Cuíto (ou Kuíto como apeteça a quem não se interessa de como se escreve o que se diz) é exemplo da mais lamentável destruição patrimonial - onde a estupidez política e militar soube arrasar uma cidade quase perfeita - na República Popular de Angola.
Uma avenida de separador central “rasga” esta pequena cidade em duas partes, rematada nos topos por uma rotunda e por um largo.
Numa das partes encontramos escolas, institutos, um mosteiro, edifícios governamentais, um pavilhão, hospital, moradias.
Na outra, o mercado, os bancos, o tribunal, os correios, a residência do governador, a igreja, o hotel, a piscina e muito comércio em lojas e armazéns.
Cuíto foi cidade auto-suficiente, tinha de tudo... cafés, restaurantes, padarias, supermercados, cabeleireiros, drogarias, carpintarias, fábrica de discos, outra de tijolos e telhas, campo de futebol, barragem, produção termo-eléctrica, oficinas, parques infantis, jardins, fontanários, aeroporto.
Na rotunda de entrada uma bomba de combustível, descendo a referida avenida central encontramos outras duas.
Frente ao hotel Girão bem como no Jardim central existiam oficinas completas também com combustível.
O centro é um jardim frente a um largo onde se implantaram em simetria majestosa os palácios do governo e assembleia municipal.
Esse jardim é ladeado pela estação de correios e pela igreja.
Uma pequena ponte, por entre calçada e canteiros facilita num modo artístico a travessia pedonal por cima daqueles tanques forrados a azulejos azuis, de altimetria diferenciada de modo a que à agua se movesse em cascata e se renovasse bombada, onde duas esbeltas e desnudas jovens brancas em bronze se precipitavam ao banho.
A capital do Bié, na província ultramarina portuguesa de Angola, chamava-se Silva Porto e não era nada disto que observamos... exceptuando aquelas duas estátuas de uma beleza unica, eróticas portanto, mas representando a felicidade de um povo que ali chegou a acreditar o paraíso.
Neste artigo publicado, somente a primeira, a quinta, a sétima, a oitava e a décima-primeira imagem são propriedade do autor, captadas em 2004
3 comentários:
ja vi o teu comentario, e bom para fazer expriencias, ah , ja viste assino ratatui pois ele e o cozinheiro
Não conheço Angola, mas conheço Moçambique muito bem. Apesar das diferenças a nível económico, social (a personalidade do povo é diferente)e outras, a verdade é que sou capaz de compreender e sentir a angústia de quem vê uma cidade urbanisticamente equilibrada e tão bem conseguida,viva e dinâmica, destruída pela ganância humana e a estúpidez duma guerra.
Fico tão revoltada com isso... Tanto sofrimento, tanta destruição, ignorância, discrepâncias, insegurança... Enfim...
Tenho saudades da minha casa,do meu quarteirão,da minha escola,dos meus amigos.Tenho pena dos que ficaram,dos que perderam os pais,os filhos...,dos que sentiram a guerra e não conseguiram chegar á Paz,dos que passaram pela fome e que também sentem saudades dos que viram partir.Fui feliz.Apesar de ter vindo apenas com 10 anos de idade,sei decor a minha cidade,sei decor o mato que cercava a minha cidade.
Nasceu comigo a liberdade;a do respeito pelos outros,a de não ter preconceitos,a de não pertencer a lado nenhum.
Sou a pessoa mais Rica do mundo porque ainda consigo sentir o cheiro daquela terra,sentir a água do rio que atravessava a pé com os jacarés a olharem para mim e, ainda me lembro do rugido do leão que pensava inventado pelos meus pais.
Sou a Maior pessoa do mundo,tenho a imensidão daquelas planicíes e a grandeza dos inbomdeiros .
É claro que nasci em Silva Porto.
O Mundo é pequeno para caber em Angola.
ISABEL TAVARES
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