quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Santiago de Compostela

A Reconquista cristã da península Ibérica iniciou poucos anos após as próprias invasões muçulmanas. Enquanto os muçulmanos conseguiram ocupar em menos de uma década quase todo o território da Hispânia (711-719), a “resposta” cristã demorou cerca de oito séculos, até ao ano de 1492 com a derrota do reino de Granada pelos Reis Católicos de Castela e Aragão. Para o Reino de Portugal o assunto foi encerrado muito anos antes, em 1253 com a conquista definitiva de Silves pelas forças de D. Afonso III.
A península Ibérica era o reino dos Visigodos, unido por uma monarquia electiva até à morte do Rei Vitiza. O reino foi dividido por dois partidários (Áquila e Rodrigo) que iniciaram uma disputa territorial. Ora Áquila (o herdeiro com direito ao trono) cometeu o disparate de solicitar auxílio a Musa ibn-Nusair, governador do Magrebe (norte de África), que de imediato enviou o General Tarik ibn-Ziyad, omíade e muçulmano berbere... e assim iniciaram as invasões muçulmanas.
Os muçulmanos somente não conseguiram ocupar a pequena região montanhosa das Astúrias, onde resistiram muitos refugiados, iniciando imediatamente um movimento para reconquistar o território perdido.
O conceito de “cruzadas” somente surge a partir do século XII, sendo que os momentos de conquista das praças africanas na expansão marítima portuguesa ainda foram de início considerados como reconquista.
As igrejas de peregrinação apareceram no período das cruzadas, a caminho dos locais sagrados, como Jerusalém, Roma, Toulouse, Tours ou Santiago de Compostela.
Uma característica comuns a essas igrejas é a sua forma de cruz latina com três ou cinco naves laterais prolongadas de modo a passar por detrás da ábside, formando um deambolatório de onde saem as absidíolas (capelas radiantes). Dentro de um conceito de monumentalidade e fortaleza em planta basilical, as estruturas em pedra apresentam grandes colunas de suporte às abóbadas, esculturais da base aos capitéis, bem como amplamente trabalhados os pórticos das entradas e decoradas as paredes nas ábsides e abóbadas das naves com pinturas e iluminuras, em estilo românico simbólico e antinaturalista (mas didático, de modo a transmitir os ensinamentos do Cristianismo, tendo em conta a grande quantidade de população analfabeta), antecedendo o gótico.
A catedral de Santiago de Compostela é portanto uma catedral em estilo românico, construída entre os anos de 1075 e 1128 situada na cidade com o mesmo nome, colocando a Espanha dentro dos círculos medievais graças ao chamado Caminho de Santiago dedicado a Santiago Maior, actual patrono e protector do Reino da Espanha.
Os caminhos de peregrinação espalham-se por toda a Europa e vão todos desaguar aos caminhos franceses que posteriormente se ligam aos espanhóis, com excepção do caminho português, que tem origem a sul.
Segundo o Novo Testamento, Tiago era filho de Zebedeu e Salomé, irmão de João, que também se tornou discípulo de Jesus da Nazaré. Segundo o livro de Marcos, Tiago e seu irmão são chamados por Jesus de “Filhos da Tempestade”, pela sua origem de pescadores.
Segundo o capítulo 12 do livro Actos dos Apóstolos é narrada a morte de Tiago, decapitado por ordem de Herodes Agripa I, rei da Judeia, uns onze anos após o próprio "mestre", em Jerusalém.
Há quem creia que Tiago tenha visitado a província romana de Hispânia para pregar a doutrina cristã antes de regressar à Judéia e ser martirizado. Os locais que alegadamente terá percorrido incluem Compostela (Galiza) e também Guimarães e Póvoa de Varzim, estas na Lusitânia.
Algumas lendas rezam que Tiago (beatificado) terá aparecido em diversas batalhas da Reconquista cristã, protegendo os cruzados em vitórias concedidas como por milagre.
Até ao final do século XIV, São Tiago era também o protector dos exércitos do Reino de Portugal, tendo sido “substituído” nessas funções por São Jorge, pelas razões que a história indica (Até então, nas batalhas entre portugueses e castelhanos o mesmo santo era invocado para protecção de ambas as partes opostas em conflito).

terça-feira, 30 de outubro de 2007

A bandeira da Hungria (2)

Continuação do artigo "A bandeira da Hungria", publicado a 10 de Julho de 2007.

O Brasão da Hungria utilizado desde 1867 (compromisso político com os Habsburgos) até 1918 (fim do Império Austro-húngaro).

Desde 1957 até 1989 o Brasão de armas imposto por Janos Kadar, também colocado ao centro da Bandeira, embora opcional nesse caso.

Oficialmente, desde o mesmo ano de 1957 até à presente data a bandeira da Hungria é o tricolor simples.
Consultar artigo http://szerinting.blogspot.com/2007/07/bandeira-da-hungria.html, publicado a 10 de Julho de 2007, onde se pode encontrar o formato, proporções e cores regulamentares da bandeira oficial (tricolor simples).

domingo, 28 de outubro de 2007

Cristóvam Guerra Colom

As caravelas portuguesas ostentavam nas velas as cruzes da Ordem Militar de Cristo, sucessora dos Templários, vermelhas sob fundo branco.
O Infante D. Henrique, terceiro filho do rei D.João I, tornou-se em 1420 governador da Ordem Militar de Cristo. D. Henrique, o Navegador, juntou a sabedoria dos Templários à cabalística dos Judeus, uniu homens de ciências físicas e químicas, eruditos herméticos, esotéricos, astrónomos, matemáticos e outros numa demanda do Santo Graal, a demanda do conhecimento. Cavaleiros tornaram-se navegadores e os descobrimentos passaram a ser as suas cruzadas.
A lição que Castela tirou do confronto de 14 de Agosto de 1385 em Aljubarrota (e posteriormente na batalha de Toro), foi de que o Reino de Portugal era militarmente mais forte do que os mouros que se pretendiam expulsos da península Ibérica. A lição que Portugal tirou desse mesmo confronto foi de que o Reino de Castela deveria ser incentivado a expandir-se para sul, enquanto dedicados ou auxiliados a tomar terras aos infiéis, não levantariam problemas de coexistência com o Reino de Portugal, este sem maiores aspirações fronteiriças do que as já delineadas.
Essas décadas de relativa tranquilidade fronteiriça deram ao Reino de Portugal a oportunidade de se dedicar ao mar, à expansão territorial possível no continente africano e à pesquisa da rota marítima que daria acesso às riquezas da Índia, que já se imaginava possível muitos anos antes, tendo em conta as informações prestadas pelos espiões enviados por via terrestre no reconhecimento cartográfico da costa oriental de África e avaliação das respectivas capacidades militares dos reinos dominantes nessas paragens.
O Rei Fernando II de Aragão e a Raínha Isabel I de Castela eram incondicionalmente obedientes ao Papa (curiosamente o Papa era castelhano também), perseguiram os Templários e proibiram a religião dos Judeus.
D. João II, Rei de Portugal, não entendeu obedecer linearmente ao Papa, primeiro porque os seus navegadores eram Templários ou discípulos destes (quanto aos ensinamentos de astronomia e cosmografia), e segundo porque os Judeus eram importantes financiadores das campanhas marítimas. Posteriormente veio a proibir o Judeísmo com opção de conversão (chamados de cristãos novos), o que se revelou um grande erro, com intenção de agradar aos reis católicos de Espanha por alturas de casamento de seu filho Afonso com a princesa espanhola Isabel, e estabelecer o acordo de sucessão do trono desse reino. Ou seja, a perseguição dos Judeus em Portugal aconteceu em parte como dote oferecido aos reis de Espanha para aceder ao direito futuro do trono (que não veio a acontecer porque D. Afonso morreu num acidente equestre) pela via de casamento.
Os Reis Católicos de Espanha despertaram para a navegação um pouco antes do final das guerras contra os muçulmanos. Eram demasiado ignorantes para se desprenderem das crenças religiosas em favor da razão, de que a Terra não era plana.
Os primeiros Tratados que assinaram com o rei português limitava-os à expansão contra os mesmos muçulmanos (norte de África) e acesso às ilhas Canárias, com excepção a Ceuta e Arzila. Esses Tratados (exemplo de Alcáçovas em 1479) eram para D. João II uma autêntica paródia, oferecidos aos espanhóis como jogadas para distração.
Portugal tinha pouco interesse na conquista de terra aos mouros (lições tiradas pelas grandes dificuldades que o Rei D. Afonso V, pai do próprio D. João II, teve na conquista da praça de Alcácer-Ceguer e Tânger apesar do seu exército ser composto por uns doze mil homens, preparado inicialmente para ser utilizado em cruzadas contra os otomanos na Hungria, o que não veio a acontecer por morte do Papa Calisto II, que havia solicitado tal esforço).
Muitos anos antes do Tratado de Tordesilhas, já o Rei de Portugal sabia da existência das terras da América, e diferente dos castelhanos ele sabia bem que não se tratava da costa oriental da Ásia (comparadas as descrições e cartografias resultantes das viagens de Marco Polo com as informações obtidas pelos Templários de seus antepassados nórdicos, ou seja Vikings). Como a América não era a Ásia e a prioridade de D. João II era o acesso marítimo às riquezas da Índia, evitando o controlo genovês do Mediterrâneo, a facilidade com que foi aceite o Tratado visava afastar os espanhóis de África o mais possível e dominar o Atlântico sul. Porém sabendo D João da existência do "Brasil" e da forma esférica do planeta, não deixou de acordar uma longitude que lhe desse acesso à costa da América do sul. Uma coisa tinha como certa: A distância a percorrer na rota para a Índia era inferior contornando a África do que a América pelo sul.
Cristóvam Guerra Colom (também conhecido por Cristóvam Guiarra Colon, Cristóvam Sciarra Colonna ou pela abreviatura Xpova Colona) era um marrano, ou seja um judeu convertido oficialmente a novo cristão, mas que mantinha a sua crença na fé judaica em segredo. Nascido em Cuba, vila situada perto de Beja, no sul de Portugal, este homem era familiar da Raínha de Portugal (primo talvez), descendente da família Sciarra Colonna de Piacenza (família que havia fugido para Portugal por perseguições das repúblicas da península Itálica contra os judeus). Colom era portanto familiar do Rei de Portugal, frequentava a corte normalmente como outros fidalgos da época. Casou com Dona Filipa Moniz Perestrelo, filha do capitão donatário de Porto Santo e descendente de Egas Moniz.
Colom era um homem culto, falava e escrevia correctamente português, latim, também castelhano (com muitos erros ortográficos) e entendia hebreu. Sabia de navegação e de sistemas de orientação tanto quanto outros navegadores portugueses de renome porque também era membro da Ordem Militar de Cristo (explicado assim o seu primeiro nome, impossível para um Judeu, apenas razoável para um “convertido”).
No entanto, em 1484 Colom fugiu secretamente de Portugal, com seu filho Diogo.
Os espiões do rei interceptaram correspondência entre o Marquês de Montemor, irmão do Duque de Bragança e os reis de Espanha, onde se maquinava uma conspiração contra D. João II. Todos os conspiradores foram eliminados (o Duque de Bragança foi decapitado na praça do Giraldo, em Évora) excepto aqueles que fugiram para Castela, entre eles D. Álvaro de Ataíde, D. Fernando de Sylveira, D. Lopo de Albuquerque, Isaac Abravanel, Cristóvam Guerra Colom e muitos outros que se relacionavam com as tramas dos duques de Bragança e Viseu (o Duque de Viseu era simultaneamente Duque de Beja e foi apunhalado pelo próprio Rei no paço).
Os poderes absolutistas do Rei foram reforçados com a confiscação de todos os bens da poderosa Casa de Bragança, destruíndo o poder dos grandes, não se tendo apoiado no povo para tal decisão... “sendo senhor dos senhores, nunca quis ser nem parecer servo dos servidores” segundo o cronista Ruy de Pina.
Cristóvam Colom, fugido de Portugal por envolvimento na conspiração contra o Rei, obtém favores especiais dos reis de Espanha, logo direito a audiências para oferecer seus serviços de navegador experimentado.
Mas os conhecimentos avançados deste homem não eram facilmente assimilados pelos Reis Católicos, pelo que teve que esperar muito tempo até que estes se decidissem a financiar uma expedição atlântica na descoberta do caminho para as "índias" (pois obviamente entendiam que se fosse verdade que a Índia estivesse a ocidente, os portugueses não andariam às voltas na costa de África).
O que é certo é que anos mais tarde uma carta de de D.João II oferece o perdão a Colom, tratando-o como “espicial amigo en Sevilla” e solicita que regresse a Lisboa.
D. João II ofereceu pessoalmente a Colom o montante restante necessário para custear a viagem deste ao serviço dos reis de Espanha (que disponibilizaram um milhão de maravedis) e instrumentos de navegação (tábuas de declinação do sol escritas em hebraico), num acordo secreto que convinha ao Reino de Portugal. Tendo os espanhóis animados a descobrir terras novas (sem interesse) a ocidente, refrearia eventual cobiça pelas riquezas da Índia extraídas pelos navegadores portugueses através da costa africana. Em troca, Colom tornar-se-ia famoso e dono de parte das terras a “descobrir”, conforme estipulado no contrato da expedição (situação que não era de certo modo justa para os navegadores portugueses, principalmente para Côrte-Real, que anteriormente reconheceram a América, mas eram obrigados ao “segredo de Estado”).
Cristóvam Colom lá foi com as naus, transportando consigo moedas portuguesas (ele também sabia que os nativos americanos eventualmente reconheceriam as moedas com a imagem do Rei de Portugal) e é também verdade que alguns marinheiros espanhóis aperceberam-se que alguns nativos já tinham visto homens brancos e de longas barbas anteriormente, "vindos do mar".
Na volta da expedição, a Niña, nau onde viajava Colom, fez escala nos Açores (Santa Maria) e estacionou uma semana em Lisboa. Colom reuniu com o Rei de Portugal no palácio da Azambuja, depois com a Raínha em Vila Franca de Xira (dormindo em Alhandra), posteriormente fez outra paragem em Faro e somente depois retornou a Cádiz.
Os encontros com D.João II foram bastante úteis para ambos combinarem a estratégia de mentiras (a divulgação errada sobre longitudes por exemplo) que levariam os reis de Espanha a assinar o futuro Tratado de Tordesilhas de modo conveniente a Portugal e estabelecer os direitos da Espanha sobre as terras que durante muitos anos ainda chamaram Índias ocidentais.
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terça-feira, 23 de outubro de 2007

Magyar Forradalom 1956

O Cardeal József Mindszenty foi opositor incontestável dos fascistas húngaros, repudiou a ocupação alemã em 1944, porém acabou vítima do sistema comunista numa acusação de traição e subsequente condenação a prisão perpétua em 1948.

Mátyás Rákosi subiu ao poder anteriormente tomado pela força, que o processo eleitoral não havia resultado conforme as expectativas soviéticas (a fusão do Partido Social Democrata com o Partido Comunista, em minoria, forçada pelos soviéticos, resultou no PTH). Apesar do investimento do Estado em programas de alfabetização e educação a todos os níveis, o sistema comunista não criava prosperidade, mas uma igualdade de miséria.

A morte de Stalin no ano de 1953 trouxe espaço para remodelação do governo impopular, com a substituição de Rákosi por Imre Nagy como primeiro-ministro.

Imre Nagy acedeu a reformas económicas e políticas, prometeu esforços para recuperar a qualidade de vida anterior dos cidadãos com a liberalização da produção e distribuição de bens de consumo, acabou com as perseguições políticas, libertou presos políticos, chegou mesmo a tentar apoio interno do partido para a realização futura de eleições livres e a eventul retirada do Pacto de Varsóvia.

O comitê central do PTH (Partido dos Trabalhadores Húngaros), após consultas aos “chefes” de Moscovo, condenou Imre Nagy pelo excesso de desvios liberais ao regime socialista estabelecido. No mesmo mês de Abril de 1955 foi demitido por voto unânime da Assembléia Nacional, tornando Rákosi novamente à chefia do partido , mas András Hegedűs como primeiro ministro do Governo da Hungria.

Reformas na influência soviética, bem como o conhecimento público de envolvimento no assassinato de László Rajk pelas mãos da polícia política ÁVH em 1949 levaram porém a que Rákosi rapidamente transferisse o poder para Ernnő Gerő como fiel sucessor.

A 3 de Outubro de 1956, o então comité central do “partido dos trabalhadores” (PTH) reabilitou Imre Nagy como membro do partido, bem como a outros dirigentes condenados por traição nos anos anteriores.

O levante húngaro começou na verdade em Szeged, uma semana antes da manifestação de estudantes em Budapeste a 23 de Outubro de 1956. Estes, influenciados por manifestos similares de estudantes em Varsóvia, exigiam o fim da ocupação soviética e a implantação de “socialismo verdadeiro”. Os tumultos com troca de agressões entre autoridades e civis somente iniciou quando estudantes tentaram resgatar alguns colegas que haviam sido presos pela polícia e esta abriu fogo contra a multidão.

No dia seguinte, oficiais e soldados juntaram-se aos estudantes nas ruas da capital. A estátua de Stalin fora derrubada por manifestantes que entoavam, "russos, voltem para casa", "abaixo Gerő" e "viva Nagy".

Em resposta, reunindo de urgência, o comitê central do “Partido” restabeleceu de imediato a chefia de governo em Imre Nagy e a 25 de Outubro, oficialmente acaba por exonerar Ernnő Gerő e nomear János Kádár para a direcção do partido, após condenarem o facto de tanques soviéticos terem disparado contra a vigília de manifestantes na praça frente ao parlamento.

Imre Nagy suportado pela massa popular deslocou-se à Rádio Kossuth onde anunciou ter tomado a chefia do governo, na qualidade de presidente do Conselho de Ministros. Prometeu uma ampla democratização da vida pública do país, a melhoria radical das condições de vida dos trabalhadores e a busca do socialismo condizente com as características nacionais da Hungria.

Os combates entre revolucionários (alguns militares liderados pelo Coronel Pal Maléter e parte de forças policiais juntaram-se à população que entretanto se abasteceu de armas por pilhagem em quartéis e fábricas de armamento) e militares soviéticos das guarnições locais apoiados por forças militares e policiais húngaras foi incessante, agravando-se de dia para dia por aumento de aderentes de uma parte e reforços enviados por outra, até que a revolução se estendeu por todo o país.

A 28 de Outubro, Imre Nagy e um grupo de fiéis colegas tomaram o controlo do PTH . Com o consentimento dos conselheiros soviéticos Anastas Mikoyan e Mikhail Suslov e com a colaboração de János Kadár, líder do partido, o primeiro ministro ordena um cessar-fogo, anunciando novamente pela rádio as negociações em curso para o abandono das tropas soviéticas, a dissolução da polícia política ÁVH com direitos de amnistia, o fim das cooperativas compulsivas. Todavia os combates continuaram nas ruas.

A 29 de Outubro forças Israelitas atacaram posições Egípcias no controlodo canal de Suez, acontecimento que desvia a atenção das grandes potencias mundiais e europeias (Reino Unido e França principalmente) para essa região que lhes interessava muito mais do que a Hungria.

A bem da verdade já era bastante expectável que a Hungria nunca seria auxiliada pelos países ocidentais, tampouco pelos vizinhos. Os Americanos, após o final da Segunda Guerra mundial haviam deportado dezenas de milhares de prisioneiros de guerra húngaros e alemães para a Jugoslávia, de modo a serem assassinados de imediato pelas forças do General Tito, ao invés de os devolverem às suas famílias, como seria de esperar, segundo as convenções internacionais que estes afirmavam respeitar.

Nesse mesmo dia 29 de Outubro, a embaixada norte-americana em Moscovo comunica oficialmente à União soviética de que Washington não considera a Polónia e a Hungria como seus aliados militares. Isso foi interpretado como uma declaração de anuência para uma eventual operação militar soviética nesses dois países, que levou os segundos a não interferir incisivamente na questão do médio-oriente.

A 30 de Outubro, Imre Nagy ordena a libertação do cardeal József Mindszenty e de outros prisioneiros políticos anuncia que o governo pretende abolir o sistema de partido único com a reconstituição do Partido dos Pequenos Proprietários, Partido Social-Democrata e Partido Camponês Petőfi.

Reforços soviéticos, tanques e outros meios operacionais não deixaram de entrar no território da Hungria, que segundo promessa do embaixador Yuri Andropov, tinham a intenção de assegurar estabilidade e segurança e não para esmagar a auto-determinação deste país. Inclusivamente as tropas soviéticas retiraram alguns efectivos e blindados da capital (com o propósito de se juntarem aos reforçoes recém chegados, nos subúrbios), o que deu a sensação popular de que seriam verdadeiras as promessas. Chegou mesmo a ser veiculada a idéia de que o aumento de contingente soviético no território estava de passagem para o conflito no Suez (era essa a informação que os próprios oficiais soviéticos enviados tinham desde o comando operacional).

Yuri Andropov era o embaixador soviético na Hungria desde 1954, posteriormente substituiu Brejnev no cargo de director do KGB, quando este ascendeu à presidência.

A 1 de Novembro, Imre Nagy comunica oficialmente a intenção húngara de se retirar do Pacto de Varsóvia e pede a intervenção das Nações Unidas para eventual protecção da Hungria contra represálias da União Soviética.

Talvez tenha sido este o erro, a gota de água que subestimou os limites da tolerancia de Nikita Khrushchev (Alexander Dubcek na posterior insurreição em Praga, não ousou tal desafio), que o sucessor de Stalin esteve nesses momentos hesitante, aconselhado até pelo General Georgi Zhukov para retirar, admitiu perder a Hungria ao considerar as duas hipóteses, negociação ou ocupação. A opinião de Mao Tsé-Tung foi ouvida, era importante não oferecer tal presente aos ocidentais capitalistas que o apelidariam de estúpido e fraco.

Para interromper imediatamente um clima de instabilidade que já pairava na Roménia e se fazia sentir na Checoslováquia, a supressão de movimentos na Polónia serviu de aviso, a repressão militar na Hungria serviria para exemplo.

Entre 1 e 4 de Novembro, o primeiro ministro acreditou ter conseguido a independência, informou os seus generais de que o embaixador Andropov garantiu que o governo soviético não deu ordens para atacar a Hungria.

Os combates cessaram, mas a dupla soviética Yuri Andropov e Ivan Serov não deixaram de executar as suas missões com precisão. O primeiro com a tarefa de entreter os novos governantes da Hungria com as mentiras necessárias e convenientes ao processo decisório dos seus superiores, o segundo, exercendo funções de chefe máximo da KGB deslocou-se a este país para gerir directamente os seus agentes nas acções de identificação dos intervenientes a responsabilizar a curto prazo. Pessoalmente prendeu o Ministro da Defesa, tratou de enforcamentos e fuzilamentos.

A 4 de novembro, o "Exército Vermelho" esmagou a revolução com uma violência tal que resultou em cerca de 20.000 mortos.

Imre Nagy refugiou-se na embaixada na Jugoslávia e pediu asilo político. János Kádar prometeu-lhe um salvo conduto para sair do país sob tutela diplomática, mas à saída dos portões foi detido.

Excepto neste acontecimento, o General Tito da Jugoslávia sempre foi distante, crítico, opositor, rival até da política externa soviética. No tempo de Stalin, chegou mesmo a enviar uma carta ao presidente da União soviética informando-o de que já tinha prendido cinco assassinos profissionais enviados a Belgrado para o matar, e caso o "caro amigo" Stalin não desistisse dessa intenção, somente bastaria enviar um jugoslavo a Moscovo para fazer com sucesso e à primeira o mesmo com Stalin.

A Jugoslávia traiu a Hungria e Imre Nagy foi preso (posteriormente executado, tal como Pál Maléter, após julgamento) e substituído no poder pelo sempre aliado dos soviéticos, János Kádár. Este, após sanear implacavelmente o partido, traindo amigos e camaradas enquanto a ausencia de escrúpulos parecia ilimitada, assumiu o cargo durante os 32 anos seguintes.
As imagens apresentadas neste artigo não são propriedade do autor

domingo, 21 de outubro de 2007

Warszawa

Warszawa é a capital de Rzeczpospolita Polska, a República da Polónia.
Actualmente a maior cidade deste país, a capital do Voivodato de Masóvia, banhada pelo rio Vístula, sucedeu a Krakow como capital do reino da Polónia no ano de 1596, após grande incêndio.
Varsóvia cresceu a partir do século XIV, em redor do castelo dos Duques de Masóvia, sendo que a cidade velha ou Stare Miasto é um burgo muralhado da Idade Média. Foi ocupada por suecos e por russos diversas vezes, passando a simples capital de grão-ducado sob o domínio de Napoleão Bonaparte.
A Polónia foi reconhecida como Estado em 966, pelo baptismo católico de Mieszko I, tornando-se reino a partir de 1025.
No século XIII o país foi devastado pelos exércitos mongóis e assim fragmentado em pequenos Estados.
No ano de 1320 Ladislau I tornou-se rei da Polónia reunificada.
No ano de 1569 foi estabelecida a Comunidade Polaco-Lituana determinada pela união com o Grão-ducado da Lituania que fortaleceu o domínio da dinastia Jagello na região até ao ano de 1795.
As invasões suecas, revoltas cossacas, constantes guerras com a Rússia e uma incapacidade interna de gestão de reformas, determinaram o fim da Comunidade e uma subsequente partilha territorial com a Áustria, Rússia e Prússia no final do século XVIII.
Foi na verdade Napoleão que em 1807 restabeleceu o Estado Polaco, sob seu domínio é certo, mas como forma de República.
Em 1815, consequência das derrotas francesas, o Tratado de Viena devolveu as partilhas anteriores às potências requerentes (Rússia e Áustria).
Em 1918, após o fim da Primeira Guerra Mundial, a Polónia retoma o direito à sua independência, é criada a segunda República, confirmada com a vitória na Guerra Polaco-Soviética de 1919 a 1921.
Em 1939 a Polónia sofreu a invasão a ocidente pelos alemães e no leste pelos exércitos de Stalin, resultado do pacto Ribbentrop-Molotov para a partilha territorial deste país.
A dada altura a Alemanha declarou guerra à União Soviética, a primeira potência progrediu no território da segunda até à contra ofensiva que levou à derrota germânica já dentro da sua própria capital.
Como consequência a Polónia tornou-se um país comunista sob controle soviético até ao ano de 1989, inaugurando a terceira República Polaca numa democracia liberal.
As suas fronteiras actuais são bastante diferentes das iniciais, o inteiro país está localizado mais a ocidente e tem uma área cerca de 20% inferior.
A cidade de Varsóvia foi totalmente arrasada, bombardeada e dinamitada durante a Segunda Guerra Mundial. Os Alemães mantiveram um ódio especial contra os Polacos durante todo o tempo de ocupação e os soviéticos nunca auxiliaram a guerrilha de resistencia que logrou recuperar a cidade em combates urbanos, no ano de 1944. Enquanto os soviéticos assistiam à distância (do outro lado do rio Vístula) aos combates entre resistência e alemães, posteriormente ocuparam Varsóvia sem qualquer baixa militar, acabando por assassinar ou deportar para a Sibéria os próprios resistentes (Stalin defendia que revoltosos eram sempre perigosos, mesmo que participassem em movimentos favoráveis aos interesses soviéticos, mesmo que também fossem socialistas).
Em 1956, o regime de Władysław Gomułka tornou-se temporariamente mais liberal (um rastilho que influenciou a revolução húngara no mesmo ano) até ser desautorizado por Nikita Khrushchev, completamente suprimidas as manifestações estudantis nas ruas de Varsóvia.
Apesar de Edward Gierek voltasse a tentar alguma abertura em 1970, foi somente nos anos 80 que o sindicato Solidarność (solidariedade) se tornou responsável pelas agitações trabalhistas que levaram ao colapso do sistema em 1989, glorificando a vitória de Lech Wałęsa nas eleições presidenciais do ano seguinte.
Todos os edifícios da praça Rynek Starego Miasta localizada no centro da Cidade velha (Stare Miaste) foram reconstruídos após a Segunda Guerra.
No centro da praça encontramos a estátua da sereia de Varsóvia (Warszawska Syrenka), principal simbolo da cidade.
Nos limites da Cidade velha, encontramos a torre Barbacana e as ruínas do forte medieval.
O palácio real Zamek Krolewski (castelo real), também na cidade velha, construído a partir do século XVII, foi destruido na II guerra e reconstruido na década de 70. Hoje é um museu com tapeçarias, mobílias, pinturas e história da Polónia.
O palácio da cultura (Palac Kultury i Nauki), construído por ordem de Stalin, foi durante muitos anos o edifício mais alto de Varsóvia.
Em bronze, um monumento à resistência Polaca de Varsóvia na Segunda Guerra Mundial.
O Centro histórico de Varsóvia foi inscrito pela UNESCO em 1980 como Património da Humanidade.
Tendo em conta a destruição quase total desta cidade durante a Segunda Guerra Mundial, tal como devidamente referido, hoje encontramos uma cidade moderna, de largas avenidas, organizada com a lógica e sabedoria urbanística do século XX típica de qualquer cidade da Europa Central. Tudo o que existe em termos de monumentos é uma cópia fiel do que anteriormente existia até 1945, logo mais perfeito do que o original e executado com métodos e materiais mais duráveis.
Dependendo do ponto de vista, entre o moderno e o antigo, a beleza desta cidade de arranha-céus é definitivamente e infinitamente inferior à das suas cidadãs.