Por cima do frigorífico instalou finalmente a pequena televisão a preto-e-branco que havia trazido tão cuidadosamente do Porto. Sôfregamente mas à vez, procurou pelas sintonias perfeitas em Uhf, depois insistiu em Vhf e especou sentado, de face apoiada nas mãos en concha e cotovêlos no tampo da mesa. Havia qualquer coisa de errado no manípulo de aumentar o som, interferia com a imagem porque também servia para desligar o aparelho. Ligar e desligar incessantemente aquela caixa de plástico branca da marca Teleton - made in Japan é um vício que já vem dos tempos em que a mesma pertencia à avó. Havia um fascínio especial pelo clarão em forma de cruz e um pontinho branco que demorava a desaparecer no fim e ainda hoje existe. Para além de uma extrema impertinência conseguida por aquele neto, inquiria a avó sobre a brilhante idéia de mudar para os desenhos animados à hora exacta da Eucaristia dominical, ainda havia um hábito curioso de desregular os ponteiros do despertador vermelho da marca Reguladora. A famosa “caneta de cinco bicos” era por vezes uma consequência sentida no corpo por tanta movimentação e corropio em redor da mesa da sala e do aparador decorado com molduras, ou simplesmente por insistir em saltar sem cautelas para o sofá de veludo vermelho escuro, atachado nos bordos em estrutura de madeira, no canto da sala.
domingo, 1 de março de 2009
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2 comentários:
Fiquei contente por saber que ainda existe essa caixinha mágica a preto e brando com esse clarão em forma de cruz e o pontinho que demora a desaparecer... fiquei contente por sabê-la contigo.
Quanto aos ponteiros do despertador(é incrivel como te lembras da marca), esses mantêm-se hoje regulados e lá vão dando as horas, porque a vida não pára e eu ainda lhes dou corda.
Um beijinho
Lembro-me perfeitamente de tudo o que mencionas no texto. As memórias avivam-se no meu subconsciente.
Pena é que podias partilhar este texto no blog da familia. Mas isto sou eu que penso assim.
Paulo
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