Tornou-se Eusébio da Silva Ferreira famoso por artes mais físicas do que espirituais, apenas e o bastante para ser presença imóvel em metal nobre, castanho por inteiro, roupa e botas indistintamente, junto ao estádio do, digamos, glorioso.
Por essas bandas, as de Benfica, era comum ver passar o break de Carlos da Maia, amigo de infância do Silveira Eusébiozinho, em direcção à Porcalhota com um aspecto resplandecente e olhar aceso sob veston de xadrezinho castanho em almofada burguesa. O mesmo Carlos, de barba muito fina, castanha-escura, rente na face a aguçada no queixo, conheceu Maria Eduarda em Lisboa e rapidamente se apaixonou pelo passo soberano de deusa, mulher maravilhosamente bem-feita e de cabelos espessos ondeando ligeiramente sobre a testa, em dois tons, castanho-claro e castanho-escuro. A fazer fé na tradução, pelo mesmo Eça de Queirós, do livro King Solomon's Mines de Henry Haggard, o Capitão John tinha um fato completo de cheviote castanho, com chapéu da mesma fazenda, polainas irrepreensíveis, luvas amarelas de pele de cão, a face escanhoada, monóculo no olho, os dentes postiços rebrilhando em glória, enquanto por África partcipava em caçada de elefante, localmente chamado Uncungunlovo.
Igualmente probiscídeo, mas de origem indiana, Solimão não se livrou de ser conduzido em estafante viagem por Fritz, o cornaca patrício igualmente naturalizado austríaco no exacto e espontâneo momento em que Maximilian II decidiu o baptismo. O paquiderme castanho havia sido ofertado pelo Rei D. João III e Catarina, prima do Arquiduque mas espôsa do primeiro. Os olhos deste rei português eram azuis ou verdes tal como os tinha seu pai, e não castanhos como os da feiosa sua mãe Maria de Aragón y Castilla, filha dos Reyes Católicos de Espanha.
E porque todos os nove filhos legítimos de João, os concebidos por Catarina, morreram antes de o sucederem no trono, foi seu neto D. Sebastião, orfão, tornado rei aos três anos de idade e por tal conhecido como “o desejado”. Castanhas são as roupagens e adornos da armadura do Rei D. Sebastião, segundo a pintura a óleo exposta no Museu de Arte antiga, na Rua das janelas verdes, palácio que pertenceu aos Condes de Alvor, e posteriormente foi adquirido pelo Marquês de Pombal, também este Sebastião. Ora Sebastião José de Carvalho e Melo, após ter desempenhado funções de embaixador em Viena, servindo o Rei D. João V, foi empossado Ministro dos Negócios Estrangeiros pelo recém entronado Rei D. José I, sendo já Primeiro-Ministro no ano em que o dia de Todos os Santos foi trágico para o Reino de Portugal e principalmente para a Lisboa. A reconstrução patrimonial foi portanto uma responsabilidade sua, razão pela qual alguns lugares e objectos são conhecidos pelo seu próprio nome, como é o caso de um certo tipo de azulejo. O Azulejo Pombalino é caracterizado principalmente pela policromia (o azulejo deixa de ser somente azul e passa a exibir naturalmente outros tons, principalmente o amarelo, o verde e o castanho) e também por padrões de repetição simples de modo a revestir intensamente fachadas e decorar espaços públicos de menor nobreza. Por outro lado e ainda a propósito, no dia onde a memória de mártires é tipicamente celebrada com castanhas assadas, antes mesmo do Magusto, é também tradicional as crianças saírem à rua em pequenos grupos para pedirem o “Pão por Deus” às portas enquanto proferem versos populares ou simplesmente repetem palavras amáveis. Em troca recebem rebuçados, biscoitos, bolachas, broas, bolos, nozes, avelâs, amêndoas e castanhas, embora seja provável preferirem chocolates, que embora sejam feitos com manteigas e leite, são castanhos por causa do cacau.
Para além disto tudo, ainda há as luvas de László, que por lógicas diversas do acaso, definitivamente não são pretas!
Esclarecimento: Artigo dedicado por James Stuart a “quem sabe alguma coisa acerca de algo” e por tal capaz de entender o que lê para além das simples palavras. Para os restantes, há as fotografias.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
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