quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Limites de aspiração ou o contentamento das pretensões

Sim há objectos que pertencem aos sonhos, há os que pertencem à habituação e há os irrelevantes à estima. Há assim os inalienáveis, os que representam algo e os dispensáveis, sejam imóveis, móveis ou miudezas.
Se por um lado as propriedades imobiliárias são realmente grandes razões do coração, as possessões rolantes têm por vezes direito a grande dedicação, enquanto que no imenso mundo das coisas pequenas exibem-se maiores afectos principalmente nas colecções, rochas ou metais raros.
Um Trabant 601 Hycomat é um objecto com rodas da década de 80. O seu motor a dois tempos funciona com irregularidade, faz muito ruído e cheira mal. A carroçaria, feita de pasta de algodão, resíduos diversos e resina (Duroplast) está convenientemente pintada de um azul claro celestial que combina com o magnífico amarelo dos estofos. O funcionamento do sistema de embraiagem é opcional, pode funcionar normalmente por pedal ou então através do manípulo das mudanças, o condutor define a sua preferência. Um dia, talvez se torne objecto de colecção reconhecido.
Uma BMW K1100 LT é um motociclo dos anos 90, portanto um objecto com rodas, só duas. Será um tanto ao quanto abusivo considerar este modelo como um “clássico” mas certamente é reconhecido como uma referência no género, um padrão de qualidade, durabilidade e fiabilidade. Ou seja a K1100 LT é “a mota”. O rádio incorporado, o isqueiro, o manómetro com informação sobre o depósito de combustível, as tomadas eléctricas, o indicador da velocidade engrenada na caixa, bem como o pára-brisas basculante são alguns pormenores de uma máquina equipada com tecnologia tipicamente alemã, como é o caso do ABS Bosch e da transmissão por veio. Um dia, talvez se torne objecto de admiração maior.
Um BMW 325Ci Cabrio é coisa recente, bela de ver, quase perfeita no ser. São quase 200 Cv de potência regulados por uma caixa de velocidades de funcionamento automático com opção desportiva ou manual, um exterior de cor púrpura e um interior beige. O poderoso sistema de som harman/kardon é integrado em consola onde o painel de instrumentos e funções (tradicionalmente básico) está virado para o condutor. Apesar de ter muita “pinta”, nunca será objecto de colecção e a admiração que colhe é demasiado fútil e efémera.
Arthur Schopenhauer diz em Aforismos para a Sabedoria de Vida:
“É difícil, senão impossível, determinar os limites dos nossos desejos razoáveis em relação à posse. Pois o con­tentamento de cada pessoa, a esse respeito, não repousa numa quantidade absoluta, mas meramente relativa, a sa­ber, na relação entre as suas pretensões e a sua posse. Por isso, esta última, considerada nela mesma, é tão vazia de sen­tido quanto o numerador de uma fração sem denomina­dor. Um homem que nunca alimentou a aspiração a cer­tos bens, não sente de modo algum a sua falta e está com­pletamente satisfeito sem eles; enquanto um outro, que possui cem vezes mais do que o primeiro, sente-se infe­liz, porque lhe falta uma só coisa à qual aspira.”

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Estereograma (3)

Não se trata de uma dupla de Mothman dos avistamentos sobrenaturais de Charleston, tampouco são fadas Sininho do mundo fabuloso de Peter Pan. Não fossem apenas essas inquestionáveis figuras humanóides e seriam seguramente classificados como insectos da ordem Lepidoptera, agentes polinizadores da maior importância logo após findado o processo quase taumatológico da metamorfose que, indubitavelmente, acontece dentro de uma crisálida.
Ao fixar o olhar num ponto de “infinito” é possível descobrir as imagens tridimensionais deste estereograma.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Quer pouco: terás tudo. Quer nada: serás livre.

e “Não só quem nos odeia ou nos inveja nos limita e oprime; quem nos ama não menos nos limita.” é Ricardo Reis em Odes, expressando a sua angústia e sofrimento na eterna busca da felicidade, numa apatia a tudo o que é externo ao ser e sempre acreditado de que o homem sábio vive de acordo com as leis racionais da natureza e é apenas uma peça na grande ordem e propósito do universo.
Pertencendo à mesma Geração d’Orpheu, Mário de Sá Carneiro, ao estilo modernista e perdido num “labirinto de si próprio” que aliás ditou o seu fim trágico, escreveu Como eu não possuo (em Dispersão, a sua primeira obra de poesia):
Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.
Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da côr que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!
Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo p'ra ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lôdo.
Não sou amigo de ninguém.
P'ra o ser forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...
Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...
Embora com menor interesse em termos literários, mas não deixando de ser um ensinamento sobre a constância de nos equivocarmos repetidamente na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e consequentemente fazermos julgamentos que nos levam à solidão por fustração da posse, é oportuno citar um parágrafo da obra Citadelle publicada em 1948, de Antoine de Saint Exupery:
"Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. Por eu amar a Deus, meto-me a pé pela estrada fora, coxeando penosamente para o levar aos outros homens. E não reduzo o meu Deus à escravatura. E sou alimentado com o que ele dá a outros. Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca."
Imagens apresentadas: Noite estrelada de Vincent van Gogh (1889), exposto no Museu de Arte Moderna (New York) e La Venus del espejo de Diego Velázquez (1483) exposto no National Gallery (London).

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Zichy Mihály

Mihály Von Zichy nasceu a 15 de Outubro de 1827 em Zala, no Sudoeste da Hungria mas aos dezassete anos de idade encontrava-se em Viena junto de Ferdinand Georg Waldmüller, um grande mestre da pintura romântica austríaca.
Entre diversas obras do mesmo género, tornou-se bastante fomoso o retrato oficial de Lajos Batthyány (primeiro ministro do governo revolucionário húngaro de 1849) que é de sua autoria.
A representação do salvamento a um náufrago, uma das primeiras obras realizadas por Zichy é bastante interessante em termos de equilíbrio de cor e movimento, apesar do seu sentido obviamente religioso, onde o drama é substituído pela esperança e coisas da fé cristã. Esta imagem apresenta o jovem, o idoso, a mãe, o bebé, a esposa e o marido, o solteiro e o casto, é bastante completa.
Também se tornaram conhecidas muitas pinturas a óleo e alguns dos seus trabalhos a lápis ou aguarelas, principalmente as que foram produzidas enquanto pintor ao serviço da corte russa. Em S. Petersburgo representou recepções diplomáticas, ocasiões comemorativas, cenas de teatro e concertos, bailes e cerimónias, visitas oficiais a diversos locais, reuniões e outras actividades da família real, também motivos militares e a própria coroação do Czar Aleksander II, retratos diversos das imperatrizes Fiodorovna e Maria Alexandrovna e outros familiares da casa.
A pintura de 1878 A rombolás géniuszának diadala (O triunfo do génio da destruição), preparada para apresentação na Exposição de Paris é uma obra magnífica, com um conjunto explícito de mensagens e significados de subjectiva interpretação (na altura as autoridades francesas acabaram por excluir a exibição desta pintura na exposição por considerarem uma interpretação demasiadamente antimilitarista e com afectação política).
A forma humana é realçada em quase todas as suas obras, sendo que alguns desenhos são apenas belos estudos das formas do corpo e não propriamente produções artísticas.
O trabalho de ilustração foi uma das tarefas onde o autor, excluídos os anos de serviço na Rússia e temporadas em Paris, dedicou mais tempo de actividade (a contar pela quantidade produzida de desenhos) participando em diversas edições conhecidas da literatura húngara. A título de exemplo, são da sua autoria as ilustrações de Az ember tragédiája (A tragédia do homem) de Imre Madách em 1887 e a maioria das baladas de János Arány escritas entre 1894 e 1898.
Todavia são os desenhos eróticos de Zichy aqueles que mais despertam a atenção de todos.
O autor explora as formas humanas numa experimentação extremamente despudorada com a representação explícita de actividades sexuais, coisa que para a época seria um tanto ao quanto arrojado, pelo que provavelmente a maioria destas obras nunca atingiram o estatuto de publicáveis.
Embora seja desconhecida a quantidade real de desenhos existentes neste género, a totalidade daqueles que se reconhecem pertencentes ao mesmo autor revelam uma tendência para a representação de relacionamentos e actividades heterossexuais, seja por cópula, masturbação, felação ou cunnilingus.
Alguns desenhos parecem mostrar que um dos intervenientes é o próprio artista, quando a figura masculina é apresentada a segurar utensílios de pintura ou similares.
Ou simplesmente o espaço onde se dedica a oferecer prazer ao elemento feminino é o escritório de um artista ou desenhador ilustrador, identificando seguramente em fantasia o autor com o caso (embora não sejam identificadas traços faciais de ambos os elementos de modo a estabelecer relações efectivas entre objectos e protagonistas dos motivos desenhados).
O que afinal temos como certo é o facto de estas imagens hoje terem valor museológico, são apreciadas por todas as idades como peças de valor artístico e pretendem no mesmo âmbito ser prova de que o ser humano se repete desde a sua existência.
A actualidade dos desenhos eróticos é explicada pela intemporalidade das múltiplas expressões físicas do amor que o ser humano sempre foi capaz de inventar.
Na primavera deste ano aconteceu em Budapest uma exposição (na sala das mostras temporárias da Magyar Nemzeti Galéria) das obras de Mihály Zichy pertencentes ao museu Hermitage de S. Petersburgo. Pois afinal aquilo eram fotocópias ou fotografias das obras e não os originais, coisa indecente (por parte de quem emprestou e também de quem aceitou emprestado) porque é obviamente desinteressante apreciar arte desse modo. Qualquer um pode aceder ao site do museu russo por internet e vizualizar tudo no computador, copiar e imprimir sem ter que pagar bilhete de visita.
Mihály Zichy morreu em S. Petersburgo a 28 de Fevereiro de 1906.

sábado, 15 de novembro de 2008

A liberdade de expressão do séc. XVII

Miguel de Cervantes Saavedra foi um novelista, poeta e dramaturgo espanhol, nascido a 29 Setembro de 1547 em Alcalá de Henares e falecido a 22 de Abril de 1616 em Madrid.
Cervantes é considerado como a figura máxima da literatura espanhola e uma das figuras maiores da literatura universal, principalmente devido à sua obra Don Quijote de la Mancha, considerada ser a primeira novela moderna.
Mas para além da novela referida, o escritor produziu uma obra literária muito vasta e diversa que inclui peças de teatro, poesia, romance e muitas outras novelas.
Entre a publicação da primeira e da segunda parte da novela Don Quijote de la Mancha (em 1605 foi publicado El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha e somente em 1615 El ingenioso caballero Don Quijote de la Mancha) foi editada, em 1613 a obra Novelas ejemplares de honestísimo entretenimiento.
Novelas ejemplares é um conjunto de belas narrativas com propósitos morais, sociais e estéticos, onde o autor explora distintas fórmulas e mostra-se épico, lírico, trágico e cómico.
A maior narração das Novelas ejemplares, é La Gitanilla. Diz assim o primeiro parágrafo:
"Parece que los gitanos y gitanas solamente nacieron en el mundo para ser ladrones: nacen de padres ladrones, críanse con ladrones, estudian para ladrones y, finalmente, salen con ser ladrones corrientes y molientes a todo ruedo, y las ganas del hurtar y el hurtar son en ellos como accidentes inseparables, que no se quitan sino con la muerte."
Miguel de Cervantes tinha no início do séc. XVII uma liberdade de expressão distinta da que hoje existe. Não era maior e tampouco menor, era simplesmente diferente.
A imagem apresentada é um conjunto de esculturas com motivos baseados nas obras de Cervantes, pertencentes ao monumento edificado na Plaza de España em Madrid, trabalhos de Coullaut-Valera.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Fado do estudante

O Fado do Estudante é cantado em A Canção de Lisboa de Cottineli Telmo, primeiro filme sonoro português, realizado em 1933:
Que negra sina ver-me assim

Que sorte e vil degradante

Ai que saudades eu sinto em mim

Do meu viver de estudante

Nesse fugaz tempo de amor

Que de um rapaz é o melhor

Era um audaz conquistador das raparigas

De capa ao ar cabeça ao léu

Sem me ralar vivia eu

A vadiar e tudo o mais eram cantigas

Nenhuma delas me prendeu

Deixá-las eu era canja

Até ao dia que apareceu

Essa traidora de franja

Sempre a tinir sem um tostão

Batina a abrir por um rasgão

Botas a rir num bengalão e ar descarado

A malandrar com outros tais

E a dançar para os arraiais

Para namorar beber folgar cantar o fado

Recordo agora com saudade

Os calhamaços que eu lia

Os professores da faculdade

E a mesa da anatomia

Invoco em mim recordações

Que não têm fim dessas lições

Frente ao jardim do velho Campo de Santana

Aulas que eu dava se eu estudasse

Onde ainda estava nessa classe

A que eu faltava sete dias por semana

O fado é toda a minha fé

Embala encanta e inebria

Dá gosto à gente ouvi-lo até

Na radio-telefonia

Quando é cantado e a rigor

Bem afinado e com fulgor

É belo o fado ninguém há que lhe resista

É a canção mais popular toda a emoção faz-nos vibrar

Eis a razão de eu ser doutor e ser fadista
A cena do filme A canção de Lisboa onde Vasco Santana canta o Fado do Estudante está disponível de seguida em vídeo. Antes de activar essa função será oportuno desligar primeiro a música de Chopin no leitor áudio da barra lateral de modo a evitar sobreposição sonora

Fado do Estudante (vídeo)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Szinyei Merse

Pál Szinyei Merse foi um pintor e político húngaro. Apesar do seu importante contributo como deputado eleito do parlamento, onde destacou a importância do investimento público na modernização e actualização do sistema educativo artístico, Szinyei Merse tornou-se realmente famoso pela pintura impressionista, onde o amor e as planícies da Hungria são temas principais.
No corpo central do palácio real de Budapeste encontramos a Magyar Nemzeti Galéria (Galeria Nacional Húngara), e ali estão expostas algumas das mais belas pinturas de Szinyei Merse.
É difícil de evitar fixar o olhar para a Lilaruhás nő (mulher de vestido lilás) de 1874, não somente pela posição na sala, mas porque a vivacidade da cor predominante é absolutamente inacreditável.
A representação de uma família no campo a merendar (Majális, de 1873) é uma obra bastante popular e apresentada numa perspectiva algo incomum. A sua popularidade deve-se também ao facto de pertencer ao programa do ensino básico, mencionada como importante exemplo do impressionismo.
Mas a beleza do Szerelmespár (par de namorados), uma pintura de 1870 traz-nos uma sensação de paz, mostra-nos que existe uma realidade pura e bela no dominio eterno do amor, superior à paixão irracional.
O céu e a beleza das formas criadas pelas nuvens e movimentadas pelo vento aparece com um contraste realmente raro e até estranho nas obras deste artista, uma mulher expondo a nudez. Apesar dessa excepção, este tipo de representação, onde um motivo da natureza aparece como predominante na tela demonstrando porém a dimensão e importância do ser humano relativamente à mesma, é uma constante.
Os campos de papoilas são um exemplo dessa proximidade, num vermelho tão vivo que oferece à natureza um lugar maior do que o espaço ocupado, uma força e um poder.
Infelizmente esta obra encontra-se exposta num corredor de saída, mal iluminado e junto de portas de serviço e instalações sanitárias, o que é absolutamente lamentável porque impede o visitante de apreciar a uma distância maior do que dois passos de recuo.
Szinyei Merse nasceu a 4 de Julho de 1845 e faleceu a 2 de Fevereiro de 1920. Quatro meses e dois dias após a sua morte, por via das condições do Tratado de Trianon, a sua terra natal (Szinyeújfalu) deixou de ser uma província húngara e passou a fazer parte da Checoslováquia, hoje Eslováquia.
Em 1873 ganhou uma medalha na Exposição Universal de Viena e em 1900 conquistou uma outra medalha na Exposição Universal de Paris.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sabedoria árabe do séc XVIII

Al-Sayed Haroun Ibn Hussein Al-Makhzoumi foi um médico árabe, nascido no Iémen mas que exerceu a sua profissão em diversas lugares, desde a Arábia até Al Andalus, na península Ibérica. A especialidade não aparece revelada nos seus escritos mas o teor dos mesmos indica algo a ver com urologia ou ginecologia, provavelmente dava consultas sobre sexologia e planeamento familiar. Nasceu no séc. XVII mas escreveu com muita objectividade e clareza sobre as artes da cópula, descreveu as diversas formas e aspectos possíveis de orgãos sexuais, estudou a relação directa existente entre as diferentes características físicas de centenas de homens e mulheres e os diferentes tipos de orgasmo experimentados e por fim deixou registadas as suas observações de sabedoria árabe à data de 1725, relativamente à natureza sexual do homem e da mulher:
“A mulher é irresistivelmente atraída pelo homem forte, corajoso e viril, pois nos seus braços encontra o seu abrigo de gratificação e de segurança física.
A mulher não necessita, nem tem compaixão pelo homem fraco, e olha para ele com aversão e desprezo, pois nele vê reflectida a sua própria fragilidade. Se o destino a coloca junto de um homem fraco, sente-se muito perturbada, já que isso significa insegurança e possível perigo para ela e para os seus filhos. Dele não pode obter conforto, e segurança, nem para o corpo, nem para o espírito. Torna-se fria e apática e pode lançar-lhe todo o tipo de censuras, para castigá-lo pela fraqueza que a torna infeliz.
A mulher satisfeita é uma criatura deliciosamente doce. É um deleite para os olhos, o corpo e o espírito do homem, que terá através dela um vislumbre do Paraíso. A mulher insatisfeita é uma criatura terrível, pois na sua insatisfação ela perde tudo, e a sua vida torna-se tão desolada quanto o grande Sahara, e o seu espírito tão negro quanto a noite eterna. A arma suprema do homem é a sua mente; a arma suprema da mulher é o seu corpo.
Alá disse acerca das mulheres: "É grande a astúcia delas". Há nisso muita sabedoria e significado. As mulheres são astutas porque são fracas e dependentes, visto que a astúcia é basicamente um traço dos fracos. É também um traço do homem fraco. Se a mulher for protegida e amada como deve ser, não precisará de ser astuta, mas será doce como uma criança.
As mulheres são como as crianças: são o que delas se fizer. Mime-as, e colherá tormentos. Trate-as mal, e colherá a ira de Alá. Dê-lhes o seu amor e a sua atenção, e desabrocharão como lindas flores.
As mulheres são na sua essência, criaturas de prazeres sensuais. Para elas, nada mais importa; satisfaça os seus desejos e gratifique os seus corpos e elas fecharão os olhos a todas as suas transgressões e se tornarão nas suas alegres e bem dispostas escravas.
Quando uma mulher deseja um homem e rejeita todos os demais, diz-se que ela está apaixonada por ele. Ela não consegue ter prazer com outros.
Quando um homem está apaixonado por uma mulher, tern com ela o maior prazer, mas pode ter prazer com outras.
Há homens que amam certas mulheres desesperadamente, à exclusão de todas as demais, e são fiéis a elas. Isso não é normal, e tais homens são carentes de masculinidade.
A mulher gosta de estar sempre com o homem que ama e de passar todo o seu tempo com ele, em todas as circunstâncias e condições.
Para agradar a um homem, louve-lhe a mente. Para agradar a uma mulher, louve-lhe a sua beleza e os seus encantos.
O casamento é tudo para a mulher, preenche quase toda a sua vida e ocupação. O casamento é apenas um episódio na vida do homem.
A existência da mulher em sociedade fora do casamento nao pode ser justificada. Seria como uma árvore inútil que não dá frutos.
A existência do homem em sociedade só é jus­tificada pelas suas realizações intelectuais.
Os homens não devem lutar por causa de mulheres, pois assim serão iguais aos animais.
Uma mulher que espalha propositadamente a discórdia entre os homens usando o seu próprio corpo como isca é maléfica, e deve ser isolada do convívio com os homens.
Demonstre grande compaixão pela adúltera, pois é mais provável que você mesmo a tenha levado a esse caminho pela sua insensibilidade. No entanto, não deverá perdoá-la e aceitá-la de volta na sua cama, mas sim devolvê-la aos seus, ou vendê-la, se for sua escrava.
Nao copule com a mulher que tiver perdido a cabeça. Ela não entenderá verdadeiramente o que lhe fizer, mesmo estando com a vagina húmida. Copular com ela será como montar um animal estúpido.
Pode acontecer que sua vagina prenda o pénis do homem como a da cadela prende o do cão. Em tal situação, faça-a perder a consciência golpeando-lhe a cabeca com um porrete acolchoado, pois somente assim a vagina dela soltará a presa.
Não copule com uma mulher idiota, pois os seus filhos serão como ela.
Não copule com a mulher que chegou à menopausa, pois ela é como uma videira retorcida que já não dá frutos. A sua vagina é seca e irritante, os seus seios estão caídos e enrugados, e o sabor da sua saliva é azedo.
A mais doce das mulheres pode ser transformada numa mulher cínica pelo hornem que a excita mas não a satisfaz. Para domá-la e levá-la de volta à doçura, ele precisa copular com ela e dar-lhe prazer, para que mude imediatamente, como a noite se transforma em dia.
Nunca castigue uma mulher que lhe desobedece afastando-se dela na cópula. Será mais piedoso espancá-la. Tome cuidado, porém, pois há mulheres que têm um prazer intenso e voluptuoso quando são espancadas, e o objectivo do castigo perde o sentido. Ao espancar uma mulher, nunca a golpeie nos seios ou no ventre. É melhor colocá-la sobre os joelhos e espancar-lhe firmemente as nádegas. Assim como as crianças, embora de facto cause dor, o espancamento é apreciado pela mulher, por significar que você se preocupou com ela o bastante para gastar o seu tempo disciplinando-a. Depois, é bastante aconselhável copular com elas, para mostrar que tudo está bem, e convém que seja ainda mais terno e hábil do que é hábito; a sua recompensa será grande na apaixonada reacção da mulher, pois ela também terá como objectivo agraciar-lhe mais do que o normal.”
Em: Fountains of pleasure, tradução de árabe para inglês efectuada por Hatem El-Khalidi (não tendo sido editado na língua original).
Desenhos de Mihály Von Zichy, pintor ilustrador húngaro do séc. XIX.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Alaska

O Alaska é desde 1959, por decisão do Congress e por declaração de Eisenhower, o 49º estado dos Estados Unidos da América. Com 1.717.854 km2, é o maior em área embora tenha a menor densidade populacional (relação aproximada de 2,5 km2 por pessoa, tendo em conta os cerca de 680 mil habitantes). A maior parte dessa população vive na região litoral sul do estado, onde o clima é menos rigoroso.
Tal como o Hawaii, o Alaska não faz fronteira com os restantes 48 estados continentais. A leste faz fronteira com as províncias Yukon e British Columbia do Canadá e a ocidente com a Rússia através do Estreito de Bering. A norte confina com o Oceano Ártico e a sul com o Mar de Bering.
O Alaska foi comprado ao Império Russo em 1867 por 7,2 milhões de dólares após breve negociação entre o Embaixador Edouard Stoeckl e o Secretário de Estado William Henry Seward.
O Czar Aleksandr II tomou a decisão de alienar o território por duas razões fundamentais: O Império Russo precisava recuperar financeiramente após o esforço na Guerra da Criméia e por outro lado a fronteira com o Canadá era na verdade uma fronteira com o Império Britânico, de quem se esperava conflito.
O Presidente Andrew Johnson optou pela compra do território por outras razões também relevantes: O povo americano retribuía assim o apoio prestado pelos russos durante a recente Guerra de Secessão (ajudar financeiramente os russos, por consequência seria uma afronta assumida aos britânicos) e por outro lado a perspectiva de revender o produto comprado (eventualmente aos próprios britânicos) posteriormente e por maior preço.
Foi considerado um território pouco interessante pela administração federal até à descoberta de grandes reservas de ouro, já no final do século XIX, que levou a uma corrente migratória excepcional, resultante de uma “corrida” que veio a terminar no início do século XX.
O nome Alaska vem de Alyeska, que significa “grande terra” em aleúte, idioma esquimo-aleutiano, ainda falado no território.
O sentido de propriedade dos Estados Unidos da América sobre a região era exactamente o mesmo que alguns anos antes os europeus tinham sobre os territórios a que chamavam de colónias, isto é, desconsiderando os direitos dos povos que ali habitavam há milhares de anos. Os esquimós foram expropriados e descriminados durante muitos anos (em 1971 foram criadas reservas aborígenes para os nativos indígenas). Somente em 1988 o inglês passou a ser a língua oficial do Alaska.

Desde 1980 que não é cobrado qualquer imposto sobre rendimentos aos habitantes e tampouco existem impostos de valor acrescentado sobre produtos comercializados, porque a receita do orçamento estadual provém do Alaska Permanent Fund, uma poupança formada essencialmente de impostos sobre a extracção de petróleo e de outros minérios, royalties de 25%.

A prosperidade económica do Alaska e o crescimento demográfico extraordinário é precisamente devido à descoberta da maior reserva americana de petróleo, em 1968.

Geográficamente, o Alaska divide-se em quatro regiões: A Cadeia Montanhosa do Pacífico no sul litoral, as Planícies e Planaltos Centrais, as Montanhas Rochosas do norte e as Planícies do Oceano Ártico, no extremo norte.

Na Cadeia Montanhosa do Pacífico existe uma actividade geológica importante (onde se encontram vulcões activos) em contraste com os milhares de glaciares num tipo de solo classificado como Permafrost.

O Permafrost, tal como o nome indica, é o estado de congelação permanente da terra, água e rochas, normalmente coberta por neve. Quando a neve de cobertura derrete, a superfície trasforma-se em lamas ou pântanos lodosos, tendo em conta que o solo permanentemente congelado impede a infiltração e absorção das águas. Para além de factores climáticos adversos (temperaturas do ar muito baixas, por exemplo), esta é uma das razões que impedem o estabelecimento de edificações e construções humanas definitivas na maior parte do território.

O Permafrost é um solo congelado há milhares de anos.

O clima do Alaska é caracterizado por Invernos longos e frios com noites também longas e por Verões amenos e curtos, com dias longos. O norte tem um clima Polar com temperaturas médias a oscilar entre os -24ºC no Inverno e os 8ºC no Verão, apesar de mínimas que atingem os -50ºC. O centro e sul é de clima Temperado embora contando sempre com médias negativas nas temperaturas de Inverno.

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