sábado, 13 de dezembro de 2008

Hamupipőke, Piroska és a Farkas

Era Janeiro e nevava em Budapeste.
Desde o Hotel Museum da Trefort utca (esquina com a Puskin utca) são apenas três quarteirões de distância até à sopa de cebola.
Entrou no Alcatraz e depositou imediatamente o sobretudo cinzento no guarda-roupa antes de descer as escadas e pedir mesa. Num sábado à noite as reservas eram maiores do que os clientes presentes e apesar desse argumento e após alguma insistência infrutífera abandonou a prisão, subiu e procurou o restaurante mais próximo, uma espécie de pub bávaro mas com menu austríaco do tipo Bécsiszelet vendéglő, coisa de schnitzel para conduto e strudel para sobremesa.
Comeu, pagou e andou mas sentiu o frio em maior dose do que a habitual quando deu conta de não ter o sobretudo, mas somente a ficha metálica com o número prensado do primeiro restaurante.
Uma prisão normalmente é local de pouca sorte, mas o Alcatraz estava animado por música ao vivo e foi precisamente You`re the first, the last, my everything o chamamento afortunado que o levou a adiar a recolha do sobretudo e descer para uma Kilkenny, que é menos amarga que a Guiness e também se pede em pints.
Encostado à barra e ao som do mesmo Barry White deu conta de um isolado par de almas fémeas a terminarem o jantar em mesa ao centro, alheias à sua presença, ao mesmo tempo que uma rapariga vestida assim como um Capuchinho vermelho ou lá o que parecia aquilo, passava por detrás a promover a venda de rosas que transportava em cabaz de vime.
Diz que uma cajadada pode matar até duas coelhas, certo era bastar-lhe uma sempre que viva, encomendou as rosas ao Capuchinho, pré-pagou que nem um Lobo-bom e assistiu regalado à entrega das flores, ajeitando o nó da gravata para salientar alguma compostura ao aceno.
Mal a jovem Capuchinho lhes apontou o doador, retribuiram ambas com sorrisos e não demorou muito para que Just the way you are num ápice o encorajasse a transformar o par em trio, no meio de um full house, apenas uma delas falava inglês e algum francês a mais do húngaro, sentou-se frente à dama que lhe faltava para completar a "sequência".
Passadas umas semanas, essa mesma hercegnő provou diversos tamanhos do vestido de alças, mas foi precisamente o da montra aquele que lhe serviu.

1 comentário:

Dina Pinheiro disse...

querio ler, o livro todo, quando esta prevista a ediçao