sexta-feira, 29 de junho de 2007

Al-Magrib

Marrocos é ali mesmo, desde o porto de Tarifa, no sul de Espanha vislumbram-se as silhuetas dos montes, o continente africano. Tão perto e no entanto tão longe de nós.

A cidade de Tanger é uma porta de entrada para esse mundo tão diferente do nosso, no entanto ali, tudo é ainda tão europeu, que faz falta avançar um pouco mais.

A azáfama das gentes, os petit e grand taxis circulam frenéticos num sabe-se lá porquê, ocupados por um dois, três, quatro... sete, oito... ou tantos clientes os que possam caber nesses automóveis cambados mas resistentes num sabe-se lá como.

As senhoras cobertas pelos lenços coloridos ou de jelabah conferem ao lugar o exotismo que o estrangeiro já prevê.

Que ali não abundam camelos nem burros como se diz e ouve dizer, faz falta avançar um pouco mais.

Os edifícios são predominantemente brancos e modernos, num estilo que resistiu ao francês mas acabou entrosado com uma espécie de espanhol, principalmente junto às praias, onde a pressão imobiliária é uma realidade.

Lá no alto a Medina, antiga e idêntica às de qualquer outra cidade deste reino, é de ruas estreitas e confusas, onde tudo se vende e os olhares espreitam através de frestas e cortinas. À sua volta a cidade nasceu, colonial e europeia.

Em Tanger há de tudo, mas de tudo o que já se conhece do outro lado do canal, faz falta avançar um pouco mais.

Seguindo pela costa até Asilah encontramos os vestígios de que ali chegou a ser Portugal, não por muito tempo é certo, apenas o suficiente para que se encontrem pesadas peças de artilharia em bronze, muralhas de uma vila fortificada, num estilo que é seguramente mais árabe do que europeu.

Pelo caminho e por todos os caminhos e estradas desse país adentro, sempre estão presentes os burros, os ovídeos e um ou outro dromedário (que sempre apelidamos de camelo), na sua maioria aguardando o turista suportador do seu cheiro em troca daquela fotos de pose heróica que tanto faz falta levar para contar.

E porque faz falta avançar um pouco mais, torna-se obrigatório transpor o Atlas, essa cadeia montanhosa de solo árido e descobrir após o que é o deserto. Ouarzazate é o ponto dessa chegada, o ponto dessa partida. Os seus edifícios já não são brancos mas da cor de tudo o que rodeia exceptuando o céu.

Os Kasbah (casas ou conjuntos de casas fortificadas por meio de grandes muralhas) são silhuetas constantes nesta paisagem sempre castanha-avermelhada, parecem castelos sem que o sejam, a razão afinal de existirem alguns lugares onde vive gente em região tão inóspita.

Também muito perto , junto à cordilheira Atlas, encontramos Marrakesh, uma grande cidade que faria falta se ali não estivesse, onde se desenvolve um comércio importante de tudo o que a região oferece e tem para mostrar. De uma só cor, a mesma de tudo o que nos rodeia excepto o céu, Marrakesh tem o encanto do verdadeiro Marrocos, são riquíssimos palácios e enormes mesquitas, avenidas largas ou ruas imaginadas para a circulação pedonal (estruturas de madeira com o propósito de criar sombras sobre os transeuntes), tudo é exemplar, que encontrando a hotelaria de razoável qualidade e mercados tão coloridos, já não faz falta avançar mais.

Pernoitar num Riad é perceber que por detrás daqueles véus e daqueles trajes comprometidos, há algo mais na alma destes árabes, desta gente tão diferente... que o ambiente recolhido em paredes, recantos, fontes e canteiros, anexos e anexos que se interligam num intenso labirinto de espaços de relaxe e erotismo colorido e provocante, a imaginação é tornada maior do que a realidade, ou a realidade é coisa só deles e ficaremos para sempre nessa dúvida.

1 comentário:

Unknown disse...

Caro James

Um grande abraco de Absolutamente Ninguem directamente do Al-Magrib e em teclado AZERTY :)