terça-feira, 19 de junho de 2007

Silva Porto (2)

A poucos quilómetros de Kuíto, encontramos o Kunge. Ali decidiram fazer passar a via ferroviária (Linha de Benguela). O Kunge teve fábricas, silos para cereais, panificadoras, armazéns industriais de algum porte, indústrias para moagem de milho (teve, porque agora não tem, somente se encontram as ruínas dos edifícios) e ao seu redor algumas moradias, casas comerciais (tipo mercearias e drogarias), cafés, uma escola, uma igreja e o mais importante, a estação ferroviária (com características mais comerciais do que turísticas, tendo em conta a quantidade dos ramais e de plataformas de descarga com gruas e acesso a meios rodoviários pesados). Hoje, tudo isto está inoperacional porque foi destruído com essa intenção. O caminho de ferro não funciona, nada faz sentido no Kunge excepto as instalações que a Sonangol utiliza para reservar combustíveis e no fundo as populações que tomaram as casas como habitações, pese embora não existir actualmente água canalizada e a maior parte das edificações deixou de ter portas, janelas ou cobertura.
A estação não é mais do que a frontaria, mas continua a ser o edifício mais emblemático de todos apesar das suas dimensões, afinal a ferrovia foi a razão de existência deste lugar.
Curiosamente encontra-se em plena via uma locomotiva da CFB, ferrugenta e a servir de diversão à criançada que se imagina condutor (não maquinista, porque qualquer cidadão com idade inferior a 30 anos nunca viu um comboio em funcionamento, nem ao vivo nem por imagens, porque a televisão é assunto que funciona a electricidade e isso também nunca existiu para os mesmos, portanto sabem pouco do que se trata, só os mais velhos podem contar). A locomotiva reboca alguns atrelados com manilhas de betão (daquelas que servem para fazer condutas para sistemas de esgotos ou desvio de caudais) de grandes dimensões, tão pesadas que permanecem nos estrados que apodrecem, impecáveis, aguardando um dia serem içadas por uma grua.
Quem desde Benguela enviou aquela mercadoria, desconhecia certamente que o destinatário entretanto já tinha retornado à metrópole, tal como o maquinista após frenar também verificou que a estação já não era estação mas apenas um lugar fantasma.
Imagem captada em 2004 no Kunge, província do Bié

2 comentários:

Unknown disse...

Caro
Está, lá em casa, algo para sí!

Abraço

Anónimo disse...

Está a acontecer o mesmo no meu computador (no do trabalho).

Exprimente tentar consultar o esquerda-republicana.blogspot.com (às vezes também acontece isso quanto vou ao ER)

Miguel Madeira