sexta-feira, 4 de maio de 2007

Pisa

Desde o colapso do Império Romano até à unificação monárquica a 17 de Março de 1861, a Itália experimentou migrações e invasões de povos de diversas origens bem como permaneceu em conflito constante entre diversas repúblicas, estados independentes e cidades-estado da península. A influência externa sobre alguns estados também foi relevante tanto no desenvolvimento como na manutenção de conflitos entre vizinhos (o caso de Nápoles, Sicília e Sardenha sob domínio do Império Austro-Húngaro).
Pisa, tal como Génova, Veneza e Amalfi foi uma república marítima, tendo conquistado os territórios de Sardenha, Córsega (aliada a Génova, controlando o mar Tirreno) no século XI e posteriormente as ilhas Baleares. O esplendor desta república aconteceu nos séculos XII e XIII até à derrota da sua frota naval pelos próprios Genoveses na batalha de Meloria no ano de 1284, de onde saiu debilitada no seu poder económico e controlo do Mediterrâneo ocidental, tendo perdido a independência já nos primórdios do século XV a favor de Florença, capital da Toscânia, mais precisamente no ano de 1406.
Há 20 séculos atrás, durante o Império Romano, Pisa encontrava-se a apenas 4 km de distância do mar, no estuário do rio Arno. O “Porto das maravilhas” em Pisa, foi o maior porto romano, igualmente importante como o porto de Ostia, perto de Roma. Actualmente esta cidade encontra-se a 17 km do litoral, facto explicado pela lenta mudança do curso do rio e a expansão da terra sobre o mar (escavações arqueológicas em terra vão encontrando dezenas de embarcações romanas perdidas outrora no fundo do mar, algumas delas intactas e com a carga que transportavam).
Os terrenos, pantanosos e instáveis explicam porque existem tantas construções inclinadas nesta comuna italiana, algumas das quais “afundaram” com o passar dos séculos, outras já “nasceram” desse modo.
A “Praça dos milagres”, património da humanidade classificado pela UNESCO em 1987 é composta pela catedral medieval de Sta. Maria Assunta, no estilo românico do século XI, segundo projecto do arquitecto Buscheto, pelo baptistério dedicado a S. João Baptista, da segunda metade do século XII também ao estilo românico (inspirado num modelo idêntico em Florença), pelo cemitério Camposanto monumentali de claustro ao estilo gótico (iniciado em 1278 mas finalizado somente em 1464) e pela famosa torre pendente.
Todas estas edificações apresentam problemas de estabilidade que se podem verificar no local mesmo que não se seja um entendido de assuntos de construção.
A torre de Pisa ou torre pendente é uma torre sineira inteiramente construída em mármore branco supostamente segundo projecto da autoria de Gherardo di Gherardo. A construção foi iniciada sob responsabilidade de Bonanno Pisano no dia 9 de Agosto de 1173 mas foi interrompida ao terceiro piso de altura, em 1178 no momento em que se verificou uma ligeira inclinação.
Um século mais tarde, em 1275 Giovanni di Simone e Giovanni Pisano retomaram a construção da torre procedendo a algumas alterações de contrapeso e correcção de ângulo, porém infrutíferas pois o peso da estrutura foi aumentando proporcionalmente. Estando muito próxima da conclusão, a crise económica resultante da derrota na batalha naval de Meloria frente aos Genoveses adiou a construção do último piso para o ano de 1372 sob direcção de Tommasso di Andrea Pisano.
O último dos sete sinos (escala musical inteira) foi colocado somente em 1655, agravando com mais 3,5 toneladas as 14.453 toneladas do conjunto.
Em 1838, o arquitecto Alessandro della Gherardesca mandou construir uns novos acessos junto à base, mas os trabalhos de escavação demasiado próximos recolheram inundações que agravaram o ângulo do edifício.
Já no século XX, Benito Mussolini decidiu que a torre deveria ser corrigida integralmente à posição de verticalidade, mas os trabalhos de cimentação das fundações e escavações compensatórias não só não resultaram como pelo contrário agravaram o eminente colapso da estrutura, pelo que em 27 de Fevereiro de 1964 o governo de Itália solicitou colaboração internacional a matemáticos, engenheiros e historiadores de modo a debater os métodos de estabilização a adoptar (os encontros sobre este tema foram realizados numa das ilhas dos Açores, Portugal).
Desde essa data até ao ano de 2001 os trabalhos de reconstrução e estabilização (ancoragens, cabos esticadores, contrapesos em chumbo, extracção de solos, etc.) foram contínuos até ao momento da conclusão, garantida a permanência dos 5º de inclinação pelo prazo de 300 anos.

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