sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Szentendre

Szentendre é uma pequena cidade a norte de Budapest, pertencendo ao distrito de Pest Megye.
Apesar das suas origens remontarem ao período romano, aquilo que hoje encontramos no centro histórico pertence a uma evolução urbana que se explica com factores migratórios ocorridos desde o século XVI com o estabelecimento de colonos eslavos do sul e numa segunda fase, século XVIII, após retirada dos turcos (otomanos) um restabelecimento populacional de sérvios, dálmatas, gregos, eslovacos e também alemães (a título de exemplo, o actual presidente da câmara tem um nome de origem germânica) que se integraram com os húngaros apesar da forte proporção de novos colonos com crença muçulmana que se estabeleceu.
A maioria étnica tem ascendente sérvio, facto que se traduz numa arquitectura e organização urbanística diferenciada dos padrões húngaros, mais similares por influência com os austríacos.
O acesso ao centro histórico barroco desta pequena cidade é relativamente fácil, tanto que existe uma via rápida rodoviária bem como um sistema ferroviário suburbano directos à capital.
A estação ferroviária desemboca numa proximidade pedonal das ruas estreitas em paralelepípedo que rodeiam as muitas igrejas de todas as religiões, cafés, restaurantes, museus e lojas de recordações, onde se encontram roupas tradicionais, porcelanas, artesanatos diversos (chapéus e carteiras feitas de cogumelos, por exemplo) e doçarias onde a especialidade é o Marzipán.
Szentendre encosta-se ao Danúbio de um modo discreto e sem ambições, porque o transbordo e destruição provocadas pelas cheias que sempre ocorrem com o fim do Inverno, ao longo dos séculos ensinou aos seus habitantes o respeito por essa força da natureza, digamos neste caso, fluvial.
Vale a pena visitar o Skansen, um museu etnológico ao ar livre (um pouco distanciado do centro histórico) onde estão representados nove conjuntos arquitectónicos, diferentes aldeias húngaras construídas a rigor no mesmo parque.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Silva Porto (9)

Se o militar intenta namorar a vendedeira... o pão que esta traz no alguidar é demasiado rijo e tem um sabor indefinido... o edifício da esquina já foi reparado, mas o maior que se vê por detrás ainda não, ainda tem pendurado um retorcido letreiro luminoso... uma criança observa encostada a um marco dos Correios, que ali nunca foi vermelho mas verde, somente uma peça de metal cilíndrica, oca e sem porta que ninguém compreende para que serve ou serviu, coisas dos "bránco".
O antigo poste de iluminação está repleto de pequenos orifícios, algumas balas de Ak 47 ainda ali estão cravadas... os cabos eléctricos aéreos ligam a uma rede impressionante de distribuição favorecida de electricidade desde um gerador instalado para uso exclusivo do governador da província do Bié... uma motorizada de marca Nanfang afasta-se depois de ter passado junto ao terreiro onde alguns esperam sentados pela vez de recolherem água de um poço. Essa água servirá para beber e para cozinhar, embora as probabilidades de contaminação sejam elevadas, tendo em conta que ao redor do poço foram exumados alguns corpos semanas antes... o quintal por detrás tem uma nespereira e uma latada em redor da casa, videira que não é podada há décadas e por isso não dá nada.
Imagem captada em 2004 na cidade do Kuíto (antiga Silva Porto), província do Bié, Angola.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Tallinn

A vontade de abandonar a capital da Suécia era quase nenhuma (se ao menos tivesse ainda uns dias a mais para continuar a aventura seguramente que o próximo destino seria Copenhaga), mas havia deixado o carro estacionado num parque junto à Raekoja plats, a praça central da capital estónia, era irresponsável não regressar.
Na semana anterior pareceu lógica a visita de um dia a Helsínquia por via marítima, tão lógica afinal como a partida para Estocolmo desde esse porto.
A viagem deixava então de ter qualquer plano, já nem o regresso via Londres era importante. Copenhaga ou Tallinn?
As roupas, as malas e as recordações em âmbar entretanto adquiridas em Klaipėda valiam a pena que voltasse, na verdade valiam muito mais do que o automóvel, mesmo que a panela de escape não estivesse rôta.
O regresso ao porto de Muuga, foi num outro grande navio branco e azul, similar em tamanho ao da viagem anterior, embora menos moderno.
Tallinn é pequena, o que é absolutamente natural porque a Estónia só tem um milhão e meio de habitantes, nem isso.
Apesar da relação estreita existente entre estónios e finlandeses (em termos linguísticos partilham também com os húngaros a origem fino-úgrica) favorecida por termos geográficos e políticos, a influência cultural e arquitectónica é aquela que a história da cidade pode contar: A do domínio sueco, a do império russo, também a da Livónia (o poder cristão da Ordem Teutónica), momentos outros de alternância dinamarquesa, lituana-polaca, etc.
Tallinn, (nome pela qual passou a ser conhecida Reval a partir do século XIX) pertenceu anteriormente à Liga Hanseática tornando a cidade importante comercialmente e tornando irrelevante o poder dinamarquês da região.
A igreja ortodoxa localizada na cidade velha em Tallinn, foi construída em 1894, demonstrando a influência do império russo, pese o facto de os estónios serem o povo europeu menos religioso, e da maioria (dos poucos crentes) ser Luterana à semelhança dos povos nórdicos vizinhos.
No centro da cidade velha (protegido por um sistema de muralhas e portas sob torreões) está localizada a Câmara Municipal (Raekoda) no centro histórico classificado como Património UNESCO.
O “chasso” de matrícula letã estava lá à espera para voltar a Riga, alguém lhe deu um toque partindo o farol e um bocado da grelha... passou a valer metade.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Nova Lisboa (4)

O edifício da Delegação Provincial da Agricultura do Huambo está situado exactamente na mesma praça (rotunda) do edifício do Governo da Província e também dos correios. Apesar de terem sofrido alguns danos, o aspecto é sim idêntico à origem, arquitectura da década de 70.
A organização urbana de Nova Lisboa faz dela uma cidade quase perfeita, onde avenidas e jardins foram planeados do modo mais inteligente, tanto na cidade baixa como na cidade alta. Certas praças e largos fazem lembrar determinadas zonas de Almada ou Barreiro, algumas ruas, a Amadora e Benfica.
Por outro lado não existem outras cidades portuguesas que tenham sido planeadas como esta, onde ruas e avenidas formam bairros inteiros de moradias, onde diferentes quarteirões têm edifícios de altimetria equivalente mas similar entre eles, perfeitamente, pois nasceu desse modo.
O tal edifício da Agricultura está uma lástima por dentro, faltam portas e janelas, o pavimento desapareceu em algumas salas e as instalações sanitárias deixaram de funcionar há muito, todavia parece que há intenções de o renovar.
No Huambo encontram-se já hotéis e restaurantes em condições aceitáveis para um europeu, um mundo completamente diferente do experimentado no Kuito ali tão perto.
Em termos de aeroporto, pista para aviões vá, é verdade que a do Huambo tem condições para a aviação comercial e a do Kuito somente para aparelhos militares, embora a segunda tenha uma zona cómoda e coberta com cadeiras para os passageiros em espera, e a primeira não tenha, é ali no meio da pista e ao sol que o pessoal espera pela boleia... enquanto um guarda vigia, sentado numa sucata qualquer, a movimentação de estranhos ao local e intrusos com ousadia de ultrapassar a vedação que já não existe.
As peças de artilharia anti-aérea também ali estão, reunidas num trio obsoleto que provavelmente não voltará a ser utilizado, esperemos.
Imagens captadas em 2004 no Huambo (antiga Nova Lisboa)

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

República Bolivariana de Venezuela

A Venezuela é uma república federativa presidencialista, com a sua independência (República da Grande Colômbia) confirmada em 1821 após a batalha de Carabobo, contra as forças espanholas, apesar de anteriormente proclamada, a 5 de Julho de 1811.
A sua história é a de sucessivas ditaduras políticas ou militares, onde nomes como Julián Castro, Antonio Guzmán Blanco e Cipriano Castro nos finais do século XIX, Juan Vicente Gómez, Isaías Medina Angarita e Pérez Jiménez no século XX se destacam a exemplo. Somente a partir de 1958 foi estabelecido um regime democrático.
Entre 1866 e 1870 o país conheceu uma guerra civil que opôs liberais a conservadores.
É um dado importante referir que a partir de 1922 foi iniciada a exploração das jazidas de petróleo da Venezuela, destronando a agricultura como principal riqueza do país.
A história da Venezuela está ligada para sempre a Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar Palacios y Blanco, aristocrata de origem basca, nascido em Caracas a 24 de Julho de 1873, herói libertador, responsável pela independência de vários territórios da América espanhola.
A história da independência da Venezuela, tal como a de todos os países da América latina em geral, incluindo o Brasil, está íntimamente relacionada também com Napoleão Bonaparte que desde a Europa, com o seu Império, mudou o mundo. No caso da América espanhola, foi desde o momento em que José Bonaparte (irmão de Napoleão) foi nomeado rei de Espanha e colónias respectivas, que apareceram as Juntas de resistência que se transformaram posteriormente em movimentos de independência e libertação.
A independência da Venezuela como estado soberano e independente somente aconteceu após a morte de Simón Bolívar, com a desintegração da República da Grande Colômbia (formada pelos territórios da Colômbia, Equador e Panamá).
Há quem acredite ser o nome Venezuela a propósito de Veneza, por baptismo de Américo Vespúcio após os primeiros exploradores verificarem que alguns nativos haviam construído casas sobre estacas de madeira no Lago Maracaibo, porém a mais verdadeira e credível explicação tem que ver somente com o facto de que o povoado era chamado pelos indígenas de Veneciuela.
Em 1498 Cristóvão Colombo explorou a costa da Venezuela durante a sua terceira viagem ao continente americano, mas somente a partir de 1520 foi iniciada a colonização espanhola.
Habitada pelos povos Aruaques, Caribes e Cumanagatos, o território pertencente parcialmente ao Vice-reinado do Perú, passou a ser pertença do Vice-reinado de Granada em 1717 e somente em 1776 é assumida como Capitania-geral do Império espanhol.
As imagens apresentadas neste artigo não são propriedade do autor

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Ópusztaszer

Se alguém quiser entender melhor as raízes dos “maguiares” não pode deixar de visitar Ópusztaszer. Este pequeno lugar passou a ser um símbolo da cultura húngara e forma parte do Parque Memorial da História Nacional.
O ponto central de atracção é uma pintura de 1894 da autoria de Árpád Feszty. Trata-se de uma pintura panorâmica extraordinária, não somente pela qualidade e perfeição artística mas também pelas suas dimensões – tem 120 metros de comprimento por 15 metros de altura – numa base circular.
O tema da pintura, que demorou dois anos a ser concluída, é a conquista das grandes planícies (bacia dos Cárpatos) no ano de 896 pelas tribos Magyar sob o comando de Árpád. Com mais de 2000 figuras, incluindo os chefes das tribos, camponeses, guerreiros, inimigos e animais, a imagem colorida tem efeitos tridimensionais.
Segundo lenda, antes da conquista do território, em Ópusztaszer, junto ao rio Tisza, mataram o pai de Árpad e beberam o seu sangue num ritual específico que serviu para assegurar a victória sobre os povos eslavos e turcos que habitavam o território (da actual Hungria), o que aconteceu em menos de um ano.
No Parque Memorial encontramos as estátuas em bronze dos reis húngaros circundando um monumento onde figura a imagem de Árpad, fundador da nação, e ao vento hasteada a actual bandeira da república.
A cultura Magyar é demonstrada por conjuntos de casas típicas de todas as eras, desde as tendas dos “colonizadores” às casas de camponeses, moínhos e engenhos, mostras agrícolas e animais tradicionais de pastoreio.
No meio de ruínas medievais (mosteiro) estão implantadas esculturas recentes que representam numa sequência a história do país, as invasões mongóis, a ocupação otomana, o domínio austríaco, a independência.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Sümeg

Sümeg é uma cidade no distrito húngaro de Veszprém.
A sua fundação remonta à idade do bronze, existem também ruínas de construções romanas da outrora Pannonia, embora seja no reinado de Béla IV (1235 a 1270) que aparece importante na história dos destinos da nação Magyar, na era das invasões mongóis e concessão de asilo às tribos cumenas. Este rei iniciou a construção do castelo no cimo da colina, finalizado posteriormente pelo bispo de Veszprém.
Os monges franciscanos estabeleceram-se em Sümeg no século XVIII, influenciados pela importância católica de um lugar que o bispo Padányi-Bírő Márton engrandeceu com a construção de um belo palácio ao estilo barroco.
Os nomes Széchenyi György e Rákóczi Ferenc estão fortemente associados ao passado de Sümeg por via da guerra: A importância do castelo no alto, como peça estratégica nas linhas recuadas de defesa às invasões otomanas no século XVII foi complementada com a construção de muralhas e torreões de protecção ao povoado por iniciativa do bispo Széchenyi. Por outro lado, os movimentos separatistas de libertação contra o Império austríaco no século XVIII protagonizados por Rákóczi, resultaram na destruição quase total de Sümeg, no momento da derrota.
Sümeg é um ponto de interesse turístico, de província. Ali tão perto do lago Balaton acaba por beneficiar principalmente com alguma movimentação de veraneantes estrangeiros.
Junto ao castelo, bem conservado, existe um museu e um restaurante típico bem como uma série de pequenas lojas de artesanato e de comidas rápidas (algumas com base na gastronomia regional) e um hotel recente e apetrechado com piscinas termais, saunas, centro de massagens, restaurante e outros serviços.
Para além disso há um centro hípico, picadeiros e uma arena para jogos de guerra medievais, uma representação alegórica e divertida de arqueiros, cavaleiros e escudeiros num ambiente acolhedor onde é oferecido vinho quente na bilheteira, palinka e pogasca à entrada...
... e o jantar logo após, num conceito de idêntica extravagância teatral.

domingo, 4 de novembro de 2007

Lisboa

Há precisamente 860 Anos al-Lixbûnâ foi reconquistada aos mouros pelos cruzados do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, 428 anos depois desta ser tomada pelos árabes aos Visigodos, que a chamavam de Ulishbona, nome que derivava de Olissipo, cidade romana desde 205 a.C até ao colapso do Império.
Anteriormente era Alis Ubbo, fundada pelos fenícios junto ao rio Taghi, cerca de 1200 a.C, posteriormente sob controlo administrativo de Cartago.
Em 1179 Lisboa recebeu foral e somente em 1255 passou a capital do Reino de Portugal.
Nos séculos XV a XVII, de Lisboa partiram a maioria dos navegadores empenhados nos Descobrimentos.
A Lisboa voltaram a maior parte das naus com riquezas das índias e Nôvo Mundo, assim como um ambiente único de concentração de comerciantes e estrangeiros de diversas raças e etnias, a juntar aos escravos e serviçais.
No reinado de D. João V (Século XVIII) foi construído o Aqueduto das Águas Livres, uma extraordinária e majestosa obra de engenharia, rede complexa de distribuição de água com centenas de quilómetros de canais, depósitos, fontanários, captações.
Em 1755, Lisboa foi completamente destruída por um violento terramoto.
A reconstrução de Lisboa após o terramoto foi oportuna para um planeamento urbano eficaz e inteligente, que mais aproximou esta cidade à organização e modernidade de outras capitais europeias (que diferente desta, sofriam habituais ocupações, invasões, destruições, logo eram constantemente renovadas).
Em 1808 os exércitos de Napoleão Bonaparte tomaram Lisboa sem grande resistência, que o próprio Rei D. João VI preferiu fugir para o Brasil, com uma comitiva de cerca de dez mil cortesãos, criados e favorecidos, numa frota naval enorme carregada dos tesouros reais, mobílias, pinturas, bibliotecas inteiras encaixotadas e escoltada pela marinha Inglesa.
Em 1908 no Terreiro do Paço, o Rei D. Carlos I foi assassinado e a 5 de Outubro de 1910 implantada a república segundo proclamação de José Relvas desde a varanda da Câmara Municipal.
No dia 25 de Abril de 1974 Lisboa foi palco de um levantamento militar (golpe de Estado) com o objectivo de alterar o regime político existente e iniciar uma série de processos administrativos, a maior parte com consequências desastrosas para a economia (eventualmente não previstas, provavelmente não intencionadas).
Lisboa é cidade geminada com Budapeste, Madrid, Paris, Atenas, Zagreb e outras.
As imagens de pinturas apresentadas não são propriedade do autor