Sim há objectos que pertencem aos sonhos, há os que pertencem à habituação e há os irrelevantes à estima. Há assim os inalienáveis, os que representam algo e os dispensáveis, sejam imóveis, móveis ou miudezas.
Se por um lado as propriedades imobiliárias são realmente grandes razões do coração, as possessões rolantes têm por vezes direito a grande dedicação, enquanto que no imenso mundo das coisas pequenas exibem-se maiores afectos principalmente nas colecções, rochas ou metais raros.
Um Trabant 601 Hycomat é um objecto com rodas da década de 80. O seu motor a dois tempos funciona com irregularidade, faz muito ruído e cheira mal. A carroçaria, feita de pasta de algodão, resíduos diversos e resina (Duroplast) está convenientemente pintada de um azul claro celestial que combina com o magnífico amarelo dos estofos. O funcionamento do sistema de embraiagem é opcional, pode funcionar normalmente por pedal ou então através do manípulo das mudanças, o condutor define a sua preferência. Um dia, talvez se torne objecto de colecção reconhecido.
Uma BMW K1100 LT é um motociclo dos anos 90, portanto um objecto com rodas, só duas. Será um tanto ao quanto abusivo considerar este modelo como um “clássico” mas certamente é reconhecido como uma referência no género, um padrão de qualidade, durabilidade e fiabilidade. Ou seja a K1100 LT é “a mota”. O rádio incorporado, o isqueiro, o manómetro com informação sobre o depósito de combustível, as tomadas eléctricas, o indicador da velocidade engrenada na caixa, bem como o pára-brisas basculante são alguns pormenores de uma máquina equipada com tecnologia tipicamente alemã, como é o caso do ABS Bosch e da transmissão por veio. Um dia, talvez se torne objecto de admiração maior.
Um BMW 325Ci Cabrio é coisa recente, bela de ver, quase perfeita no ser. São quase 200 Cv de potência regulados por uma caixa de velocidades de funcionamento automático com opção desportiva ou manual, um exterior de cor púrpura e um interior beige. O poderoso sistema de som harman/kardon é integrado em consola onde o painel de instrumentos e funções (tradicionalmente básico) está virado para o condutor. Apesar de ter muita “pinta”, nunca será objecto de colecção e a admiração que colhe é demasiado fútil e efémera.
Arthur Schopenhauer diz em Aforismos para a Sabedoria de Vida:
“É difícil, senão impossível, determinar os limites dos nossos desejos razoáveis em relação à posse. Pois o contentamento de cada pessoa, a esse respeito, não repousa numa quantidade absoluta, mas meramente relativa, a saber, na relação entre as suas pretensões e a sua posse. Por isso, esta última, considerada nela mesma, é tão vazia de sentido quanto o numerador de uma fração sem denominador. Um homem que nunca alimentou a aspiração a certos bens, não sente de modo algum a sua falta e está completamente satisfeito sem eles; enquanto um outro, que possui cem vezes mais do que o primeiro, sente-se infeliz, porque lhe falta uma só coisa à qual aspira.”
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
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1 comentário:
e as biclas
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