Olhou para o relógio de números vermelhos infalíveis e luminosos que a electricidade informava de já passarem duas horas e vinte e oito minutos de um sábado de Novembro, quando decide adormecer.
A noite de sexta-feira tornou-se longa por alguma inquietação ou porventura cúmulo de lazer: Caminhou desde a Szabadság tér até às estátuas de Erkel e Liszt, compositores homónimos, que adornam as escadarias da entrada principal da Operaház na Andrássy út nº 20 a faltarem 30 minutos para o início de umas Bodas de Fígaro de Mozart. O edifício, majestoso tal como qualquer "casa de ópera" digna de uma capital europeia (salvo a excepção ao S. Carlos que a lograda competição ao Scala, tem de infeliz, inequivocamente a localização), tem um estilo de arquitectura neorenascentista com elementos de barroco, construído entre 1875 e 1884 por responsabilidade de Miklós Ybl. A representação dessa ópera (Libretto de Lorenzo da Ponte baseada na obra de Pierre-Augustin de Beaumarchais) esteve um pouco para além das expectativas, que Cherubino ofuscou de talento e voz os nubentes Fígaro e Susanna.
Porém o fascínio do serão terá sido indubitavelmente a mulher de vestido carmim sentada na 13ª fila da plateia, portadora do título de ingresso com número e letra imediatamente posterior ao seu. A sua sensualidade emprestava mais brilho ao dourado da câmara, que o corpo nu dava forma ao hábito num balancear cúmplice a capturar os olhares de coxia e um sorriso jovial que abraçava as invejosas inveteradas das pausas entre actos, ao sabor de Tokaji 5 puttonyos.
Depois, sem mais impudicícia conivente, jantaram juntos num dos espaços do costume, invariavelmente kacsamell (peito de pato), vício que já vem dos tempos em que a cozinha francesa do "Chez-Paris" se tornou a requintada salvação ao enfado dos Tagines e afins.
sábado, 13 de dezembro de 2008
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