As caravelas portuguesas ostentavam nas velas as cruzes da Ordem Militar de Cristo, sucessora dos Templários, vermelhas sob fundo branco.
O Infante D. Henrique, terceiro filho do rei D.João I, tornou-se em 1420 governador da Ordem Militar de Cristo. D. Henrique, o Navegador, juntou a sabedoria dos Templários à cabalística dos Judeus, uniu homens de ciências físicas e químicas, eruditos herméticos, esotéricos, astrónomos, matemáticos e outros numa demanda do Santo Graal, a demanda do conhecimento. Cavaleiros tornaram-se navegadores e os descobrimentos passaram a ser as suas cruzadas.
A lição que Castela tirou do confronto de 14 de Agosto de 1385 em Aljubarrota (e posteriormente na batalha de Toro), foi de que o Reino de Portugal era militarmente mais forte do que os mouros que se pretendiam expulsos da península Ibérica. A lição que Portugal tirou desse mesmo confronto foi de que o Reino de Castela deveria ser incentivado a expandir-se para sul, enquanto dedicados ou auxiliados a tomar terras aos infiéis, não levantariam problemas de coexistência com o Reino de Portugal, este sem maiores aspirações fronteiriças do que as já delineadas.
Essas décadas de relativa tranquilidade fronteiriça deram ao Reino de Portugal a oportunidade de se dedicar ao mar, à expansão territorial possível no continente africano e à pesquisa da rota marítima que daria acesso às riquezas da Índia, que já se imaginava possível muitos anos antes, tendo em conta as informações prestadas pelos espiões enviados por via terrestre no reconhecimento cartográfico da costa oriental de África e avaliação das respectivas capacidades militares dos reinos dominantes nessas paragens.
O Rei Fernando II de Aragão e a Raínha Isabel I de Castela eram incondicionalmente obedientes ao Papa (curiosamente o Papa era castelhano também), perseguiram os Templários e proibiram a religião dos Judeus.
D. João II, Rei de Portugal, não entendeu obedecer linearmente ao Papa, primeiro porque os seus navegadores eram Templários ou discípulos destes (quanto aos ensinamentos de astronomia e cosmografia), e segundo porque os Judeus eram importantes financiadores das campanhas marítimas. Posteriormente veio a proibir o Judeísmo com opção de conversão (chamados de cristãos novos), o que se revelou um grande erro, com intenção de agradar aos reis católicos de Espanha por alturas de casamento de seu filho Afonso com a princesa espanhola Isabel, e estabelecer o acordo de sucessão do trono desse reino. Ou seja, a perseguição dos Judeus em Portugal aconteceu em parte como dote oferecido aos reis de Espanha para aceder ao direito futuro do trono (que não veio a acontecer porque D. Afonso morreu num acidente equestre) pela via de casamento.
Os Reis Católicos de Espanha despertaram para a navegação um pouco antes do final das guerras contra os muçulmanos. Eram demasiado ignorantes para se desprenderem das crenças religiosas em favor da razão, de que a Terra não era plana.
Os primeiros Tratados que assinaram com o rei português limitava-os à expansão contra os mesmos muçulmanos (norte de África) e acesso às ilhas Canárias, com excepção a Ceuta e Arzila. Esses Tratados (exemplo de Alcáçovas em 1479) eram para D. João II uma autêntica paródia, oferecidos aos espanhóis como jogadas para distração.
Portugal tinha pouco interesse na conquista de terra aos mouros (lições tiradas pelas grandes dificuldades que o Rei D. Afonso V, pai do próprio D. João II, teve na conquista da praça de Alcácer-Ceguer e Tânger apesar do seu exército ser composto por uns doze mil homens, preparado inicialmente para ser utilizado em cruzadas contra os otomanos na Hungria, o que não veio a acontecer por morte do Papa Calisto II, que havia solicitado tal esforço).
Muitos anos antes do Tratado de Tordesilhas, já o Rei de Portugal sabia da existência das terras da América, e diferente dos castelhanos ele sabia bem que não se tratava da costa oriental da Ásia (comparadas as descrições e cartografias resultantes das viagens de Marco Polo com as informações obtidas pelos Templários de seus antepassados nórdicos, ou seja Vikings). Como a América não era a Ásia e a prioridade de D. João II era o acesso marítimo às riquezas da Índia, evitando o controlo genovês do Mediterrâneo, a facilidade com que foi aceite o Tratado visava afastar os espanhóis de África o mais possível e dominar o Atlântico sul. Porém sabendo D João da existência do "Brasil" e da forma esférica do planeta, não deixou de acordar uma longitude que lhe desse acesso à costa da América do sul. Uma coisa tinha como certa: A distância a percorrer na rota para a Índia era inferior contornando a África do que a América pelo sul.
Cristóvam Guerra Colom (também conhecido por Cristóvam Guiarra Colon, Cristóvam Sciarra Colonna ou pela abreviatura Xpova Colona) era um marrano, ou seja um judeu convertido oficialmente a novo cristão, mas que mantinha a sua crença na fé judaica em segredo. Nascido em Cuba, vila situada perto de Beja, no sul de Portugal, este homem era familiar da Raínha de Portugal (primo talvez), descendente da família Sciarra Colonna de Piacenza (família que havia fugido para Portugal por perseguições das repúblicas da península Itálica contra os judeus). Colom era portanto familiar do Rei de Portugal, frequentava a corte normalmente como outros fidalgos da época. Casou com Dona Filipa Moniz Perestrelo, filha do capitão donatário de Porto Santo e descendente de Egas Moniz.
Colom era um homem culto, falava e escrevia correctamente português, latim, também castelhano (com muitos erros ortográficos) e entendia hebreu. Sabia de navegação e de sistemas de orientação tanto quanto outros navegadores portugueses de renome porque também era membro da Ordem Militar de Cristo (explicado assim o seu primeiro nome, impossível para um Judeu, apenas razoável para um “convertido”).
No entanto, em 1484 Colom fugiu secretamente de Portugal, com seu filho Diogo.
Os espiões do rei interceptaram correspondência entre o Marquês de Montemor, irmão do Duque de Bragança e os reis de Espanha, onde se maquinava uma conspiração contra D. João II. Todos os conspiradores foram eliminados (o Duque de Bragança foi decapitado na praça do Giraldo, em Évora) excepto aqueles que fugiram para Castela, entre eles D. Álvaro de Ataíde, D. Fernando de Sylveira, D. Lopo de Albuquerque, Isaac Abravanel, Cristóvam Guerra Colom e muitos outros que se relacionavam com as tramas dos duques de Bragança e Viseu (o Duque de Viseu era simultaneamente Duque de Beja e foi apunhalado pelo próprio Rei no paço).
Os poderes absolutistas do Rei foram reforçados com a confiscação de todos os bens da poderosa Casa de Bragança, destruíndo o poder dos grandes, não se tendo apoiado no povo para tal decisão... “sendo senhor dos senhores, nunca quis ser nem parecer servo dos servidores” segundo o cronista Ruy de Pina.
Cristóvam Colom, fugido de Portugal por envolvimento na conspiração contra o Rei, obtém favores especiais dos reis de Espanha, logo direito a audiências para oferecer seus serviços de navegador experimentado.
Mas os conhecimentos avançados deste homem não eram facilmente assimilados pelos Reis Católicos, pelo que teve que esperar muito tempo até que estes se decidissem a financiar uma expedição atlântica na descoberta do caminho para as "índias" (pois obviamente entendiam que se fosse verdade que a Índia estivesse a ocidente, os portugueses não andariam às voltas na costa de África).
O que é certo é que anos mais tarde uma carta de de D.João II oferece o perdão a Colom, tratando-o como “espicial amigo en Sevilla” e solicita que regresse a Lisboa.
D. João II ofereceu pessoalmente a Colom o montante restante necessário para custear a viagem deste ao serviço dos reis de Espanha (que disponibilizaram um milhão de maravedis) e instrumentos de navegação (tábuas de declinação do sol escritas em hebraico), num acordo secreto que convinha ao Reino de Portugal. Tendo os espanhóis animados a descobrir terras novas (sem interesse) a ocidente, refrearia eventual cobiça pelas riquezas da Índia extraídas pelos navegadores portugueses através da costa africana. Em troca, Colom tornar-se-ia famoso e dono de parte das terras a “descobrir”, conforme estipulado no contrato da expedição (situação que não era de certo modo justa para os navegadores portugueses, principalmente para Côrte-Real, que anteriormente reconheceram a América, mas eram obrigados ao “segredo de Estado”).
Cristóvam Colom lá foi com as naus, transportando consigo moedas portuguesas (ele também sabia que os nativos americanos eventualmente reconheceriam as moedas com a imagem do Rei de Portugal) e é também verdade que alguns marinheiros espanhóis aperceberam-se que alguns nativos já tinham visto homens brancos e de longas barbas anteriormente, "vindos do mar".
Na volta da expedição, a Niña, nau onde viajava Colom, fez escala nos Açores (Santa Maria) e estacionou uma semana em Lisboa. Colom reuniu com o Rei de Portugal no palácio da Azambuja, depois com a Raínha em Vila Franca de Xira (dormindo em Alhandra), posteriormente fez outra paragem em Faro e somente depois retornou a Cádiz.
Os encontros com D.João II foram bastante úteis para ambos combinarem a estratégia de mentiras (a divulgação errada sobre longitudes por exemplo) que levariam os reis de Espanha a assinar o futuro Tratado de Tordesilhas de modo conveniente a Portugal e estabelecer os direitos da Espanha sobre as terras que durante muitos anos ainda chamaram Índias ocidentais.
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domingo, 28 de outubro de 2007
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