A partir de 1941 o 770K passou a ser produzido em versão blindada, com uma carroçaria de 18mm. de espessura em aço revestido a magnésio, pneus maciços, vidros à prova de bala com 40mm. de espessura, circuito elecrto-magnético para bloqueio de portas, radiador em prata e níquel, etc. Nem a inclusão de diversos componentes e adornos em alumínio salvaram o 770K do peso excessivo que lhe baixava a velocidade máxima para 80 Km/h e a necessidade de transportar 300 Litros de gasolina no depósito de modo a manter uma autonomia decente.
Foram produzidas 88 unidades do modelo 770K (W150) Grosser entre 1938 e 1943.
Existem ainda alguns 770K Grosser em museu, outros em colecções particulares. Todos os proprietários reclamam ter pertencido anteriormente a Adolf Hitler, Hermann Goering ou Henrich Himmler. Provavelmente todos têm razão, porque apesar de o Fürher ter possuído duas destas viaturas para uso exclusivo, a verdade é que ele mesmo foi transportado por dezenas de outras diferentes, as que estavam disponíveis no momento e no local onde foram requesitados para deslocações ou desfiles. Por outro lado Goering, na sua paixão imensa pelas tecnologias motorizadas aliadas a uma personalidade excessivamente vaidosa, teve ao seu serviço exclusivo, em diferentes momentos, dezenas de viaturas idênticas.
Em Budapeste, dentro de uma simples fábrica desactivada de Angyalföld, distrito XIII, precisamente na esquina da Tahi utca com a Szent Laszlo utca, existe um 770K Grosser, pertencente a um coleccionador particular e anónimo.
O Rei Boris da Bulgaria, o Imperador Hiroito do Japão, o Rei Zog da Albania, o Rei Farouk do Egipto, o General Franco de Espanha, o Ministro Vidkun Quisling da Noruega, o Almirante Horthy da Hungria, o Kaiser da Alemanha Wilhelm II (no exílio), Benito Mussolini de Itália, Josef Stalin da União Soviética e o Presidente Óscar Carmona de Portugal foram todos proprietários de um Mercedes-Benz 770K. O Professor António Salazar também, embora nunca o tenha utilizado.
Após o atentado a Salazar no Domingo 4 de Julho de 1937, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado encomendou dois veículos blindados Mercedes-Benz 770K W07 Grosser, que chegaram a Lisboa em Abril de 1938.
O Prof. Salazar recusou-se a utilizar a unidade que lhe foi entregue, preferia continuar a utilizar o seu velho Buick (embora viesse a ser substituído por um Chrysler Imperial) porque discordou do elevado preço que o Estado português gastou sem a sua autorização e também porque entendia ser impróprio ser visto no mesmo tipo de veículo que os ditadores alemão e italiano, não somente porque denegria a sua imagem (os verdadeiros fascistas sofrem do problema da vaidade e do ego-centrismo, doença que nunca afectou António Salazar), como também os desprezava intelectualmente.
O Mercedes foi utilizado muito raramente para transportar visitas oficiais ao Palácio de S. Bento até ser vendido em hasta pública, pela direcção-geral da Fazenda. Com apenas 6.000 km em dezassete anos foi arrematado por seis mil escudos por um sucateiro que o revendeu impecável aos Bombeiros Voluntários do Beato e Olivais para ser transformado em ambulância (nunca veio a acontecer), acabando posteriormente no Museu do Caramulo.
Actualmente tem cerca de 13.000 quilómetros, por ter circulado desde 1956 com alguma frequência para conservação da mecânica. Nunca foi restaurado porque a pintura, os cromados e os estofos continuam como novos (os pneus são os de origem), sendo assim o mais perfeito e bem conservado Mercedes-Benz 770K Grosser do mundo.
Somente a imagem da fábrica é propriedade do autor.
3 comentários:
Olá James,
É sempre com enorme prazer que leio os seus "posts".
Assuntos que à primeira vista não são da minha preferência mas que rapidamente me despertam o interesse e a curiosidade.
Gosto sempre de cá vir. Aprendo muita coisa.
Bom fim-de-semana!
Alguem sabe onde está situado o outro mercede-benz do Professor António Salazar? Um está no Museu do Caramulo e o outro?
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