László Magyar foi um húngaro que se tornou rei em África. A heráldica da vila de Öttömös, na província de Csongrad, ainda hoje preserva a sua memória embora sejam poucos os húngaros que saibam algo sobre este eminente explorador aventureiro.
A família Magyar foi em determinado período a proprietária das terras de Öttömös, confirmado pela representação de um unicórnio branco em fundo vermelho e por uma coroa com motivos africanos (desenhada a cabeça de um leão e dois dentes de marfim) a par de um curso de água e de uma âncora. László Magyar nasceu em Szombathely a 13 de Novembro de 1818 e morreu provavelmente a 9 de Novembro de 1864 em Benguela, Angola, possivelmente vítima de malária ou de tuberculose. A sua carreira na Marinha Imperial começou em Fiume (O Império Austro-Húngaro tinha acesso ao mar através das províncias que hoje correspondem à Croácia e de alguns territórios litorais que actualmente pertencem à Itália) e daí partiu para a América do sul. Nas florestas amazónicas no Brasil não encontrou quaisquer cidades perdidas, quando decidiu conhecer e cartografar os territórios inexplorados do interior da África Ocidental, Angola.
Aos trinta anos de idade László Magyar estabeleceu relações de confiança com o Rei do Bié, acabando por casar com uma filha sua. A breve morte do sogro concedeu ao húngaro o direito legítimo de sucessão ao trono do reino bieno, por herança tomou posse de um território maior do que o país onde nasceu.
Com a colaboração dos seus súbditos, László Magyar organizou diversas expedições de modo a identificar geograficamente o Reino do Bié e os territórios a norte como ainda registou o posicionamento do rio Congo e do rio Zambeze. A maior parte do tempo, ou seja durante os 17 anos vividos em África, László dedicou-se a estudos etnográficos e à aprendizagem de línguas nativas. Consequentemente sabia falar Quimbundo e provavelmente compreendia os dialectos Umbundo, Ovampo, Lundo e Lovar, para além das seis línguas européias que já conhecia, nomeadamente Português, Castelhano, Italiano, Francês, Alemão (utilizada com alguma frequência em relatórios e mapas que enviava para Viena) e obviamente o Húngaro (a que utilizava na correspondência com a Academia de Ciências).
Apesar de ter formação militar da Marinha e alguns conhecimentos de astronomia, a habilidade de László Magyar em desenho cartográfico era fraca e muito pior era a sua organização documental ou o modo como partilhava as suas descobertas e estudos (as comissões de exploração na América do sul e África eram seguidas atentamente e com interesse pelas Sociedades de Geografia e Academias de Ciências tanto da Áustria como da Hungria). Foram precisamente estas duas falhas (mapas demasiado distorcidos e relatórios recheados de contradições factuais e descrições confusas) que descredibilizaram o explorador na Europa em comparação com outros exploradores comissionados em outras regiões. A correspondência do húngaro era todavia mais interessante para os portugueses do que para os austro-húngaros (assim explicado o facto de existirem primariamente traduções para português de documentos publicados em alemão e húngaro ou interceptados pelos serviços de espionagem, que posteriormente eram traduzidos para inglês e depois para francês).
David Livingstone, António Silva Porto e László Magyar deram importantes contributos para o conhecimento dos europeus sobre África e especificamente sobre a região que hoje se chama de Angola. Enquanto o primeiro era missionário-explorador e o segundo um colonizador-explorador, apenas o explorador-aventureiro ficou esquecido na história de Portugal (e da Hungria). O Reino do Bié foi conquistado na campanha urgente de colonização portuguesa do interior de Angola e o Império Austro-Húngaro praticamente deixou de se interessar pelo estabelecimento de colónias ultramarinas e assim pelos assuntos africanos.
sábado, 21 de março de 2009
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1 comentário:
Como acontece com alguns dos seus artigos, este levou-me a pesquisas cruzadas com memórias. Fiquei com curiosidade em saber se László Magyar teria participado nas expedições – algumas conjuntas - de David Livingstone e Henry Morton Stanley, dois nomes de exploradores que me ficaram do que aprendi nos bancos de escola da História da Bélgica e suas colonizações: Livingstone, que morreu sem ter conseguido atingir o seu objectivo maior, a localização da nascente do Nilo; Stanley, o jornalista americano que descobriu o Congo e graças ao qual o rei Léopold II da Bélgica conseguiu realizar o seu sonho de alargar fronteiras em território africano.
Embora a descoberta e colonização do Congo tenham sido posteriores à morte de László Magyar e não sendo certamente de subestimar ou ignorar a sua presença e acção em África, era de esperar ver o nome dele associado também a Stanley, nomeadamente, às expedições aos rios Congo e Zambeze.
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