quinta-feira, 11 de junho de 2009

Palácio e Convento de Mafra

Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.

O edifício foi mandado construir por D. João V na primeira metade do séc. XVIII, composto por um Paço Real, uma Basílica, um Convento Franciscano e uma grande Biblioteca.

João Frederico Ludovice, um ourives alemão mas com formação de arquitectura em Itália foi o projectista do mais belo e significativo monumento barroco em Portugal, inspirado na Roma papal mas com influência berniniana e elementos borrominianos.

“Medita D. João V no que fará a tão grandes somas de dinheiro, a tão extrema riqueza, medita hoje e ontem meditou, e sempre conclui que a alma há-de ser a primeira consideração, por todos os meios devemos preservá-la, sobretudo quando a podem consolar tambem os confortos da terra e do corpo. Vá pois ao frade e à freira o necessário, vá tambem o supérfluo, porque o frade me põe em primeiro lugar nas suas orações, porque a freira me aconchega a dobra do lençol e outras partes, e a Roma, se com bom dinheiro Ihe pagámos para ter o Santo Ofício, vá mais quanto ela pedir por menos cruentas benfeitorias, a troco de embaixadas e presentes, e se desta pobre terra de analfabetos, de rústicos, de toscos artífices não se podem esperar supremas artes e ofícios, encomendem-se à Europa, para o meu convento de Mafra, pagando-se, com o ouro das minhas minas e mais fazendas, os recheios e ornamentos, que deixarão, como dira o frade historiador, ricos os artífices de lá, e a nós, vendo-os, aos ornamentos e recheios, admirados. De Portugal nao se requeira mais que pedra, tijolo e lenha para queimar, e homens para a força bruta, ciência pouca. Se o arquitecto é alemão, se italianos sao os mestres dos carpinteiros e dos alvenéus e canteiros, se negociantes ingleses, franceses, holandeses e outras reses todos os dias nos vendem e nos compram, está muito certo que venham de Roma, de Veneza, de Milão e de Génova, e de Liège, e da França, e da Holanda, os sinos e os carrilhões, e os candeeiros, as lâmpadas, os castiçais, os tocheiros de bronze, e os cálices, as custódias de prata sobredourada, os sacrários, e as estátuas dos santos de que el-rei é mais devoto, e os paramentos dos altares, os frontais, as dalmaticas, as planetas, os pluviais, os cordões, os dosseis, os pálios, as alvas de peregrinas, as rendas, e três mil pranclias de pau de nogueira para os caixões da sacristia e cadeiral do coro, por ser madeira muito estimada para esse fim por S. Carlos Borromeu, e dos paises do Norte navios inteiros carregados de tabuado para os andaimes, telheiros e casas de acomodação, e cordas e amarras para os cabrestantes e roldanas, e do Brasil pranchas de angelim, incontáveis, para as portas e janelas do convento, para o solho das celas, dormitórios, refeitório e mais dependências, incluindo as grades dos espulgadoiros, por ser incorrompível madeira, não como este rachante pinho português, que só serve para ferver as panelas e sentar-se nele gente de pouco peso e aliviada de algibeiras. Desde que na vila de Mafra, já lá vão oito anos, foi lançada a primeira pedra da basílica, essa de Pêro Pinheiro gragas a Deus, tudo quanto é Europa vira consoladamente a lembrança para nós, para o dinheiro que receberam adiantado, muito mais para o que há-de cobrar no termo de cada prazo e na obra acabada, ele e os ourives do ouro e da prata, ele e os fundidores dos sinos, ele e os escultores de estátuas e relevos, ele e os tecelões, ele e as rendeiras e bordadeiras, ele e os relojoeiros, ele e os entalhadores, ele e os pintores, ele e os cordoeiros, ele e os serradores e madeireiros, ele e os passamaneiros, ele e os lavrantes do couro, ele e os tapeceiros, ele e os carrilhadores, ele e os armadores de navios...” In Memorial do Convento, de José Saramago.

D. João VI foi o único rei que habitou permanentemente o Palácio, durante todo o ano de 1807, imediatamente antes da partida da corte para o Brasil. Tendo sido utilizado esporadicamente pelo rei D. Carlos, principalmente por causa da Tapada, foi o seu filho mais novo, D. Manuel II, o último monarca que aqui pernoitou até à partida para o exílio, a 5 de Outubro de 1910.

1 comentário:

Anónimo disse...

este trabalho esta bem feito