quinta-feira, 30 de abril de 2009

Lusíadas ou Don Quijote?

Não é maior esforço comparar Luís Vaz de Camões com Miguel de Cervantes Saavedra, pelo facto de serem contemporâneos e terem garantido o mais alto reconhecimento por artes de escrita a título póstumo.
Enquanto as suas vidas foram recheadas de aventuras e desventuras, onde não faltaram a ambos diversas viagens terrestres e marítimas, participações em guerras, contacto com culturas distintas, aprisionamento por duelos ou endividamento, as suas obras seguiram rumos completamente distintos, no estilo e no conteúdo.
Camões produziu principalmente poesia lírica ou amorosa e algumas peças de teatro, de onde se destaca Os Lusíadas, uma obra poética com 1102 estrofes e que tem como argumento principal uma descrição da descoberta do caminho para a Índia pelo navegador Vasco da Gama e partes da história de Portugal. A obra Os Lusíadas glorifica a nação portuguesa da primeira à última oitava.
Camões morreu pobre porque é esse o destino natural dos que se dedicam quase exclusivamente à poesia.
Cervantes escreveu essencialmente teatro e novelas onde integrou alguma poesia. A grande obra reconhecida deste autor é El ingenioso hidalgo Don Quixote de la Mancha, uma novela moderna escrita em duas partes (a segunda parte é El ingenioso caballero Don Quixote de la Mancha), um livro de entertenimento e paródia, recheado de peripécias cómicas ou disparates muito bem escritos, com propósitos de divertir qualquer tipo de leitor. Alguns episódios ou partes desta novela foram aproveitados de umas peças escritas pelo árabe Cide Hamete Benengeli, sobre as quais Cervantes comprou os direitos da tradução, enquanto outros foram adaptados por causa de plágios que ocorreram de outros escritores espanhóis.
Cervantes não enriqueceu porque nunca registou os direitos de propriedade e exclusividade da sua principal novela fora de Castilla. A novela Don Quijote tornou-se tão popular que foi alvo de milhares de cópias e traduções, vendidas mais baratas do que as edições originais.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Preto no branco

O momento ficou memorizado assim a cores, na pista do Aeroporto de Lisboa, junto à aeronave que havia de transportar o mais pequeno para Budapeste.
A “força terrena” que trata das máquinas, transportes e bagagens também sabe lidar com assuntos logísticos de menor dimensão mas da maior importância.
Portugal assume esta vantagem sobre os restantes países europeus, os seus cidadãos nascem com um senso iluminado de altruísmo e bondade natural, sem que até pareça lógico em termos comportamentais dada a diversidade étnica da sociedade.
Embora seja verdade para qualquer nacionalidade que a maior formação académica das suas gentes não significa maior educação por natural consequência, a concepção que os portugueses têm da sua cidadania, no seu mais amplo sentido, é algo inexplicável, como um dom de graça divina.

Chaque jour qui passe...

Chaque jour qui passe je t'aime davantage.

Aujourd'hui plus qu'hier et bien moins que demain.

sábado, 25 de abril de 2009

O fim do Estado Novo

"Apenas sabemos que a revolução do dia 25 de Abril de 1974 foi importante. Segundo o preâmbulo da constituição foi importante porque marcou o “início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa”. Foi simplesmente importante porque aconteceu, como talvez fosse importante se nunca tivesse acontecido. Talvez, nunca saberemos."
James Stuart in Szerinting, a 25 de Abril de 2007.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Salazar e o Estado Novo

António de Oliveira Salazar, (Vimieiro de Santa Comba Dão, 28 de Abril de 1889 – Lisboa, 27 de Julho de 1970), foi Professor universitário em Coimbra (Ciência Económica) desde 1918, Ministro das Finanças a partir de 1928 e Primeiro-ministro de Portugal entre 1930 e 1968.
"Tudo pela Nação, nada contra a Nação"
A instauração da República, em 5 de Outubro de 1910 resultou somente em instabilidade política, injustiça social, lutas de trabalhadores, revoltas e tumultos, aumento do crime e impunidade aliados a uma profunda crise financeira.
"As discussões têm revelado o equívoco, mas não esclarecido o problema; já nem mesmo se sabe o que há-de entender-se por democracia".
A 28 de Maio de 1926, o exército comandado pelo General Gomes da Costa tomou o poder através de um golpe militar que se tornou conhecido por Revolução Nacional.
"Estado é a Nação socialmente organizada".
A revolução de 1926 encerrou o imprestável período de liberalismo republicano que sucedia ao constitucionalismo monárquico. Este movimento militar era portanto anti-liberal, anti-parlamentar e nacionalista.
"Manda quem pode, obedece quem deve."
A grave desorganização económica e financeira aliada a uma passiva incapacidade de resolução dos problemas estruturais e uma degradação continuada da imagem do país no plano internacional sustentada pelo anterior Estado democrático e liberal republicano, levaram ao aparecimento de um Estado Novo, promotor de progresso ordenado.
"Não devemos deixar entrar a desordem onde há ordem."
António de Oliveira Salazar foi de imediato convidado pela Ditadura Militar a assumir a tutela das Finanças do novo governo, mas após treze dias renunciou ao cargo por não terem sido satisfeitas as condições que determinou como indispensáveis ao seu exercício de funções.
"Sei muito bem o que quero, e para onde vou!"
Em 1928, após a eleição presidencial do Marechal Óscar Carmona, António Salazar assumiu o cargo de Ministro das Finanças, na sequência do fracasso do seu antecessor em conseguir empréstimos externos para compensar as dívidas públicas.
"Não tem que agradecer-me ter aceitado o encargo, porque representa para mim tão grande sacrifício que por favor ou amabilidade o não faria a ninguém. Faço-o ao meu país como dever de consciência, friamente, serenamente cumprido".
O primeiro passo foi o equilíbrio das contas públicas, por medidas austeras de controlo de despesa e captação de receita, invertendo o défice permanente. Consequentemente tornou-se possível controlar a elevada inflacção através da estabilização de preços.
"Ensinai aos vossos filhos o trabalho, ensinai às vossas filhas a modéstia, ensinai a todos a virtude da economia. E se não poderdes fazer deles santos, fazei ao menos deles cristãos".
O corporativismo foi a forma de organização económica e social encontrada para ultrapassar os problemas gerados pelo capitalismo liberal e uma forma de ultrapassar a luta de classes, ideia central da ideologia marxista.
"Não discutimos Deus e a virtude. Não discutimos a pátria e a sua história. Não discutimos a autoridade e o seu prestígio. Não discutimos a família e a sua moral. Não discutimos a glória do trabalho e o seu dever."
Ao Estado liberal, abstencionista em matéria económica e laboral sucedeu um Estado intervencionista na economia, aceitando o capitalismo, mas reconhecendo a função social da propriedade, do capital e do trabalho, obrigando os indivíduos a viverem num clima de harmonia social e deixando para o Estado o papel de regulador da vida económica e social.
"Em política, o que parece é”
O corporativismo do Estado Novo promoveu portanto a harmonia, em oposição ao clima de constante confrontação social conhecido anteriormente. O facto do poder executivo depender pouco de partidos políticos tornou o Estado forte e bastante independente de influências externas, num mundo transformado por uma grande guerra, com o aparecimento de novos países e diferentes centros de poder internacional.
"As Nações Unidas são inúteis. [...] São também nocivas. Não passam de um terreno onde floresce a demagogia com um bando de países recém nascidos, desprovidos de qualquer tradição.”
É verdade que o corporativismo do Estado Novo não foi perfeito, não resultou em toda a linha tampouco pôde ser aplicado na totali­dade da lógica do seu sistema. Isto aconteceu em parte porque a 1ª República havia alimentado em curto espaço de tempo demasiados preguiçosos e incompetentes, corruptos e traidores, sem a mesma integridade e autoridade moral do governante.
"No dia em que eu abandonar o poder, quem voltar os meus bolsos do avesso só encontrará pó."
Salazar tinha melhor do que ninguém um sentido da grandeza do Estado mas a noção das suas proporções. A sua aversão por sistemas políticos do tipo fascista totalitário como eram os da itália e Alemanha na década de 30 (O Primeiro-ministro português nutria um profundo desprezo intelectual pelos seus homólogos destes dois países), como também animosidade quanto a democracias multipartidárias que se perdiam em discussões estéreis e em erros condenáveis pela história (exemplo da que havia envolvido Portugal na 1ª Guerra Mundial, consumindo inutilmente as energias da nação), tornaram o Estadista impopular.
"Não se pode, ao mesmo tempo, governar e encantar a multidão."
Os discursos de Salazar são dignos de estudo e reflexão, não somente pela sua actualidade mas principalmente como exemplo de genialidade em pensamento político. O valor da autoridade e respeito para garantir a liberdade, demonstrado numa dimensão que extravasava os interesses particulares em favor dos interesses da Nação, remeteram o líder para uma rota de dever pessoal conduzida orgulhosamente só.
"Vós pensais nos vossos filhos, eu penso nos filhos de todos vós".
A imagem apresentada pertence à capa da revista Time, edição de 22 de Julho de 1946.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Venezia

Veneza, a cidade dos mitos e segredos, das artes e palcos, de amor e coincidências, são cento e dezoito ilhas num emaranhado de canais fácil de entender quando visualizados em mapa, mas complexo por palavras, simplesmente fascinante.
O Canal Grande é o trajecto que importa tomar na viagem de Vaporetto (o transporte público fluvial que faz o lugar de um autocarro, parecido com um Cacilheiro em miniatura) para alcançar a afamada Piazza San Marco. Porque as paragens e apeadeiros são imensos até lá chegar, a capacidade de armazenamento da máquina fotográfica deve ser razoavelmente boa, porque tudo parece monumental na cidade líquida, extraordinário se o céu estiver puro de azul.
É verdade que a referida praça principal (onde se encontra o Leão de Ouro, símbolo da Cidade-Estado, presente também na bandeira) é um ponto obrigatório para o turista apressado, desafogado de vistas mas apinhado de gentes, onde o Grande Canal se funde com o Canal della Giudecca e se captam óptimas imagens de longo alcance panorâmico.
A ordenação numérica das portas está organizada por sestieri (bairro) e não por ruas, o que significa que cada um dos seis bairros de Veneza (Cannaregio, Castello, Dorsoduro, San Marco, San Polo e Santa Croce) tem a sua organização sequencial independente.
Na primeira quinzena de Junho é quando tudo acontece na Serenissima, festivais, exposições, festas e concertos, onde se juntam artistas, coleccionadores, curadores, críticos e jornalistas, para a Bienal Internacional de Artes nos anos pares, para a Bienal de Arquitectura nos anos ímpares, também a Bienal de Teatro, Dança e Música. Fora deste mês, ou seja em Setembro acontece o Festival Internacional de Cinema, o mais antigo do mundo.
Desde a “entrada” de Veneza, um bilhete simples (comprado na bilheteira) de transporte público custa 6 Euros, não importa o destino, seja mais apropriado para o turista estreante a utilização do vaporetto nº 1 aquele que percorre o Gande Canal, já referido ser o mais interessante. Não esquecendo que uma ida obriga a uma volta, conte-se com outros 6 Euros, a menos que a ideia seja saltitar de cais em cais durante 72 horas e assim compensa o passe de 33 Euros. Para os mais exigentes de privacidade, uma viagem de taxi (lancha em madeira, a motor) custará entre os 70 a 100 Euros, dependendo do destino, enquanto para os tradicionalistas, o passeio de gôndola é qualquer coisa como 100 Euros por hora.
A falta dos automóveis é um benefício para o ambiente, uma poluição baixa no ar, compensada no entanto com uma alta das águas. A ausência de ruído de motorizações seria também uma vantagem, não fosse a quantidade imensa de turistas e artistas, comerciantes e actores que se fazem notar, não somente nos dias do sumptuoso Carnaval de festas e surpresas mascaradas.
Com mais tempo e sem o azar de “apanhar” uma Acqua Alta (marés vivas) durante a visita, vale a pena visitar o imponente Museo Storico Navale, a Igreja de Santa Maria Formosa, do séc. VII e o mercado de Rialto (este aos sábados de manhã) ou então seguir as vias de Casino Royale e armar ao James Bond, de preferência sem uma mala de rodinhas a esfolar-se por arrasto nos degraus das pontes.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O Areias...

Homok egy teve, van két púpja és sok szőre…
A Colorado cirkusz tulajdona és most Budakalászon van.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Que sonhos de bebé?

Dizem que os bebés em gestação sonham enquanto dormem, mas não é fácil de confirmar porque as únicas coisas de que podem verdadeiramente recordar-se são luzes, movimentos e sons diferentes... música, vozes e ruídos.
O sol provoca uma claridade que lhes aparece de todos os lados e sentem adicionalmente o calor, adormecem. Ao contrário, quando está muito escuro, ou somente existe um pontinho de luz, as mães costumam ficar quietinhas e eles tomam essa oportunidade para se exercitarem.
O som mais habitual para os bebés é a voz da própria mãe, fala para muitas pessoas e por seu turno essas respondem como se intercaladas, por vezes muito baixinho sempre depois de uma música, quando é ao telefone.
Quando se dá o monólogo entre mães e bebés, eles talvez se apercebam disso porque sentem algo a tocar nos seus pés ou nos seus rabinhos enquanto ouvem.
Há também o sorriso e a gargalhada, som e acção simultâneas em coisa confusa, porque é “ah-ah-ah-ah” com um chocalhar intenso e repetitivo da barriga.
Os bebés recordam-se de músicas, o que não significa que gostem de todas. É comum memorizarem ruídos de máquinas quando estes perfazem ritmos.
Os bebés em gestação não podem sonhar com brinquedos e jogos, nem com baloiços ou mergulhos na água, porque são coisas que nunca viram nem tocaram, logo são incapazes de as imaginar.

sábado, 11 de abril de 2009

Deontologias, há muitas...

Ler ou ouvir uma notícia de jornal ou televisão significa obter normalmente relatos de factos sem rigor nem exactidão ou previamente interpretados sem honestidade. São factos raramente comprovados, onde todas as partes com interesses atendíveis nos casos nem sempre são ouvidas. A distinção entre notícia e opinião nem sempre fica bem clara aos olhos do público.
As informações obtidas por quem divulga as notícias são por vezes conseguidas por abuso de boa-fé ou de modo desleal e através de capturas não autorizadas ou até ilegais de documentos e imagens. O anonimato é confortável, as fontes nunca se descobrem até que isso também faça uma notícia, com proveito para alguém que não o público.

Os direitos de informar que alguns agentes julgam ter por via de uma consagrada liberdade de expressão, serve para tudo e não importa como. Há sensacionalismo, acusações sem provas e plágio.

É frequente serem divulgadas notícias mentirosas ou erros com consciência e propósito, onde a autoria dificilmente é assumida, mas quando é, no caso de aparecer protesto, são discretamente rectificadas as inexactidões e menor será o impacto, ou simplesmente é transformada a notícia em opinião, tornando a ofensa irrefutável.
A presunção de inocência de arguidos é desprezada e as vítimas de crimes bem como os familiares das vítimas ou dos criminosos são identificados ou filmados. Não importa os sentimentos nem a dor da vítima ou a humilhação dos familiares, só interessa obter a notícia ou captar imagens.
Existe uma postura generalizada de anti-racismo fundamentalista e cego, ou seja de interpretação tendenciosa aos factos que concernem as minorias, numa discriminação inversa onde os protegidos são tornados vítimas por terem cometido crimes.
A privacidade dos cidadãos não é respeitada e para todos os casos é enunciado o interesse público como justificativo. A recolha de declarações e imagens não costuma atender a condições de serenidade, liberdade e responsabilidade das pessoas envolvidas.
Há estatutos de independência e de integridade profissional fortemente comprometidos.
As imagens apresentadas, excepto a terceira, não são propriedade do autor.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Henri Matisse

Para lá da vidraça havia o sopé e a sombra daquela enorme e horrível estrutura de betão, espécie de acidente não orográfico chamado Estádio das Antas, denominação ignominiosa per si, entenda-se. Por uma questão de bom senso sentou-se portanto o mais distante possível das vistas, preparando-se para embuchar uma lasagna al forno quando deu conta do poster encaixilhado e pendurado, um bleu de Matisse.
Numa folha de caderno, copiou ali mesmo a toque de esferográfica a reprodução da obra fauvista no restaurante-pizaria da torre das Antas, edifício-sede das empresas de transportes públicos colectivos rodoviários e ferroviários do Porto, entre outras.
Henri-Émile-Benoît Matisse nasceu em Le Cateau, França, a 31 de dezembro de 1869. Estudou na École des Arts Décoratifs de Paris e fundou um movimento que explorava o sensualismo das cores fortes, evoluindo posteriormente para o equilíbrio entre a cor e o traço em composições planas, sem profundidade.
Tangier, a cidade mais europeia de Marrocos, influenciou fortemente Matisse na pintura, talvez não tanto como aconteceu com Paul Bowles na escrita, para uma composição livre e harmoniosa de cores bem delimitadas e que nunca se dissolvem em matizes, sempre sensuais ou de grande erotismo.
A carreira de Henri Matisse passou pela escultura, desenho e litografia, decoração de interiores e exteriores como complemento de arquitectura planeada e ilustração de papiers collés et gouaches découpées. Reconhecido na sua pátria e também no “Novo Mundo”, Matisse morreu em Nice a 3 de novembro de 1954.
Do “boneco” rabiscado na página pautada de um caderno, nasceu uma original variação de um nu azul ao estilo de Matisse.
Também uma versão alternativa, distinta no estilo e na técnica, um oposto de contraste, ambas em óleo sobre tela.
As imagens apresentadas, excepto a última, não são propriedade do autor.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Acima de tudo, feliz

A sua amizade é natural de sedução
e o seu amor permanente de paixão.
O seu carinho, abraço e beijo
é tudo o mais, maior que o desejo.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Árpád & Apa, diálogos imaginários

- Apa
- Sim?
- Como se chama o grande mar?
- Atlântico.
- E como se chama o grande lago?
- Balaton.
- Posso ver um deles?
- Gyere, vamos à varanda.
- Apa
- Sim?
- Onde é que há mais peixes, no Atlântico ou no Balaton?
- No Atlântico.
- Como é que sabes?
- Num oceano há sempre mais peixes do que num lago.
- Já os contaste?
- Igen
- Apa
- Sim?
- O Oceano Atlântico é de Portugal?
- Não, Portugal só tem uma parte.
- E as outras, são de quem?
- Dos espanhóis, dos franceses, dos brasileiros...
- E o Balaton também é de todos?
- Nem, esse é só dos húngaros.

Sztálin

Josef Stalin, filho de um sapateiro e de uma costureira, nasceu em Gori, no Império Russo, actual Georgia, a 18 de Dezembro de 1878. Apesar da educação obtida num seminário, aos vinte anos de idade já andava de propagandista e revolucionário na oposição aos Romanov, mas rapidamente acabou preso porque se envolveu na organização de assaltos e agitações violentas.
Quando se deu a revolução, em 1917, Stalin já pertencia ao comité do Partido Bolchevique (desde 1912), enquanto editor no jornal Pravda. Em 1922 tornou-se secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética sucedendo a Lenin (que faleceu dois anos depois), e foi o responsável pela ascensão do país ao estatuto de superpotência com os acontecimentos imediatos à derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, alguma expansão territorial e o estabelecimento da hegemonia soviética em parte da Europa Central.
Nos anos 30 Stalin criou uma estrutura policial e militar repressiva e limitadora das liberdades individuais, principalmente feroz aos opositores políticos do regime. Tendo se apercebido do grande atraso, em termos industriais e tecnológicos, que o seu país demonstrava em relação a outros, apostou em fortes programas de industrialização e colectivização forçada. Toda e qualquer oposição a essa linha de mudança era reprimida violentamente.
Em Agosto de 1939 Stalin acordou com Hitler o Pacto Ribbentrop-Molotov para a não agressão mútua onde se regulava a partilha do território da Polónia pela Alemanha e pela União Soviética. Ambos os países adiavam deste modo, mas por diferentes razões o confronto militar inevitável.
Durante toda a década de 40, a estratégia de Stalin em termos de administração territorial foi coerente com o modo de encarar a política e os seus opositores. Os prisioneiros alemães e húngaros da Segunda Guerra Mundial, os resistentes ou adversários internos, os separatistas das diferentes repúblicas da União Soviética, principalmente as bálticas, e todos os insatisfeitos com o regime socialista estabelecido foram deportados para o interior e norte do país, principalmente para a Sibéria. (As deportações de húngaros é apenas um pequeno exemplo da magnitude deste programa: Quando o "Exército Vermelho" invadiu a Hungria, foi estabelecido pela administração de Stalin uma quota mínima de prisioneiros a deportar para os campos de concentração da Sibéria, como forma de punição e aproveitamento de mão-de-obra escrava. Como a maioria dos jovens e adultos do género masculino tinham morrido na guerra a lutar ao lado dos alemães ou então, sendo sobreviventes eram prisioneiros de guerra dos americanos, a solução dos soviéticos foi deportar crianças e idosos apanhados à sorte nas ruas da capital ou nas aldeias de modo a preencher a quota estipulada).
As opções políticas adoptadas por Stalin são identificadas hoje em dia como as típicas de um regime dictatorial. É verdade que a repressão das liberdades individuais por forma de deportações massivas, a fome provocada (principalmente na Ucrânia) pela insistência em políticas agrícolas erradas, as execuções da justiça com pena capital e os aprisionamentos desajustados resultaram numa cifra de mortes na ordem dos 10 milhões de pessoas. Mas é também verdade que foi principalmente graças ao esforço e tamanho das forças armadas organizadas e comandadas por Stalin, que a Alemanha de Hitler inverteu a sequência de vitórias militares que a levaram ao armistício incondicional.
Josef Stalin faleceu por derrame cerebral em 5 de Março de 1953 e foi imediatamente substituído na governação por Malenkov embora tenha sido o seu sucessor Nikita Krushchev aquele que criticou duramente o estilo da governação anterior, denuciou os excessos cometidos e repudiou o sempre fomentado “culto de personalidade”, que na sua visão era desfavorável e contraditório nos "Estados Socialistas".
As imagens apresentadas, excepto a primeira, não são propriedade do autor.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Szent István

Tendo nascido em Esztergom com o nome de Vajk, o filho do Grande Príncipe Géza da Hungria sucedeu ao trono em 997. Aos vinte e poucos anos tornou-se o primeiro Rei da Hungria por decidir a submissão à autoridade eclesiástica do Papa, único meio para ver reconhecidas as fronteiras e escapar às ameaças fronteiriças de germânicos ou bizantinos. O envio de uma carta de benção e uma magnífica coroa em ouro adornada com pedras preciosas e cruzes apostólicas por parte do Papa Silvestre II, com o consentimento de Otto III Imperador do Sacro Império Romano, foram também o reconhecimento da independencia da Hungria ao Sacro Império. István foi coroado no ano 1000.
István organizou o país administrativamente em oposição ao sistema tribal por grupos de famílias na divisão territorial instituído desde o estabelecimento da nação no território. Para difundir a fé cristã, no seu reinado foram construídas igrejas, conventos e escolas. Para uma eficiente organização económica, estabeleceu o controlo sobre cunhagem de moeda. Morreu no ano 1038 em Székesfehérvár e sem deixar descendentes, tendo sido canonizado posteriormente pelo mérito na cristianização do seu próprio povo e ainda cognominado de Honalapitó (Fundador).

Murgeira 6/6

Memórias são poucas e dispersas, tão pouco objectivas quanto a momentos e sentimentos como vagas nas formas e espaços.
As raras limonadas experimentadas enquanto adulto, avivam a memória das muitas tomadas enquanto criança, de um limoeiro existente nas traseiras e que era a árvore mais especial de todas no pequeno pomar, apenas porque necessitava de muita água, sim do poço atirada em baldes. Quando apareceu a água canalizada alguns objectos deixaram de fazer o mesmo sentido, exemplo do cântaro em plástico azul com uma forma assim como que trapezoidal e que permanecia na cozinha junto à bilha de barro, de reserva.
Da família que normalmente se encontrava na Murgeira ficaram entre outras, palavras e expressões como a já referida “caneta de cinco bicos” ou o “chincachéque”, ainda hoje utilizadas com a maior normalidade.
O pão de todas as manhãs, transformado em torradas por opção, é o mesmo de sempre, mistura de trigo e centeio.
Os hábitos de leitura são outros, é maior a diversidade, mas igual o empenho, embora nunca aconteça ler sentado numa cadeira junto à porta da entrada.
A televisão branca está ali em cima do frigorífico, sempre presente, à vista mas a pouca distância deste parágrafo.

Cada um com as suas

Nunca ler mais do que um livro de cada vez. A leitura completa de um livro é idêntico a tudo o que se alcança numa vida, tem mais valor a coisa inteira do que diversas partes em separado.

Murgeira 5/6

Não raras eram as vezes em que a visita à avó durava o inteiro fim de semana. O melhor dessas ocasiões era definitivamente o cheiro a café pela manhã e as fatias do pão regional, a que chamavam de caseiro, barradas com manteiga. No entanto a pernoita era horrorosa, não somente pelo mêdo de papões em forma de aranhiços, melgas e mosquitos, mas pelas dores nas pernas de um frio que impiedosamente entranhava nos ossos e nem sacos de água quente por vezes valiam ao desconforto.
Havia um neto preferido a mais do que os outros, por razões que somente a avó saberia explicar embora nunca o tenha feito. Dizer cumplicidade pode parecer estranho, mas era algo dessa espécie a relação entre os dois: às escondidas dos outros aconteceram as primeiras provas de vinho e a iniciação ao café. Para sempre ficou na memória a intolerância quanto ao recheio excessivo nas sandes “ou queijo ou fiambre, mas não os dois ao mesmo tempo”. Ficou para sempre esse conceito.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Reencontrar o passado

Não pintavam quadros nem escreviam livros, mas construíam obras de arte a que chamavam rendas, a sua sabedoria. Os desmandos da moda transformaram essa actividade artística em artesanato, remetendo a maioria das peças ao esquecimento por serem mais decorativas do que funcionais.
Reencontrar o passado é observar cada pormenor inscrito nos pontos altos e baixos que desenham flores e formas e tentar adivinhar os pensamentos, as emoções e os sentimentos das suas obreiras e que subtilmente se entrelaçaram nas rendas, materializando assim as suas memórias.
Reencontrar o passado é uma adaptação livre de Mulheres de arte e coragem, de Maria João Martins, publicado em Pequenos detalhes. A imagem apresentada é sua propriedade.

Murgeira 4/6

Ir a Mafra, modo mais corrente ou simplista de referir a Murgeira, envolvia muito mais de interessante do que visitar a avó e rever os mamíferos da Tapada. Numa primeira etapa, porque auto-estradas não haviam e os percursos eram por assim dizer mais demorados, parava-se sempre na Malveira. O principal eram as trouxas, mas quando havia mercado, nome simpático para um arruamento com barracas e bancas de venda ambulante, sempre se levavam algumas broas de erva doce em forma de ferradura e um pão típico, chamado de Mafra e que naquele tempo não era fabricado na Encarnação como agora são todos. Depois havia a passagem lenta frente à fachada do convento que sempre fascinava e ainda hoje fascina.
A última paragem, a poucos metros do destino, era sim por obstáculo, as carrinhas do Albino merceeiro ou similares de seus clientes impediam o acesso. Era portanto quase matemática a necessidade de entrar no estabelecimento para reivindicar a desobstrução da serventia. O cheiro a bacalhau e a enchidos na loja era apenas uma questão de pormenor para um ambiente predominantemente sujo que atraía moscas e afins às dezenas, num espaço exíguo onde se acatitavam grandes sacas de feijão e outros leguminosos junto ao pavimento e tantos objectos de drogaria mais do que os imensos de mercearia.

Portugal profundo

No Portugal profundo poucos sabem ler e escrever ou simplesmente dizer algo que sirva de ensinamento. Imbuídos de um sentimento de esperteza superior, é o álcool que lhes dá a força de braços mas destrói a clareza de espírito, que assumem orgulhosamente ser natural a ponto de por vezes nem sequer saberem pronunciar correctamente o seu próprio nome quando sóbrios.
É verdade que as gentes do Portugal profundo são generosas e humildes, sabem partilhar como diz ser a vontade de Deus e como aprenderam desde sempre ser uma virtude da nacionalidade que representam.
A organização familiar no Portugal profundo visa a subsistência, nome adequado a um forma de sobrevivência quase medieval, onde técnicas, ferramentas e hábitos são os mesmos de há séculos. Paradoxalmente, é esse mesmo atraso que permite a manutenção de algumas tradições que se prezam, principalmente as gastronómicas, ou seja o valor do especial sabor.
A maior parte da modernidade que por vezes atinge o Portugal profundo é desadequada, estúpida ou bizarra, surge por razões que nada têm que ver com a satisfação das necessidades das gentes, aparece por motivos que estes nunca compreendem.
As embarcações atracadas na marina da Ribeira de Pêra em Castanheira de Pêra são um exemplo ambíguo ou contraditório de excelência intelectual no modo de projectar as idéias em investimentos que visam o desenvolvimento do Portugal profundo.
São veleiros dentro de um tanque, não existe navegabilidade.
O Portugal profundo é todo o Portugal que existe fora da Grande alface e de algumas capitais de distrito.
“Leitor amigo, se queres sinceramente contribuir nos teus meios para fortificar a tua patria, dá-lhe modestamente, na pequena orbita da tua influencia, entre os teus parentes e os teus amigos, aquillo que ella mais precisa de ter para sua defesa dentro da casa de cada cidadão; não se trata da força do teu braço, trata-se da rectidão do teu juizo: sê prudente e justo.” Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz, As Farpas - Chronica mensal da política, das letras e dos costumes, 1877.

Escada da inferência (alegoria)

Jesus nasceu na freguesia de Santa Maria de Belém, Lisboa. Filho de retornados, seus pais instalaram-se em meados da década de 70 na vila da Nazaré, distrito de Leiria, gémea de Badajoz. A infância de Jesus foi parca em estudos, porquanto deixou incompleta a quarta classe embora tenha sido distinguido por uma extraordinária dedicação aos estudos da catequese. Ainda sem idade para trabalhar ajudava às missas, tratava dos paramentos litúrgicos, lavava batinas, solidéus, barretes, murças e ainda repartia as hóstias em gamelas para a transubstanciação na Igreja da Misericórdia até ao dia em que o senhor José seu pai o informou de que “a vida de padreco não dava em nada, havia de se fazer à vida mas era”. A falta de uma outra opinião ou a incapacidade de contrariar a única ditada, levaram Jesus a aprender a arte do habilidoso progenitor com algumas variantes por falta do jeito, tornando-se assim tirocinante na carpintaria de cofragens ainda menor de condição.
Os Domingos de Verão eram também dias de baile nas freguesias e lugares por via das "bençãos do mar", festas da Nossa Senhora da Vitória, em honra a Santo Isidro, procissões diversas ou recriações de arte xávega, que Jesus aproveitava para intentar aos namoricos até ao dia em que se apaixonou enfunadamente pela jovem Maria, homónima da sua futura sogra mas de apelido Madalena. Seguindo um fraterno conselho para dar o passo, foi frente ao antigo Paço do Concelho na Pederneira onde Jesus declarou a firmeza de seus sentimentos, que de fortes se acreditaram sérios, para espanto emotivo da adolescente que ao silogismo atendeu sem cerimónias. Ausentes outras homófonas e heterográficas casualidades, nesse mesmo dia fizeram o amor para em breve se unirem de facto.
De obra em obra, Jesus foi alimentando uma indignação pelas precárias condições de trabalho e também pela ausência ou negação de tantos direitos consagrados em leis e Constituição para si próprio e para os colegas que o tornaram apaixonado por greves ou paragens de turno e posteriormente mestre em sindicâncias laborais, distribuía panfletos e manifestos marxistas-leninistas enquanto incitava os camaradas à insubordinação. Como consequência, diferentes patronatos deram fé das bastantes desordens e rebeldias até que a denúncia deu lugar à vigilância institucional e a vida do carpinteiro tornou-se ainda mais áspera, enquanto escutas, rusgas domiciliárias e ameaças anónimas se tornaram uma constante.
Jesus tinha os seus vícios de lerpa, participava em grandes jantaradas e revelava algumas manias de Kilas, mas não eram suficientemente sérias a ponto de o carregarem com suspeitas de ilícito. Isso aconteceu sim, quando o acusaram de membro associado em organização criminosa, forjando até provas de estreitas ligações ao terrorismo internacional, com enganos de instrução e lapsos processuais diversos que num ápice o arrastaram para o encarceramento incondicional. Não ficou provado contudo que a carpintaria herdada do falecido pai era uma fachada para outros negócios distintos ou experimentações químicas, não ficou provado que o grupo de amigos das noitadas formavam consigo um gang, apesar de arrolados como testemunhas ou suspeitos de actividades criminosas em co-autoria. Pouco ficou provado afinal, mas certo é que aos trinta e poucos anos de idade Jesus foi preso e certo dia apareceu morto por asfixia, um provável enforcamento que Mickey (alcunha de Pedro, seu companheiro de cela) se excusou a confirmar, ou seja negou (três vezes) ter visto o ocorrido.