sexta-feira, 20 de junho de 2008

Silva Porto (12)

Quando o tempo deixa de passar devagar e passa a imensurável, as questões existenciais esvanecem-se e o pensamento do indivíduo transforma-se ou torna-se mais propenso à concentração nos detalhes, observação e análise dos pormenores.
Era comum entrar e sair do mercado ou simplesmente estacionar à porta para cambiar dólares por maços gordos de kwanzas, bilhetes de 1000 normalmente, idênticos aos outros na imagem emparelhada de Eduardo e Agostinho, diferentes somente na côr, estes de um amarelo-pardo encardido. Outras vezes a comprar tabaco, invariávelmente em volumes tendo em conta o preço irrisório de cada unidade ou somente para encontrar frutas e legumes, a preço bem mais caro que no Tchissindo, mas logo ali à porta.
Certos dias havia, sabe-se lá como, coxas de frango e carapaus meio congelados, também peixe de rio sêco, cabeças de caprinos e galináceos. Mas a confiança, essa continuava depositada nos chouriços em lata da Sicasal, nas salsichas da Nobre e enlatados de atum das conserveiras lusitanas do costume.
Imagem captada em 2004 na cidade do Kuíto (antiga Silva Porto), Província do Bié, Angola.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A Siklósi vár

O castelo de Siklós foi construído no início do século XIII por ordem da família Soklyosy, membros da tribo Kán, uma das tribos magyar reconhecidas no povoamento das grandes planícies e subsequente fundação da nação.
No século XIV, sob domínio da família Garai, o castelo de Siklós ganhou uma importância emblemática e representativa de poder com a incorporação de um conjunto de edifícios ao estilo gótico.
Em 1515 a família Perényi comprou as propriedades e reforçou as muralhas tratando objectivamente dos aspectos defensivos da fortificação, embora tenha também cuidado de renovar fachadas e interiores ao estilo renascentista.
Os exércitos turcos do Sultão Suleiman ocuparam o castelo em 1543 e ali se mantiveram até 1686, ano em que as forças imperiais austríacas, sob comando do Conde Aeneas Caprara, o libertaram. Este Marechal de Campo foi responsável pelo aumento das instalações e reconstrução devida (próxima das formas que hoje se podem observar), embora algumas modificações de estilo (Barroco) tenham sido implementadas pela família Batthyány, proprietária a partir de 1728.
Apesar de ser identificado documentalmente o exército húngaro como o último proprietário reconhecido, o castelo de Siklós foi abandonado bastante danificado após a II Guerra Mundial.
Actualmente a manutenção do castelo de Siklós é gerida pelo próprio Município de Siklós, tendo sido renovado em 1955 pelo Instituto Nacional de Preservação do Património Histórico e pelas autoridades administrativas da Província de Baranya.
As imagens apresentadas não são propriedade do autor.

terça-feira, 17 de junho de 2008

A Coruña

Passaram cerca de vinte anos desde a primeira visita à península. As encantadoras fachadas de marquises brancas com janelas de guilhotina - uma quadrícula que se repete em proporções diferentes - verificam-se perpétuas enquanto tradição e vaidade.
O passeio marítimo agora tem uns oito quilómetros de comprimento, o maior da Europa e talvez o mais belo, embora a paisagem natural se mantenha inalterada, é sempre a mesma força líquida e indomável da natureza a desafiar a dureza da rocha.
A meio do percurso, a pé ou de eléctrico, a Torre de Hércules continua erecta e permanente de labor, mais do que um monumento é o farol mais antigo do mundo em funcionamento (dezanove séculos).
A Cidade de Cristal nasceu perfeita porque seria impossível nascer diferente. A praias de Riazor e Orzán já lá estavam (istmo) antes do Homem as descobrir e o castelo de San Antón foi edificado numa pequena ilha para proteger a entrada do porto e ria. Desse lugar, que o Rei Felipe II mandou erigir no século XVI, nos tempos da heroína María Pita, os galegos se defenderam dos ataques ingleses, repelindo as investidas do corsário Francis Drake.
A Coruña é beleza e história, é madeira e vidro, é galerias e bodegas. Desde a praça de Maria Pita onde se encontra o magnífico edifício do axuntamento (alberga a maior colecção de relógios do mundo) até à Avenida da Mariña, ou pelo interior da "cidade velha", ali se reconhece a entrada do Portus Magnus Artabrorum.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

London

O fascínio de retornar constantemente a Londres é exactamente esse, o de visitar os mesmos lugares sempre da mesma maneira e comparar as diferenças, estar atento aos pormenores...
O Covent Garden continua a ter de encantador as vozes que ensaiam Ave Maria de Schubert quando é Dezembro, ao centro da galeria.
A Tower, guardando as jóias da coroa, continua sem ser visitada por dentro mas fotografada no exterior de todos os modos e feitios, sem desperdiçar a aparição dos guardas fardados no rigor da ocasião e momento, para esses simples obrigação do ofício.
No rio Thames, o Belfast e a Tower Bridge continuam a ser monumentos de eleição, assim como a inteira fachada traseira do parlamento que afinal pouco impressiona a quem habitualmente tem o Orszagház da Hungria como termo comparativo, excepção à magnífica torre de relógio, o Big Ben.
Visitar o Hamleys da Regent street e o Trocadero ali na Piccadilly Circus é vício, não se pode dar outro nome à coisa, tão inexplicável como nunca pernoitar nos mesmos hotéis a cada visita, mas escolher sempre hotéis que estejam junto à Russel square.
E depois há as voltas ao Hyde park e a busca insistente pelos esconderijos dos esquilos nos jardins centrais logo verificando que o hábito e tradição das palestras públicas permanecem lá no canto antes de atravessar a alameda Ring e procurar os Kensington Gardens. Na verdade o palácio real nada tem de extraordinário, tampouco o ritual no render da guarda, mas é que faz parte das razões do coração passar por ali ao final da manhã de Domingo, inevitável opção.
Nas primeiras vezes o problema maior que a catedral de S. Paulo oferecia era o facto de que as dimensões do edifício não eram proporcionais ao afastamento possivel de modo a que se conseguisse uma boa fotografia (a igreja nunca aparecia inteira na imagem). Agora, com as novas tecnologias o desafio é lá voltar para sacar o maior número de “pixéis” conforme as máquinas vão sendo mais capazes e esperar que não chova para que a seguinte seja melhor que a anterior, deixou de ser interessante.
Relativamente ao British Museum já a coisa muda de figura. Este museu é como o Louvre, sempre existem peças que saltam fora dos armazéns e se renova o espaço da exposição, de antigo sempre novo, não cansa (embora seja permanente a estatuária frontal do Partenon, que há muito deveria ter sido devolvida à Grécia).
E depois há as galerias do metro, autocarros e taxis, o frenesi comercial da Oxford street, as ceras do Madame Tussaud, as estreias no Odeon (principalmente as do James Bond) e sempre um jantar de sabores duvidosos no mesmo restaurante da Chinatown antes de uma visita regada ao bairro do Soho.