terça-feira, 23 de outubro de 2007

Magyar Forradalom 1956

O Cardeal József Mindszenty foi opositor incontestável dos fascistas húngaros, repudiou a ocupação alemã em 1944, porém acabou vítima do sistema comunista numa acusação de traição e subsequente condenação a prisão perpétua em 1948.

Mátyás Rákosi subiu ao poder anteriormente tomado pela força, que o processo eleitoral não havia resultado conforme as expectativas soviéticas (a fusão do Partido Social Democrata com o Partido Comunista, em minoria, forçada pelos soviéticos, resultou no PTH). Apesar do investimento do Estado em programas de alfabetização e educação a todos os níveis, o sistema comunista não criava prosperidade, mas uma igualdade de miséria.

A morte de Stalin no ano de 1953 trouxe espaço para remodelação do governo impopular, com a substituição de Rákosi por Imre Nagy como primeiro-ministro.

Imre Nagy acedeu a reformas económicas e políticas, prometeu esforços para recuperar a qualidade de vida anterior dos cidadãos com a liberalização da produção e distribuição de bens de consumo, acabou com as perseguições políticas, libertou presos políticos, chegou mesmo a tentar apoio interno do partido para a realização futura de eleições livres e a eventul retirada do Pacto de Varsóvia.

O comitê central do PTH (Partido dos Trabalhadores Húngaros), após consultas aos “chefes” de Moscovo, condenou Imre Nagy pelo excesso de desvios liberais ao regime socialista estabelecido. No mesmo mês de Abril de 1955 foi demitido por voto unânime da Assembléia Nacional, tornando Rákosi novamente à chefia do partido , mas András Hegedűs como primeiro ministro do Governo da Hungria.

Reformas na influência soviética, bem como o conhecimento público de envolvimento no assassinato de László Rajk pelas mãos da polícia política ÁVH em 1949 levaram porém a que Rákosi rapidamente transferisse o poder para Ernnő Gerő como fiel sucessor.

A 3 de Outubro de 1956, o então comité central do “partido dos trabalhadores” (PTH) reabilitou Imre Nagy como membro do partido, bem como a outros dirigentes condenados por traição nos anos anteriores.

O levante húngaro começou na verdade em Szeged, uma semana antes da manifestação de estudantes em Budapeste a 23 de Outubro de 1956. Estes, influenciados por manifestos similares de estudantes em Varsóvia, exigiam o fim da ocupação soviética e a implantação de “socialismo verdadeiro”. Os tumultos com troca de agressões entre autoridades e civis somente iniciou quando estudantes tentaram resgatar alguns colegas que haviam sido presos pela polícia e esta abriu fogo contra a multidão.

No dia seguinte, oficiais e soldados juntaram-se aos estudantes nas ruas da capital. A estátua de Stalin fora derrubada por manifestantes que entoavam, "russos, voltem para casa", "abaixo Gerő" e "viva Nagy".

Em resposta, reunindo de urgência, o comitê central do “Partido” restabeleceu de imediato a chefia de governo em Imre Nagy e a 25 de Outubro, oficialmente acaba por exonerar Ernnő Gerő e nomear János Kádár para a direcção do partido, após condenarem o facto de tanques soviéticos terem disparado contra a vigília de manifestantes na praça frente ao parlamento.

Imre Nagy suportado pela massa popular deslocou-se à Rádio Kossuth onde anunciou ter tomado a chefia do governo, na qualidade de presidente do Conselho de Ministros. Prometeu uma ampla democratização da vida pública do país, a melhoria radical das condições de vida dos trabalhadores e a busca do socialismo condizente com as características nacionais da Hungria.

Os combates entre revolucionários (alguns militares liderados pelo Coronel Pal Maléter e parte de forças policiais juntaram-se à população que entretanto se abasteceu de armas por pilhagem em quartéis e fábricas de armamento) e militares soviéticos das guarnições locais apoiados por forças militares e policiais húngaras foi incessante, agravando-se de dia para dia por aumento de aderentes de uma parte e reforços enviados por outra, até que a revolução se estendeu por todo o país.

A 28 de Outubro, Imre Nagy e um grupo de fiéis colegas tomaram o controlo do PTH . Com o consentimento dos conselheiros soviéticos Anastas Mikoyan e Mikhail Suslov e com a colaboração de János Kadár, líder do partido, o primeiro ministro ordena um cessar-fogo, anunciando novamente pela rádio as negociações em curso para o abandono das tropas soviéticas, a dissolução da polícia política ÁVH com direitos de amnistia, o fim das cooperativas compulsivas. Todavia os combates continuaram nas ruas.

A 29 de Outubro forças Israelitas atacaram posições Egípcias no controlodo canal de Suez, acontecimento que desvia a atenção das grandes potencias mundiais e europeias (Reino Unido e França principalmente) para essa região que lhes interessava muito mais do que a Hungria.

A bem da verdade já era bastante expectável que a Hungria nunca seria auxiliada pelos países ocidentais, tampouco pelos vizinhos. Os Americanos, após o final da Segunda Guerra mundial haviam deportado dezenas de milhares de prisioneiros de guerra húngaros e alemães para a Jugoslávia, de modo a serem assassinados de imediato pelas forças do General Tito, ao invés de os devolverem às suas famílias, como seria de esperar, segundo as convenções internacionais que estes afirmavam respeitar.

Nesse mesmo dia 29 de Outubro, a embaixada norte-americana em Moscovo comunica oficialmente à União soviética de que Washington não considera a Polónia e a Hungria como seus aliados militares. Isso foi interpretado como uma declaração de anuência para uma eventual operação militar soviética nesses dois países, que levou os segundos a não interferir incisivamente na questão do médio-oriente.

A 30 de Outubro, Imre Nagy ordena a libertação do cardeal József Mindszenty e de outros prisioneiros políticos anuncia que o governo pretende abolir o sistema de partido único com a reconstituição do Partido dos Pequenos Proprietários, Partido Social-Democrata e Partido Camponês Petőfi.

Reforços soviéticos, tanques e outros meios operacionais não deixaram de entrar no território da Hungria, que segundo promessa do embaixador Yuri Andropov, tinham a intenção de assegurar estabilidade e segurança e não para esmagar a auto-determinação deste país. Inclusivamente as tropas soviéticas retiraram alguns efectivos e blindados da capital (com o propósito de se juntarem aos reforçoes recém chegados, nos subúrbios), o que deu a sensação popular de que seriam verdadeiras as promessas. Chegou mesmo a ser veiculada a idéia de que o aumento de contingente soviético no território estava de passagem para o conflito no Suez (era essa a informação que os próprios oficiais soviéticos enviados tinham desde o comando operacional).

Yuri Andropov era o embaixador soviético na Hungria desde 1954, posteriormente substituiu Brejnev no cargo de director do KGB, quando este ascendeu à presidência.

A 1 de Novembro, Imre Nagy comunica oficialmente a intenção húngara de se retirar do Pacto de Varsóvia e pede a intervenção das Nações Unidas para eventual protecção da Hungria contra represálias da União Soviética.

Talvez tenha sido este o erro, a gota de água que subestimou os limites da tolerancia de Nikita Khrushchev (Alexander Dubcek na posterior insurreição em Praga, não ousou tal desafio), que o sucessor de Stalin esteve nesses momentos hesitante, aconselhado até pelo General Georgi Zhukov para retirar, admitiu perder a Hungria ao considerar as duas hipóteses, negociação ou ocupação. A opinião de Mao Tsé-Tung foi ouvida, era importante não oferecer tal presente aos ocidentais capitalistas que o apelidariam de estúpido e fraco.

Para interromper imediatamente um clima de instabilidade que já pairava na Roménia e se fazia sentir na Checoslováquia, a supressão de movimentos na Polónia serviu de aviso, a repressão militar na Hungria serviria para exemplo.

Entre 1 e 4 de Novembro, o primeiro ministro acreditou ter conseguido a independência, informou os seus generais de que o embaixador Andropov garantiu que o governo soviético não deu ordens para atacar a Hungria.

Os combates cessaram, mas a dupla soviética Yuri Andropov e Ivan Serov não deixaram de executar as suas missões com precisão. O primeiro com a tarefa de entreter os novos governantes da Hungria com as mentiras necessárias e convenientes ao processo decisório dos seus superiores, o segundo, exercendo funções de chefe máximo da KGB deslocou-se a este país para gerir directamente os seus agentes nas acções de identificação dos intervenientes a responsabilizar a curto prazo. Pessoalmente prendeu o Ministro da Defesa, tratou de enforcamentos e fuzilamentos.

A 4 de novembro, o "Exército Vermelho" esmagou a revolução com uma violência tal que resultou em cerca de 20.000 mortos.

Imre Nagy refugiou-se na embaixada na Jugoslávia e pediu asilo político. János Kádar prometeu-lhe um salvo conduto para sair do país sob tutela diplomática, mas à saída dos portões foi detido.

Excepto neste acontecimento, o General Tito da Jugoslávia sempre foi distante, crítico, opositor, rival até da política externa soviética. No tempo de Stalin, chegou mesmo a enviar uma carta ao presidente da União soviética informando-o de que já tinha prendido cinco assassinos profissionais enviados a Belgrado para o matar, e caso o "caro amigo" Stalin não desistisse dessa intenção, somente bastaria enviar um jugoslavo a Moscovo para fazer com sucesso e à primeira o mesmo com Stalin.

A Jugoslávia traiu a Hungria e Imre Nagy foi preso (posteriormente executado, tal como Pál Maléter, após julgamento) e substituído no poder pelo sempre aliado dos soviéticos, János Kádár. Este, após sanear implacavelmente o partido, traindo amigos e camaradas enquanto a ausencia de escrúpulos parecia ilimitada, assumiu o cargo durante os 32 anos seguintes.
As imagens apresentadas neste artigo não são propriedade do autor

3 comentários:

santiago disse...

Blog extremamente interessante que visitei quase na totalidade.Deverei voltar a fazê-lo com mais tempo e minúcia.

Anónimo disse...

Desde que a Laura me indicou o Szerinting não me canso de ler os seus blogs.Parabéns.Continue.
Um abraço amigo da Sara.
O meu email é
sara.costa@btconnect.com

james stuart disse...

Agradeço a sua atenção e cumprimento.
Infelizmente não tenho capacidade para publicar com mais frequência.
Oportunamente serão editados artigos sobre Santiago de Compostela, Praga, Bucareste, Viena, Roma, Tallin... e um dia destes Lisboa.
Agradar-me-ia publicar sobre o Porto, mais tarde ou mais cêdo escreverei, até porque tenho muitos leitores "fiéis" dessa cidade, logo merecedores de um artigo para comentarem. Conforme verifica o Szerinting é um blogue muito fotográfico, faz-me falta recolher imagens (do meu arquivo em papel, resultado de milhares de imagens captadas em rolos de 135mm), o que deverá acontecer lá para o final do ano.
Sei que o seu abraço é mesmo amigo, simplesmente sei.
Obrigado