sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Reino de Portugal em 1766

Ao serviço do rei Louis XV, Charles François Dumouriez realizou missões de informação e diplomacia paralela. No ano de 1766 esteve em Portugal recolhendo a maior quantidade de informações possíveis sobre as características da sociedade, história, geografia, hábitos e tradições portuguesas:
“O carácter da nação portuguesa é um pouco mais ou menos o mesmo que o dos espanhóis, o mesmo fundo de preguiça e de superstição, o mesmo tipo de coragem, o mesmo orgulho, mas mais educação e falsidade...”
"A miséria é o menor dos males a que os portugueses se deixam condenar voluntariamente, em vez de trabalhar; limitados ao necessário, quase insuficiente, eles deixam-se abater e enredam-se na sujidade, na desolação, na ignorância, na indisposição e na superstição. A sua cobardia negligente leva-os a encontrar doenças e males no mais belo país do mundo, e que seria o mais são e o mais feliz se fosse melhor habitado."
“No meio do país, particularmente em Lisboa, os habitantes são ladrões, avarentos, traidores, brutais, orgulhosos, mal humorados e também maus de corpo como de espírito; encontram-se, contudo, algumas excepções e sobretudo entre a nobreza, que é mais culta do que a nobreza espanhola, mais afável e comunicativa, o que devem ao grande convívio com estrangeiros.”
Os serviços de informação e espionagem prestados por Dumouriez à corte francesa acabaram por ser muito mais úteis (principalmente os de carácter militar e geográfico) a Napoleão Bonaparte para a definição das estratégias nas suas invasões, porquanto eram exaustivas, realistas e bastante claras as suas descrições cartográficas e também coerentes os relatórios sobre as potencialidades económicas das colónias. A importância que os franceses davam às análises de ordem social eram explicadas pelas conclusões genéricas sobre a organização política.
Charles Dumouriez foi leal à coroa durante mais de 30 anos até que se deu a revolução na França e passou a servir com lealdade a República enquanto oficial de carreira multi-facetado. Após duas vitórias militares em campos de batalha a norte do seu país e já dentro da Bélgica, contra os exércitos da Prússia e da Áustria, respectivamente, foi por fim derrotado nos Países baixos. Posteriormente sem ter alcançado apoios para a organização de um golpe de Estado, abandonou a Convenção para se juntar aos inimigos externos num exílio bem remunerado pelo Reino Unido.
Extractos de
État présent du Royaume du Portugal en l'année MDCCLXVI. A imagem apresentada não é propriedade do autor.

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