sexta-feira, 6 de março de 2009

Murgeira 2/6

Na casa da avó havia uma jarra de vidro transparente mas não translúcida, assim com alguns motivos circulares de fosco, cor parda arrosada. A jarra era feia, como tantos outros objectos que nem sempre tinham um propósito de existir, pelo menos no entendimento daquela alma criança. Havia também uma bilha de barro na cozinha para a água que em outros tempos se bebia, da fonte e nunca do poço, uma bacia branca vidrada e suportada em armação metálica e ao centro uma mesa tosca com umas gavetas onde os talheres se guardavam.
A terra sim era argilosa, ou simplesmente pastosa de enterrar pés e pernas quando chovia, principalmente junto à vedação da escola, espaço que servia para brincar às voltas na roldana de um poço. Nas traseiras da casa a mesma terra dava batatas, couves, talvez feijão verde e tomate, fora as frutas de pomar, umas maçãs pouco belas e não raramente bichosas, pêras e ameixas, das negras e das amarelas. Mais excelente e majestosa do que as restantes árvores, uma figueira junto ao carreiro no contorno da casa e mais outra lá adiante, perto da fonte. Não deviam ser idênticas em espécie pois não davam figos na mesma época. Ao cacto junto à eira, também havia quem chamasse figueira, talvez porque tinha uns frutos a que chamavam figos, mas parecidos eles não eram.

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