quarta-feira, 4 de julho de 2007

Guggenheim de Bilbao

Frank Gehry é o tal arquitecto que nos faz recordar o Parque Mayer na Lisboa da gestão municipal com menos relevo de sempre na história da capital. Para além do pouco relevo há também destruição e perdas incompreensíveis, nomeadamente o fim da Feira Popular, esse parque de atracções que ficará para sempre gravado na memória da criançada que afortunadamente teve o privilégio de ter conhecido e disfrutado. Era ali o melhor pão com chouriço da cidade e caldo verde “empurrado” à caneca de branco tirado da pipa no momento e foi também o Café dos pretos que se perdeu para sempre.
Durante os escassos meses dessa gestão municipal de falhados (expressão que pretende ser uma tradução da palavra anglo-saxónica “loosers”), o nome Frank Gehry andou na baila com tanta presistência como se a sua intervenção na nossa capital fosse tão imprescindível como o bacalhau à mesa nos Domingos.
Felizmente isso não aconteceu, e basta analisarmos o "curriculum" deste personagem para que se entenda o porquê.
Não sem antes referir que os profissionais da arquitectura observam um fenómeno de sucesso que não é proporcional ao lugar que os mesmos julgam ter numa sociedade. Exemplos disso são Siza Vieira em Portugal, sem desvalorizar a maioria da qualidade das suas intervenções e trabalho e Makovecz na Hungria, que após um longo percurso de reconhecimento nacional e internacional, terem recebido prémios e galardões disto e daquilo, apoderam-se de um sentimento ego-cêntrico de superioridade intelectual rumo ao “eundeusamento” e arrogam-se a partir de determinado momento das suas carreiras ao direito de produzir aquilo “que lhes dá na gana”, desenhos ridículos mas arrojados, outros megalómanos e sempre dispendiosos, a que sumáriamente os representantes públicos do povo aplaudem e veneram.
A verdade sobre o museu Guggenheim em Bilbao é a seguinte: O museu é um dos mais visitados de Espanha, não pela sua função de museu mas pelo desenho extravagante do edifício. Quem se lembra das obras expostas no seu interior? Por acaso algumas obras até têm interesse internacional (Andy Warhol), mas a lógica de um museu é como a da fruta, o interior deve ser mais importante do que a casca.
Construído entre 1992 e 1997, o museu pertencente à fundação Solomon Robert Guggenheim (de um conjunto de cinco, situados os restantes em Las Vegas, Veneza, Berlin e New York) é coberto externamente por chapas de titânio calandradas num género “orgânico” de vanguarda, típico aliás das obras de Frank Gehry. O extraordinário que se pode verificar no edifício é somente por fora, pois as salas de exposição são quase todas iguais às de outros museus, ou seja, inovou-se no exterior mas não na função básica do museu, que é conservar e expor obras de arte. E por ser o museu tão inovador uma crítica que ele recebe é justamente ser mais atraente do que as próprias obras expostas.
O seu elevado custo e o carácter quase experimental de muitas das inovações usadas na sua construção, resultaram com que os custos de manutenção e limpeza sejam também elevados.
Felizmente para os “alfacinhas” a hipotética intervenção de Frank Gehry em Lisboa já passou à história sem ter deixado mais do que a memória do seu nome.
Como diria o grande Santana (Vasco Santana, entenda-se) na sua voz trémula, anasalada e arrastada de sílabas: “Para trás... a partir de hoje não sou mais um peso para ninguém

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