesse local, hoje chamado de Óbuda, encontram-se vestígios enterrados e a céu aberto de anfiteatros, ruínas urbanas diversas, aquedutos, estradas, fontanários, salgadeiras...
Somente séculos mais tarde aparecem as cidades Buda (a sul de Óbuda) e Pest (na margem esquerda do Danúbio). Toda a Pest foi outrora uma zona pantanosa (bacia hidrográfica), fácil verificar pela qualidade dos solos e também pelo facto de em termos orográficos serem completamente distintas as cidades estabelecidas nas duas margens do rio.
No século X a região foi ocupada pelas tribos Magyar (húngaros) provenientes dos Urais (região onde hoje se situa algures o Cazaquistão, a sul da Rússia, nos limites ocidentais da Ásia) mas apenas em 1361 Buda foi declarada capital do reino dos húngaros.
No ano de 1541, Óbuda, Buda e Pest foram tomadas pelos turcos do Império Otomano e somente reconquistada 145 anos depois pelos exércitos poderosos do Império Austríaco, patrocinados obviamente pelo Santo Império.

Sob o domínio dos Habsburgos, Pest cresceu rapidamente entre os séculos XVIII e XIX (É dessa época o estilo arquitectónico predominante actualmente em Pest, bem como uma organização urbana exemplar).
No ano de 1849, o governo revolucionário (da revolução iniciada em 1848 com o objectivo de restabelecer a monarquia e território húngaro independente dos austríacos, reprimida no mesmo ano de 1849) ainda decretou a fusão das três cidades mas foi somente em 1867 que os austríacos concederam o direito aos húngaros para formarem um governo autónomo e por tal a fusão efectiva aconteceu no ano de 1873, Budapest, capital da Hungria sob o compromisso da monarquia Austro-Húngara.

Tal como é sabido, os húngaros aliaram-se aos alemães na II Guerra mundial, razão pela qual Budapest foi fortemente bombardeada pela aviação americana e posteriormente arrasada no processo de ocupação dos soviéticoss. Os alemães apenas dinamitaram as pontes sobre o Danúbio para impedirem o acesso do exército vermelho, a restante destruição foi da inteira responsabilidade dos “libertadores”.
Nos distritos (freguesias) VIII e IX de Budapest (no lado de Pest) são inúmeros os edifícios que ainda exibem as marcas desses danos (nunca foram reparados por alguma falta de capacidade financeira) e nos distritos centrais, também de Pest, é comum verificar alguns edifícios ainda apresentando perfurações da artilharia soviética na resposta à revolução de Outubro de 1956.
Os distritos de Budapest são numerados no sentido horário a partir do centro (sequencia numérica em espiral) e as suas denominações têm origem maioritáriamente nos nomes das antigas vilas, aldeias ou lugares que aos poucos foram incorporadas nas três cidades (Óbuda, Buda e Pest), hoje tidos como bairros.

A cidade de Budapest tem 9 pontes (Árpad híd, Margit híd, Széchenyi lánchíd, Erzsébet híd, Szabadság híd, Petöfi híd, Lágymányosi híd e as outras duas são ferrovia), 3 estações ferroviárias (Dély pályaudvar, Keleti pályaudvar e Nyugati pályaudvar, respectivamente estações sul, este e oeste), é servida por um moderno aeroporto internacional (Ferihegy) e uma excelente rede viária, ponto de partida de auto-estradas que a conectam directamente a Bratislava e Viena, bem como Ljubjana, Zagreb e aos limites fronteiriços com a Ucrania, Roménia e Sérvia.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Luxembourg

Luxemburgo é a capital do Grão-Ducado do Luxemburgo. Se 39,6% da população do Luxemburgo é estrangeira, 16% são portugueses.

A constituição de 1868 define o Luxemburgo como uma monarquia constitucional, sendo o actual chefe de Estado o Grão-Duque Henrique do Luxemburgo.

Este país membro (e co-fundador) da União Europeia tem o maior PIB per capita do mundo.

Tendo como vizinhos, a Alemanha, a França e a Bélgica, o Grão-Ducado do Luxemburgo está dividido em 3 distritos (Diekirch, Grevenmacher, Luxemburgo), que por sua vez estão subdividos em 12 cantões e estes em 116 comunas.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Andulo

Desde o Kuíto (Silva Porto) é relativamente simples alcançar Andulo, apenas menos fácil devido ao estado das estradas e à quantidade de minas instaladas em partes do percurso. Chegando ao Kunge há duas opções ou segue-se para a direita rumo a Camacupa (General Machado), Catabola e Cuemba (Neves Ferreira), ou para a esquerda em direcção a Cunhinga e depois Andulo.
Andulo foi uma das paragens mais famosas de Jonas Savimbi. Com dimensões bem inferiores ao Kuíto, ali também existe uma pista de aviação (um terreno de terra batida bem plano, preparado para aeronaves de médio porte com sistema de arrasto).
Pintado numa parede exterior de um edifício de habitação encontra-se a seguinte inscrição tosca: "Kaputowafa", segundo explicação de quem entende Umbundo, significa "o branco morreu".

Poucos saberão o que significa "CMA 1972" na calçada do jardim central, óbvio para um Português, mas porque actualmente a instituição tem nome de "Administração municipal" e não "Câmara municipal", aquelas letras no chão da calçada é "criptologia de branco".

O Andulo não está muito estragado, fora os efeitos da "paragem" no tempo, de pouca ou nenhuma manutenção. No centro, existe ainda a mesma placa de indicação quilométrica para Luanda e Nova Lisboa (iguais às que ainda existem em Portugal, tipo seta, em pedra ou betão, pintadas a branco e com letras pretas). Embora a palavra Nova Lisboa tenha sido substituída por Huambo, a placa é de "baixo relevo", assim as letras Huambo foram pintadas sobre o relevo de Nova Lisboa, porque a placa é a mesma de há 35 anos.

A antiga ponte em betão (para quem entra desde o sul) foi dinamitada, sendo apenas possível aceder de carro por uma construção provisória em madeira (a uma cota bem inferior).

No mercado encontram-se alguns alimentos, os do costume, enlatados de origem portuguesa (maioria) ou chinesa, galináceos e alguns produtos hortícolas.

Na foto encontra-se um galo preto (baptizado de Jonas, por mera brincadeira), que depois de ter sido adquirido ainda sobreviveu uns dias no Kuíto até ser degolado, porque era deficiente mental (conclusão obtida pelo facto de ter uma mania de cacarejar durante toda a noite e na hora do dia nascer era mudo, em oposição aos galos dos vizinhos).

Imagens captadas em 2004 no Andulo, província do Bié.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Os Mármores de Elgin

A construção do Partenon (templo da deusa grega Atena) começou no ano 447 a.c e finalizou em 433 a.c. (para substituir um antigo templo destruído por uma invasão dos persas em 480 a.c.)

Sob ocupação otomana durante séculos, grande parte do património arquitectónico da Acrópole foi desfigurado ou destruído. Edificaram-se ali mesquitas, minaretes, paióis, etc. O próprio Partenon sofreu um imenso dano em 1687 quando venezianos, liderados por Francesco Morosini, atacaram Atenas (um tiro de canhão acertou neste edifício que ao momento era utilizado como paiol de pólvora, explodindo). Em 1801, o embaixador britânico em Constantinopla, Lord Elgin, obteve uma permissão do Sultão para estudar e eventualmente colectar algumas esculturas que achasse. Empregou trabalhadores locais para retirá-las das paredes do edifício e até recolheu algumas do chão.

As esculturas pertencentes ao Partenon (à frontaria) estão no British Museum, conhecidas como os Mármores de Elgin. Outras esculturas estão no Louvre em Paris ou em Copenhaga.

O governo grego desde a sua independência (em 1832) até ao presente tem feito campanha pela devolução das esculturas, mas o British Museum nem sequer considera essa possibilidade, sendo que os próprios governantes britânicos tampouco mostraram empenho em respeitar esse direito patrimonial do co-membro da União Europeia.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Dresden

Dresden é daquelas cidades que vale a pena visitar, para reflectir sob duas perspectivas o mesmo assunto: Como foi possível permitir que a violência na Europa, nomeadamente a alcançada na II Grande Guerra Mundial, deixasse tombar autênticas maravilhas arquitectónicas, e por outro lado como o Homem tem por vezes essa capacidade de refazer aquilo que tem sentido e que não merece ser perdido.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Silva Porto (2)

A poucos quilómetros de Kuíto, encontramos o Kunge. Ali decidiram fazer passar a via ferroviária (Linha de Benguela). O Kunge teve fábricas, silos para cereais, panificadoras, armazéns industriais de algum porte, indústrias para moagem de milho (teve, porque agora não tem, somente se encontram as ruínas dos edifícios) e ao seu redor algumas moradias, casas comerciais (tipo mercearias e drogarias), cafés, uma escola, uma igreja e o mais importante, a estação ferroviária (com características mais comerciais do que turísticas, tendo em conta a quantidade dos ramais e de plataformas de descarga com gruas e acesso a meios rodoviários pesados). Hoje, tudo isto está inoperacional porque foi destruído com essa intenção. O caminho de ferro não funciona, nada faz sentido no Kunge excepto as instalações que a Sonangol utiliza para reservar combustíveis e no fundo as populações que tomaram as casas como habitações, pese embora não existir actualmente água canalizada e a maior parte das edificações deixou de ter portas, janelas ou cobertura.
A estação não é mais do que a frontaria, mas continua a ser o edifício mais emblemático de todos apesar das suas dimensões, afinal a ferrovia foi a razão de existência deste lugar.
Curiosamente encontra-se em plena via uma locomotiva da CFB, ferrugenta e a servir de diversão à criançada que se imagina condutor (não maquinista, porque qualquer cidadão com idade inferior a 30 anos nunca viu um comboio em funcionamento, nem ao vivo nem por imagens, porque a televisão é assunto que funciona a electricidade e isso também nunca existiu para os mesmos, portanto sabem pouco do que se trata, só os mais velhos podem contar). A locomotiva reboca alguns atrelados com manilhas de betão (daquelas que servem para fazer condutas para sistemas de esgotos ou desvio de caudais) de grandes dimensões, tão pesadas que permanecem nos estrados que apodrecem, impecáveis, aguardando um dia serem içadas por uma grua.
Quem desde Benguela enviou aquela mercadoria, desconhecia certamente que o destinatário entretanto já tinha retornado à metrópole, tal como o maquinista após frenar também verificou que a estação já não era estação mas apenas um lugar fantasma.
Imagem captada em 2004 no Kunge, província do Bié

Lisszabon

Era dia de semana, azul e luminoso, e passeávamos pela cidade de meu coração, a cidade que amo acima de todas, porque lá fala-se a minha língua e a minha língua é a minha Pátria, como Pessoa afirmou. O caos é ele próprio uma forma de vida e cidade alguma consegue mimar-nos como Lisboa, com a luz de Lisboa. A primeira luz que vi, a primeira cor do mundo foi a cor de Lisboa e a última cor que verei, será a de Lisboa também?
Cidade branca, cidade cinzenta, cidade azul, pintada de cores e humores, caprichosa e voluntariosa, paciente e terna. Como línguas, as ruas alongam-se até ao rio. Há carros, sempre carros e camionetas e comboios e eléctricos. Outrora amarelos, mas ainda da Carris. Há pobres e ricos, há pretos e brancos, há louros e morenos, há mães e putas, há viúvas e órfãos. Há pedintes, nacionais e estrangeiros, anunciando o advento da multiculturalidade também nesta “triste forma de vida” e arrumadores, andrajosos e miseráveis, quase todos, convictos no desempenho da sua função e sempre sequiosos da recompensa, obtida mais por receio do que merecimento.
A vida flui calma no stress mediterrânico de quem tem muito que fazer, embora os horários mais não sejam do que ténues pontos de referência para quem quer ver as notícias das oito ou das dez ou as incontáveis telenovelas de gosto duvidoso, cujo efeito terapêutico provoca uma catarse, colectiva e individual, em domésticas e executivas, ecoando no ar como um sonoro orgasmo simultâneo.
Assim é a minha cidade. Magnífica, como só ela sabe ser, e todos os dias ela cresce, a cidade, e se deixa descobrir, brindando-nos com as inúmeras vistas e as perspectivas sempre renovadas, ângulos novos reveladores da alma da urbe. Eternamente, o Miradouro de Santa Luzia. Sempre Alfama, sempre o Castelo e a Sé, mas também as zonas ribeirinhas onde paira amiúde a maresia, a maresia do rio. Cheira-me repentinamente a sardinha assada e a manjerico de Santo António de Lisboa, e a cidade torna-se ainda mais colorida, mais feérica.
Agrada-me a Lisboa dos roteiros turísticos, a Lisboa brejeira e varina, de braço dado com a mais sofisticada e elegante, e esqueço os subúrbios quase imorais de tanta fealdade e, agora que se me foi o cheiro da sardinha, regressa o fumo semi-opaco das castanhas assadas e sim, agora sim, agora ecoam os versos de Cesário Verde que, também ele, cantou Lisboa, o Tejo e a maresia, e vejo o bulício espesso de que falava Nas nossas ruas, ao anoitecer...
Extracto do texto "Lux" editado no blogue "Geração rasca", por Leonor Barros em 14 de Junho de 2007

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Munenga

A escola da Munenga, lugar junto ao cruzamento da ligação Quibala-Dondo (a estrada interior que liga Huambo a Luanda, passando pelo Bailundo, Alto Hama, Cela, Quibala, Dondo, Viana) com a estrada que segue para Calulo e daí segue para Cabuta.
As crianças são muitas, mas não são deste lugar porque ali só existem meia dúzia de casas (escombros), uma igreja e uma espécie de mercearia. Mas as crianças que percorrem quilómetros a pé desde os seus diferentes Kimbos para aprenderem a ler e escrever aparecem por entre as árvores (cafeeiros) que mais parecem arbustos e juntam-se todas pela manhã à espera que o professor entretanto apareça. A hora de leccionar não é certa, mas isso pouco importa num local em que não existem mesas nem cadeiras, nem livros nem lapiseiras.
A "fotografia de turma" foi o delírio dos miúdos.
Imagem captada em 2004 na Munenga (Município do Libolo), província de Kwanza Sul

A Quinta de Santa Bárbara

O almoço na Quinta de Sta. Bárbara foi por ocasião da celebração de uns magníficos quarenta anos de união matrimonial, junção de facto e por contrato desde 10 de Junho de 1967 em comunhão atestada em caderno de conservatória do registo civil da República Portuguesa.
Na mesa principal da sala histórica Inácio Loyola, de pedra robusta junto à lareira, o manjar proposto e anuído pelos convidados passou pelo Polvo à Lagareiro com migas e batata assada, bem como pelos Lombos de porco preto com maçã cozida e castanhas assadas, iguarias deliciosas acompanhadas a verde branco.
Sobranceira à Vila de Constância, a Quinta de Stª Bárbara com origens no séc. XV pertenceu ao amigo de Camões, D. Francisco Sampayo e Mello, a quem este dirigiu a trova Quinta e derradeira no banquete das trovas oferecido em terras de Goa, Índia.
A Quinta foi comprada a 19 de Setembro de 1695 por D. Fernando Martim Mascarenhas de Lencastre, antigo governador da Índia e de Pernambuco no Brasil, que efectuou grandes reformas nas casas nobres.
No séc. XVIII, desde 8 de Março de 1714 até 28 de Julho de 1759, esta Quinta foi propriedade dos padres Jesuitas que entregaram a António de Pádua a responsabilidade de efectuar a recuperação da capela.
O seu actual proprietário que a adquiriu nos anos setenta de século passado, apaixonado pelo restauro, adaptou o solar da Quinta de modo a receber hóspedes e recheou-a de obras de arte e antiguidades.
A 1 quilómetro da vila de Constância, a Quinta de Sta. Bárbara dispõe de quartos para pernoita com lareira e vistas panorâmicas, espaços ajardinados, piscina e diversos recantos mais ou menos românticos cobertos por latadas.
O majestoso Castelo de Almourol (séc. XII) encontra-se a 3 quilómetro de distância e podem ser feitas descidas no rio Zêzere em canôa, frequentar um picadeiro ou dar uma “espreitada” no recente Observatório Astronómico de Constância, colado aos muros da Quinta. Perto também existe um court de Ténis e um campo para treino de Golf.

sábado, 9 de junho de 2007

Széchenyi István

István Széchenyi (Vienna 1791 - Döbling 1860)
O Conde István Széchenyi foi o grande politico húngaro do século XIX e o maior responsável pelas reformas sociais do início deste século.
Nas mãos deste escritor e politico, a Hungria experimentou o maior desenvolvimento a todos os níveis, principalmente económico.
Viajante e conhecedor da modernidade da Inglaterra e da França, por entre muitas viagens efectuadas por diferentes países da Europa, esforçou-se para implementar na sua terra aquilo que lhe pareceu ser o mais apropriado daquilo que observou.
Financiando algumas obras com a sua fortuna pessoal, fundou a Academia Nacional de Ciências (1825). Em 1830 introduziu a navegação a vapor no Danúbio, nos anos seguintes dinamizou a produção literária científica e técnica, onde foi responsável por vários apontamentos de economia moderna, construiu estradas, a primeira ponte suspensa (lanchíd) em Budapest, o caminho de ferro, sendo talvez a mais importante de toda as sua obras, a preparação do leito do Danúbio, permitindo a navegabilidade até ao Mar Negro.
Em termos políticos, Széchenyi era inicialmente leal aos Habsburgos, por tal não aceitou pertencer a movimentos nacionalistas e independentistas, tampouco permitiu que fosse possível o plano de “separatismo” étnico da Hungria (movimento de “magyarização” forçado de eslavos e germânicos). A sua posição na Guerra de Independência (1848-49) não foi relevante em termos de protagonismo (Kossuth e Batthyány foram os grandes mentores), porém a consequência da derrota levou ao seu suicídio após internamento em sanatório (porque escreveu um artigo condenatório ao poder absolutista dos Austríacos e porque defendia apesar de tudo que a liberdade da Hungria significaria progresso económico).
Em Nagycenk é possível visitar o antigo palácio da familia Széchenyi onde se pode apreciar uma exposição sobre as obras e a vida do “Legnagyobb Magyar” (o grande-maior Húngaro) István Széchenyi